30/08/05

Vou Mapor numa Porca – Porcão

Sirva este texto para dizer de minha injustiça a propósito do Tapor.

Ele-mesmo.

Em tempos, havia o telefone de casa da Mãe, que era uma rodela de números e servia para se mandar chamar o colega do liceu.

De repente, veio a internet com as cartas electrónicas.

Depois, nasceu o porco que sapõe em si mesmo.

Para moi, trata-se de um (raro) espaço de verdadeira liberdade expressiva.

Não um pós-expressionismo, mas, digamos, um expressionismo com uns pós.

Claro, é uma coisa aberta, tipo Sharon Stone (pronto, pronto, rapada, rapar prémios e outros requeijões de algo gabarito lácteo-humorístico).

Modos que as pessoas do Tapor não são pessoas na comum acepção da palavrinha. São mais bolos pseudónimos, vozes que do éter remoto consubstanciam sarcasmos, amarguras, piadolas, observações etc..

Aparece gente. E não só gente. Até mulheres aparecem: Gotikas, Didas e quejandas. Isto para grande uga-uga do Grão, a quem o universo fêmeo extraconjugal sempre (a)pareceu como eu-querer-queria-e-até-lá-ia-se-não-fora-a-patente-ilegalidade.

Eu não. Eu a níbel de gajas é tudo em termos físico-atléticos e com grande cultura táctica direitinho ao último terço de terreno. Sim, o Gabriel Alves é um dos meus cona-clastas.

De liberdade falei. Continuo a.

Queria-se dizer pertantos que a gente pode e deve dizer aqui o vai-pó-caralho que não consegue dizer na repartição de finanças. Podemos dizer: foda-se não, vá-se foder, por causa do seu cu tenho eu a pica a arder.

Tão a e’ceber?

Tudo é bem-vindo. Não há ofensas. Quanto mais cocó falado, menos merda a sério.

Deixa-se, por exemplo, brincar a gaiata às ortografias. Coitadita: que mal tem coçar a rateca com uma cedilha? Se um gajo se sentir grão, isto, melindrado, arresponde tipo assim: olhe, fáxavor de saber que sus pintelhos fossem estalactites a cona da sua mãe era mais turística que as grutas de miradaire.

E pronto. Agora, vou mapor. Fodei-vos bem uns aos outros e contai comigo: eu vou atrás que sou coxo.

23/08/05

O Boné, por Cão



Olá.

Esta foto, tirou-ma um sobrinho.

Não gosto dela: é uma boa foto.

Mostra-me o que e como sou: portador de dentes torrados pelo abuso do tabaco, o olhar de cão pedinte, o sorriso espúrio de vendedor de ar não condicionado, a roupagem vulgar, o boné da filha, o aspecto de vivo por empréstimo.

Para que está aqui a merda da foto?

Para chatear.

Não tem, o fotografado, qualquer importância.

É pó, cinza será.

Para chatear?

Sim.

Primeiro, para me chatear.

Segundo, para chatear os decerto se chatearão com o alusivo ferrão.

Tudo isto, claro, a propósito de uma outra foto daqui censurada.

Eu conto:

Era o dia 12 de Julho de 1987.

Estupidamente, casava-me eu nesse dia contra uma rapariga com tanto de teimosa (em casar) como de pré-divorciada (olarilas, assim foi).

Convidei pouquíssima gente.

O dinheiro para o “banquete” não dava para mais.

(E mesmo que desse, que se fodam a memória, o casamento e a fotografia…)

Esse ano 1987 foi-se.

Esse 12 de Julho foi-se.

Ficaram os amigos.

Também fui aos casamentos deles, em cujos fiz o desfavor de me portar como um imbecil.

Num, meti-me nos copos e com a namorada de um amigo.

Noutro, atirei um gato à piscina e mijei numa cómoda.

Atitudes que já prenunciavam o excelente aspecto físico, higiénico, moral e ontológico que a fotografia acima demonstra à saciedade.

Entretanto, dediquei-me aos papéis.

Escrevo, leio, revisiono, entendo, não entendo, aborreço-me, exulto.

E vou à internet.

No meu balogue, vou bolçando quase diariamente toda uma colecção de cromos e inconsequências tão inúteis como inócuos.

No Tapor, boto hoje a minha foto.

Viva o União de Coimbra!

Viva Daguerre!

