Durante anos procurei por feiras da ladra diversas os velhos álbuns de um herói de ficção científica chamado Luc Orient. Agora, graças à Fnac, tudo se tornou mais simples. Encomendei e passado um mês tinha os quatro primeiros volumes de Luc Orient nas minhas mãos reunidos num só álbum que estou a devorar lentamente. Importado directamente da editora francesa...
Luc Orient foi uma criação de um dos maiores representantes da BD Franco-Belga, de seu nome Michel Greg. A versatilidade foi sempre a sua imagem de marca. Greg foi autor de séries infantis como Zig e Puce, humoríticas como Achille Tallon, colaborador de Hermann em séries de aventuras como Bernard Prince e Comanche (dois clássicos absolutos!) e de Vance em Bruno Brasil . A ele se deve também a autoria do argumento de algumas histórias de Spirou. Ou seja, uma boa parte do que de bom se fez na banda desenhada franco-belga passou pelas suas mãos. De 1965 a 1974 foi editor-chefe da revista Tintim. No diagnóstico que, no início, fez da «revista dos jovens dos 7 aos 77 anos», Greg constatou um problema: é que se em Tintim não faltavam géneros tradicionais como o Western, o policial ou a série humorística, já o mesmo não se podia dizer da Ficção Científica, praticamente ausente de Tintim.
Ora, acontece que a segunda metade dos anos 60 estava a ser marcada pelo tema. Havia uma verdadeira onda, quase psicanalítica, à volta da ficção científica, visível no cinema, na BD ( esta é uma das épocas áureas dos heróis Marvel e Dc Comics ou das Amazing Tales norte-americanas), até na música (o rock e a pop tornavam-se gradualmente psicadélicos e progressivos). Em suma, era preciso dar espaço em Tintim à Ficção Científica. As novas gerações de leitores assim o exigia. Luc Orient foi a resposta encontrada por Greg.
Greg escreve, assim, em 1967, a primeira aventura de Luc Orient, Les Dragons de Feu, em parceria com o desenhador Eddy Paape que com ele havia trabalhado nos anos cinquenta. A série mistura o suspense com o mistério e a ficção científica. Do meu ponto de vista tem evidentes pontos de contacto com Ric Hochet, outra excelente série. Orient, o cientista Kala e a diva Lora são colocados na pista de extra-terrestres retidos na terra, após aterragens falhadas nos seus discos voadores. Toda a trama é um jogo de confiança/desconfiança. Os E-tês serão boa gente? Podemos confiar neles? E nos outros personagens que gravitam nesta história? Quem são os bons e os maus? A série mantém o suspense, funcinando em regime inconclusivo - trata-se de uma daquelas séries que dantes me irritavam solenemente porque os episódios nunca tinham fim, acabavam sempre com um irritante «continua». Agora, em formato 4 álbuns num só, esse problema está melhor resolvido.
Luc Orient é uma boa proposta de leitura. A ficção científica não veio só da América e esta série é, precisamente, uma das mais representativas da produção europeia. Vale a pena retomar a banda desenhada.
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