Viva Bill Gates!

Viva o Lápis-Lazúli da Censura à la Grã-Nefertiti!

Viva a Maluqueira!

Viva o boné da minha filha!

Devastação

















17/08/05

Pena, por Cão

Vale a pena estar vivo, embora não se saiba por ou para quê.

Este é o país a que chamamos nosso, apesar de ser deles. Deles: dos que mandam pôr a arder, dos que põem a arder mesmo sem mando, dos que ganham com o que ardeu.
Perante o flagelo anunciado de cada Verão (que, com a seca, começou este ano em Janeiro), alguém acredita na senhora-de-fátima o suficiente para encomendar submarinos em vez de helicópteros.
Nas festas flavas do T-Clube, a nacional aristocracia achinela-se untada de banha e idiotia.
Enquanto isso, nós engarrafamos clios e eskorts na curva de Buarcos, entre peões de tanga que carregam tremoços e feijoadas e mães solteiras buscando alemães que não virão, verão.
Vale a pena estar vivo, mas não ser vivo, ici.

Este é o país a que chamamos osso, porque a carne é deles. Eles, quem?

A ver:
O pivô-chorão do telejornal.
O Marcelo Rebelo de Sousa, de olhos muito abertos de coruja que não dorme para nos velar.
O Mário Soares, que não morre nem que o matem.
O Pateta Alegre, que já morreu mas não sabe.
O coiso dono da Vivenda Mariani.
O Obikwelu a tocar o hino das quinas em congas e bidons.
O Nino Vieira a passar anos de férias cá antes de ir mamar de novo lá.
O Pinto Balsemão sempre a cocar e o directorzito do Expressozito dele.
A Catarina Furtado a dar cabo ao nome do pai.
O Joaquim Furtado a criar uma filha para isto.
O Nicolau Breyner, que, via RTP, está encarraçado no pêlo do Orçamento de Estado há coisa de 40 anos.
O Herman José, que tem tanta piada como uma anedota pedófila e/ou de peidos.
O Moita Flores, esse grande guionista e grande amigo do Carlos Cruz.
O Carlos Cruz.
O Benfica, o Sporting e os coisos das Antas.
O viveiro-PS e o viveiro-PSD.
O mexilhão e a alforreca.
O Fausto Correia hirsuto e o Albarran careca.
O Carlucci da CIA e da EuroAmer.
O Talon e o Tyson.
A Pasta Medicinal Couto e a placa da Lili Caneças.
O Santana Lopes e o Sentido de Estado.
O Vasco Pulido Valente e o século XIX Fraco.
O Sampaio a chorar como se fosse pivô de telejornal.
A família Câmara Pereira e as pragas de gafanhotos bíblicas.
O riquinho que é presidente da Câmara de Aveiro.
O idem que é ibidem da homóloga de Ílhavo.
A calcinada tristeza de Coimbra, sob todos os aspectos.
Os indígenas de lata da Cova de Papelão da Moura.
O Zezé Camarinha, tão algarvio como o coiso da Vivenda Mariani.
A Igreja de Viseu.
O sertão de Bragança.
O Bispo de Braga.
A Josefa d'Óbidos.
As alcunhas alentejanas que passam a nome de família à hora da sesta-baptizado.
A Reserva Territorial aposentada da Tropa a gozar o prato nas termas.
A maltosa sueca da celulose.
O Pacheco Pereira a garantir que é a reencarnação do Che mas em Rumsfeld.
O Rumsfeld e a Condor Lisa, a preta que lá está a fingir que a MerdAmérica do Norte não é dos brancos wasp.
A Nancy Reagan, que é viúva há 80 anos e só agora é que lhe disseram.
O Giuliani no baile dos bombeiros antes do baile da Casa Branca.
A maltosa toda a dizer “é assim”.
O Luís Represas no elevador a fazer muzcas pró dito.
As manas Pinto Correia muito muito Fundação do Gil.
O Padre Fontes a cozer chás de bruxas em chaleiras de ouro bento.
O Moniz e a cova da Moura Guedes.
A TMN a mandar uma optimus fodavone.
O preço do tabaco.
A sangria atada do gasóleo.
O Bibi a fazer bobós a bebés.
O socrático Carrilho e a platónica Guimarães.
O bebé deles com nome daquele rei que plantou pinhais para ter onde cagar no intervalo das cantigas de amigos e das guerras com o filho.
D. Afonso Henriques, o primeiro presidente do Conselho de Administração da Gulbenkian, cujo complexo de Édipo fundou um país lamentável.
O próprio Gulbenkian, que quis fazer outra merda desta merda e que fez.
Os reformados a votarem lanigeramente nos gajos que lhes mamam as reformas de mama.
As reformas educativas e os professores e os alunos e os resultados das reformas educativas e dos exames, menos os de consciência.
A água das torneiras.
Os rios, mortais casas dos peixes.
Os suinicultores de galochas e os porcos descalços.
Timor e a Religião e Moral obrigatória.
O Rato Zinger, Mickey em alemão.
O futsal e o futebol de praia.
O voleibol de praia e o Maia e o Brenha.
A Madeira e o coiso.
USAçores.
O Graça cova da Moura, poetastro oficial cujo nome de tradutor é maior do que o traduzido Dante.
O Prado Coelho, coelho oficial.
O Guterres nos ugandas e nos sudões a benzer refugiados e a dizer “tenham paciência, tenham paciência, vão lá com Deus”.
A Maria Barroso e o padre Melícias a irem lá com Deus.
A fanhosice perpétua do Herdeiro do Trono de Portugal, que parece ‘cosa mentale’ mas não deve ser.
O Feytor Pinto e as camisas-de-vénus, hoje sim por causa do cancro ou lá como se chama aquela moléstia que dá de comer à Margarida Gorda dAbraço, amanhã não por causa da moral.
A moral.

E a pena.

Ser mulato em Londres, por João Negrão

No dia 22 de Julho o brasileiro mulato Jean Charles de Menezes foi morto pela polícia britânica à queima roupa no metro de Londres. Primeiro disseram que levou três tiros. Primeira mentira: levou oito tiros. Sete na cabeça e um no ombro. Acharam-se ainda mais três cartuchos. Foram disparados onze projécteis. Depois tentaram justificar o fuzilamento dizendo que o brasileiro Jean Charles levava uma mochila, usava um sobretudo largo e suspeito, que adoptou um procedimento suspeito, não comprou bilhete, que desobedeceu a uma ordem, que corria, que pulou por cima da barreira de acesso ao metropolitano. Mentira, mentira, mentira, mentira, tudo mentira. O mulato brasileiro levava um pequeno saco com os seus haveres, como qualquer pessoa normal que se desloca para o trabalho, usou o seu bilhete pré-comprado, apanhou a carruagem em passo apressado, como toda a gente faz, vestia um leve blusão de ganga justo ao corpo. Diziam também que resistiu à ordem de prisão. Mentira, mais uma vez. isto é, em toda a história contada pela polícia não há um grão de verdade, é tudo mentira. Porque morreu então Jean Charles? Por uma razão só: o seu prédio estava sob vigilância. Às 9h30m da manhã Jean Charles saiu para trabalhar e foi dado como suspeito. Porquê? Porque é mulato e os anglosaxónicos de pele leitosa e cabelo ruivo confundem mulatos com árabes e acham que os árabes são suspeitos de terrorismo. Azar ser mulato em terra de burros!

16/08/05

O método Lynyrd Skynyrd, por Doc Comparato

Todos se devem lembrar daquela canção dos Xutos & Pontapés intitulada Para Sempre que foi banda sonora de um filme com o Quicas Almeida (o Banderas português) que fazia de padre (é sempre a mesma merda) e mais não sei o quê. A música tinha uma guitarra a rasgar que fazia mais ou menos isto: Nhééunmm nhé nhé nheééunnnumummmmm ....... e depois Ai meu amor..... etc. Pois bem, quando puderem ouçam o Free Bird dos Lynyrd Skynyrd, comparam e digam-me se estamos perante uma grande coincidência, uma grande inspiração ou é o Lynyrd Skynyrd Method bem aplicado.

14/08/05

Viagens na “Nossa” Terra, por Almeida Garrido

Tenho a sorte de ter uma fobia: andar de avião. Tal sorte leva-me a considerar a Espanha como destino preferencial de férias. Espanha é o melhor país do Mundo. Tem tudo! Excelentes vinhos, óptimas praias, arte, cultura, museus, touradas, tapas, monumentos que vão desde o Império Romano à arquitectura pós-moderna como mais nenhum outro país tem à excepção da França e da Itália. Espanha tem eventos desportivos e culturais de nível mundial, livros e livrarias, pintores, peixe, carne e mariscos. Espanha tem mulheres lindíssimas que se pintam, perfumam, passeiam e riem no meio da rua. Tem plazas e esplanadas, montanha, lagos idílicos, florestas verdejantes e até tem Portugal!

Na 1ª etapa, fui de Coimbra a Leon com paragem em Salamanca para almoçar. Aqui, deu-se o único episódio desagradável quando tive que fazer ver ao animal do empregado de mesa que o mundo já não se divide em espanhóis e portugueses, pois que nem eu sou o Príncipe Perfeito nem ele era parecido com Isabel, a Católica. O cabrão pôs-se a resmungar num castelhano cerrado e quando lhe pedi para hablar de espacio, o gajo disse que em España se habla castellano e que se eu quisesse que aprendesse. Passei-me e expliquei-lhe em portuñol:
- Hombre, lo mal non es que yo no te entienda. Lo mal es se te mal entiendo. Pues que si quieres que te entienda, habla de espacio y si no quieres que te entienda, mejor es hablar chino porque se te malentiendo… coño, va a haber circo aquí e ahora, caralho!
O velho amansou e lá mandou um pardon señor que eu entendi perfeitamente.

Chegados a Leon, destaque para a catedral gótica, a casa Botines de Gaudí e um magnífico rabo de boi com setas. O vinho da casa é que era merdoso.

No outro dia, pelo meio da manhã, rumámos a Gijón, próspera cidade com uma baía lindíssima. O tempo estava bom e tivemos praia. O paseo maritimo estende-se por quilómetros e quilómetros, propiciando um passeio agradabilíssimo. Invejo os espanhóis pela qualidade dos espaços públicos: passeios, jardins, plazas, monumentos, parques, recintos desportivos, etc. Costumo dizer até que o grau de civilização de um povo se mede pela qualidade dos espaços públicos, na medida em que demonstram o quanto o colectivo se sobrepõe ao particular. Ora, se o objectivo a realizar pela acção política é a promoção do bem-estar público, o individual deve sempre subjugar-se ao colectivo. O planeamento urbanístico e a cidade são o processo e o resultado que permite aquilatar o quanto se alcança esse objectivo. Dito isto, poupo-me a mais considerações e seguimos para os Picos da Europa.

Covadonga é uma cagada! Tem lá uma merdunça de um museu feito com as oferendas pirosas dos peregrinos e um templo neo-românico dos finais do século XIX, mais uma estátua patética do Pelágio. Safa-se a paisagem e a gruta-santuário. Mas este local tem tanto de piroso como de simbólico. É um anti-Alhambra. Se olharmos para Sul, para o Alhambra vemos como era sofisticada a civilização do Andaluz. Comparar o Alhambra com a toca de Covadonga dá-nos a medida do abismo que separava o norte gótico e cristão do sul islâmico e mediterrânico. É a mesma distância que vai de Vale da Porca a Nova Iorque! O abismo dá a dimensão do mistério: como foi possível que os bárbaros montanheiros do norte, incapazes de imaginar sequer o que fosse um limiar mínimo de civilização já que desconheciam em absoluto a cidade como expressão urbanística para além daquilo que não destruíram da herança romana, como foi possível , dizia, que tenham vencido e expulsado os islâmicos da península? A resposta tem tanto de simples como de inacessível para os fanáticos xenófobos. É que os bárbaros do norte tinham a semente que seria o segredo do triunfo: a propensão para o universalismo, isto é, a capacidade de integrarem o que de bom e válido lhes é legado pelos outros. Os islâmicos do Al-Andaluz cavaram um beco luxuoso que os condenou à decadência e à perdição, pois se fecharam culturalmente. Adormeceram indolentes, embevecidos com o seu sucesso e conforto, crendo terem atingido um equilíbrio que lhes parecia paradisíaco mas que era simplesmente imobilizador.

Próxima paragem no Parador de Cangas de Onís onde, depois de um breve descanso fui para o bar no antigo claustro do mosteiro beneditino. Gin tónico com e um livrito: A «História Artística da Europa», dirigida por Georges Duby: «Bernardo - diz um dos autores - não se limita a criticar; propõe como alternativa uma “estética da autenticidade” de onde se recolhe – como no Bauhaus de Gropius – o máximo de energias intelectivas e o máximo dos respectivos resultados formais.» Na verdade, S. Bernardo de Claraval critica violentamente o figurativismo decorativo e os monstros que povoavam toda a arquitectura românica numa aterrorizadora pedagogia do medo, propondo uma nova estética, depois chamada cisterciense e magnificamente testemunhável em Alcobaça, onde o despojamento significasse espiritualidade e recolhimento. É a esta atitude que o autor, de forma certeira e surpreendente, compara a Gropius e à Bauhaus. Neste sentido e no limite, o suprematismo tem algo de cisterciense e S. Bernardo algo de minimalista, pois que a geometria é irmã da teologia e o quadrado preto de Malevich é um alfa-ómega.
Ao jantar, um volovent de setas, seguido de “delícias de cerdo ibérico”, acompanhado por um tinto Prado Rey, Ribera del Duero, roble 2003, com taninos bem fortes, uma estrutura sólida e profunda, cor fechada com laivos avermelhados, intenso, prolongado e com aromas que se desdobravam da tosta à especiaria.

No dia seguinte, Miracielos, próximo de Llanes. Um pequeno hotel a 80 metros da praia fantástica. Uma baía abraçada por duas restingas de pedra onde cresciam pinheiros mansos. A linha de costa preservada e verdejante com vacas a pastar. Os fetos escorregam até à areia. A água é gelada, mas eu não me importo. Três dias descansados. Gastronomicamente, destaco um magnífico robalo grelhado comido em frente ao porto de Llanes com um albariño cujo nome já não lembro. Aproveito para lançar a questão uma vez levantada pela enóloga favorita da RS.T (cujo nome não posso dizer porque o Grão-mestre não deixa) sobre a recente moda de cortar o peixe longitudinalmente em duas metades. Pode ser mais rápido e mais bonito, mas atenta contra a dignidade do bicho, tornando-o seco.

Em Llanes, porém, a experiência mais marcante foi a visita ao campo municipal de golfe. Sim, em Espanha há campos municipais de golfe. Não é um desporto elitista, embora seja caro para os turistas. O campo é magnífico. O slogan promocional diz tratar-se “provavelmente” de um dos mais bonitos campos da Europa. Eu conheço poucos campos, mas garanto que podem tirar o “provavelmente”. Foi construído sobre um planalto com o maciço Cantábrico de um lado e o oceano do outro. As vistas são deslumbrantes. Destaco o hoyo 7, cujo tee de saída se pode ver na foto. O green está 165 metros à frente. Não há fairway, tem que ser uma tacada directa. As vistas são celestiais, no sentido literal, com Llanes ao fundo. O vento é permanente, pois estamos a uma altitude de cerca de 200 metros e ao lado do mar, o que dificulta o voo da bola. A primeira bola saiu-me mal e foi para Llanes. A segunda exigia concentração. Escolho o ferro 5, ensaio bem o movimento e não me atemorizo com os observadores. Faço como o meu mestre, o Mau: baixo-me levemente e arranco um pedaço de relva como quem cata um piolho, ergo o braço e solto os pintelhos verdes ao vento. Com um ar de entendido observo o lado para onde esvoaçam e envergo um olhar de especialista. Franzo o sobrolho como quem morde a táctica e faço-me à bola. Stance correcto, backswing lento e desenhado, olhos na bola, pulso firme, swing a descer e PLAC! Quando levanto o queixo vejo o voo da bola. Subiu bem, desceu e caiu a dois metros da bandeira! Os velhos seguem viagem e eu insultei-os mentalmente!

Em Bilbao só deu para ver o Guggenheim. Bilbao está cheia de referências ao Pio Baroja que, para quem não sabe, é o nickname do nosso bilbaíno da confraria. Sim, que nós somos uma confraria internacional e temos um bilbaíno. Em Bilbao há livros do Pio Baroja em todas as livrarias, há calles Pio Baroja, estátuas e até um parque de estacionamento. Exige-se um post sobre o Pio Baroja ao confrade que assim se assina (bela cacofonia esta: cassimsassina!). Guggenheim é o Guggenheim. Estava lá uma merdunça de uma exposição fantástica sobre os aztecas. Não é que eu não goste, mas eu ia em busca da pop art, do Warhol, do Rauschenberg, Rosemquist e Koons e estava tudo cheio de aztecas! Só um Warhol (150 Marilyns coloridas) um Rosemquist e três ou quatro Rauschenberg. Gostei dos expressionistas abstractos. Destaco Franz Kleine, Willem de Kooning, um Rothko só (de entre os vários da Fundação) e, sobretudo, o catalão Tapiès de quem venho gostando cada vez mais. Referência para o Richard Serra que está representado em Serralves, com uma instalação intitulada “The matter of time”.

Jantar numa sidreria no casco viejo. Atenção a esta ementa: enchidos variados, omolete de bacalhau e uma costeleta de boi em sangue que ocupava o prato todo e que foi a melhor carne que já comi nos últimos anos, queijo e marmelada, café e sidra à discrição! Preço? 15 euros! Quanto à sidra, embora sendo agradável e propicie um ambiente engraçado com aquele ritual em que se serve, só a bebe quem não tem vinho.

A caminho de S. Sebastian, fomos por Azpeitia, com paragem em Loiola, terra de Santo Inácio. A religiosidade ferverosa dos bascos é facilmente visível. Há jesuítas em todo o lado, e Santo Inácio é um herói nacional nas terras do interior. A basílica que ergueram a Inácio na sua terra natal - Loiola - é imponente. O jesuitismo basco, compatível com a prosperidade e desenvolvimento económico, financeiro, cultural e social das terras bascas, devia dar que pensar aos jacobinos republicanos que encontraram no jesuitismo a causa da decadência e do atraso económico português. O País Basco é a prova do contrário. A jesuítica prosperidade basca prova ainda a burrice dos jacobinos republicanos portugueses (e não só!) que expulsaram, prenderam, humilharam e ridicularizaram os jesuítas, imbecilmente convencidos que assim trilhavam os rumos da prosperidade.

Em San Sebastian é tudo bom e bonito. Tão bom que se me dessem a escolher uma cidade para viver eu hesitaria entre San Sebastian e Barcelona. Abominei apenas aqueles bares bascos que eu também já vira em Bilbao, com a bandeira colada na parede rodeada com fotos dos etarras que eles consideram mártires. Usam boina como marca de uma raça que acham exclusiva e falam uma língua que se orgulham que ninguém entenda e isso, além de imbecil, preocupa-me, pois que se o País Basco é das terras mais belas, prósperas e atractivas que já visitei, temo que este fechamento cultural do qual este orgulho etarra, terrorista e narcísico, possa vir a condenar a Espanha à mesma sorte do Andaluz de há 500 anos. A causa de então parece ser a mesma de agora: soberba e fechamento cultural numa época de universalismo, mobilidade e multiculturalismo. Alguém que explique aos etarras que a especificidade da língua basca se deve apenas a um factor: o ter ficado à margem da acção benfazeja e civilizadora da latinização.

01/08/05

O Código da V., o Galo de B e o JR dos S., por Cão

Chegou Agosto, o mês dos parolos.
É o tempo dos nossos lusocranianos de mala de cartão.
Neste dia, lembro-me sempre daqueles que andam lá fora a lutar pela vida mas que nunca lá ficam.
Dedico-lhes estes aforismos anémicos.

1- Ler ‘O Código da Vinci’ é exactamente o mesmo que pôr o colete fosforescente no banco do condutor.

2- O verdadeiro Galo de Barcelos faz manguito com a asa.

3- A verdadeira senhora-de-fátima dá horas na base da azinheira de baquelite.

4- O perfume da sardinha assada é vaporizado de um frasco formato-pimento.

5- Perdoar Valentim Loureiro e o Futebol é dar a outra nádega, como mandamentam a Bíblia, a Bola e o Record.

6- O País arde todo o ano, mas só no Verão é que passa na TV.

7- Num país civilizado, gente como o José Rodrigues dos Santos seria obrigada a ir de mochila no metro.

8- Avelino Ferreira Torres e Fátima Felgueiras deveriam ser casados, um contra o outro.

9- Gostar de Portugal não é a mesma coisa que admirar o Ricardo Espírito Santo ou o José António Saraiva.

10- Deveria nascer um eucalipto nas badanas do cu do Jorge Gabriel. Não desejar o mesmo ao Manuel Luís Goucha é evitar-lhe uma satisfação.