04/09/09

Ligados à Máquina, por Dr House


Hoje, em Portugal, já não se discute política. As pessoas pensam que sim, mas não. O mais importante já não é a discussão acerca das políticas do governo nas várias áreas - que, pessoalmente, acho calamitosas. Nem se trata de saber quel o melhor partido para dirigir Portugal...

Antes disso, a questão é, simplesmente, anterior a isso. Numa democracia saudável, sim, discute-se se este ou aquele partido apresenta um programa melhor ou pior que aqueloutro, se esta equipa partidária tem quadros melhor ou pior qualificados, se este líder está mais preparado que outro, as diferenças ideológicas... Isso é o normal. Só que Portugal não é uma democracia saudável.É por isso que em Portugal a questão prévia não chega a ser política: é um problema de falta de credibilidade pessoal e moral de um líder, o actual primeiro ministro, para se manter em funções.

Em qualquer democracia normal, um líder que carregasse às costas tantos casos como o freeport, a licenciatura marada, o caso do apartamento de luxo comprado a preço módico, o caso cova da beira, o caso dos projectos Guarda/Covilhã, a «famiglia» mencionada como estando envolvida num caso de licenciamento público de um projecto privado - o freeport -, o primo de shaolin, o novo primo que também não está no país e é citado como intermediário no caso freeport, o escandaloso silenciamento da redacção da TVI, ufff, etc, etc, etc, tudo isto é demais e só fiz uma pequena selecção assim de memória...

Não se trata de política, trata-se em primeiro lugar de um padrão: são casos a mais para uma só pessoa, que não podem ser pura e simples propaganda da oposição. Trata-se de lodo a mais! Encarados com um mínimo de seriedade, todos estes casos só podem levar a uma conclusão: socas não tem condições para continuar a governar, quanto mais para vencer ou sequer apresentar-se a eleições. Socas é, no mínimo, suspeito em demasiados casos nunca cabalmente esclarecidos e isso devia ser mais que suficiente para que se demitisse ou fosse obrigado a tal.

Uma sociedade que permite, sem se indignar, que um indivíduo ligado a tanto caso, continue no poder, é uma sociedade que está doente. Doente de fraqueza, sem energia, sem cojones, como diriam nuestros hermanos. Acho espantoso como é que ainda não se deu neste país um movimento de impeachment. Num país evoluído há muito que socas estava no olho da rua. Mas aqui as pessoas continuam a espantar-me com os argumentos acéfalos e desesperados com que continuam a defendê-lo. «Mas o homem não fez nada de bom?» Claro que sim. Até Hitler e Mussolini fizeram algumas coisas boas. É só isso que esperamos de um político - que faça «alguma coisa de bom» em quatro anos, seja lá o que for e quanto ao resto, vale tudo porque «todos fazem»? Como é que os portugueses não se indignam? Não compreendo quando me dizem «mas os políticos são todos assim» sem sequer concretizarem, sem sequer perceberem que não houve nunca neste país um político com tanto caso suspeito às costas.

A apatia com que a sociedade portuguesa reage a tudo isto é mais grave que os factos em si. É o sintoma de uma doença, de uma doença terrível da nossa sociedade - a da degenerescência da consciência cívica. Estamos doentes, não temos o mínimo grau de exigência perante aqueles que nos governam. E, o que é mais grave, ainda não percebemos que a maior falta de respeito que a nossa indiferença encerra não é para com os outros: é para connosco próprios.

11 comentários:

Supernova disse...

"Num país evoluído há" senhores da guerra, presidentes que bombardeiam países de forma gratuita por interesses petrolíferos entre outros, há filhos que acabam as guerras dos pais com a ajuda dos amigos. "Num país evoluído" foi permitido que alguém que durante décadas escondeu da FDA os resultados dos testes do Aspártamo e que até está ao barulho na nova pandemia chegasse a secretário da defesa. Em assembleias de países evoluídos(seja lá o que isso for- para mim são industrializados nada mais)criam cofres do mundo de forma secreta, erguem sistemas piramidais que provocam quase mais danos que uma explosão de yellowstone. Em países evoluídos os presidentes que não saiam da Columbia são abatidos numa qualquer avenida de Dallas, há o poder dos Rockefeller, há bancos federais que nem são federais e que cobram juros por cada nota fabricada e emprestada ao estado federal! Há cargueiros procurados a todo custo pela marinha. Há presidentes que surgem em conferencias alcoolizados. Há primeiros ministro que partilham as camas, oferecidas por amigos, com pêgas. Há tratados desrespeitados. Parece-me que o nosso grau evolutivo até se aguenta bem mas o tuga só vê Portugal como o berço dos maus enquanto admira e deseja a "verdadeira" evolução que as televisões nos trazem lá de fora. Eles são o paraíso mas ao pé deles nem escolinhas somos. Ondas eleitorais e depois sai disto. No hard feelings :)

Anónimo disse...

O Groink de cima é bom. Por si só dava um post. A maioria do que para ali vai já foi postado e discutido aqui no Tapor e os ditos cujos j+a levaram forte e feio.

Mas acontece que o Groink nada tem a ver com o post e a nada responde. É a tipica manobra de diversão.


El Gordo

PS: E também me dá uma vontadinha de discutir o saneamento do Marcelo pelo Santana que até fico comichoso.

Anónimo disse...

O el gordo já disse o que importa sobre o groink anterior: os casos que aponta nada têm a ver com o post. Em retórica chama-se a este tipo de falácia, digressão ou fuga ao tema.

No entanto reconheço no groink do Super mais uma versão do tímido argumentário de defesa do socas. No post citei duas formas descabeladas de defesa do homem que vejo à minha volta e que procurei desmontar:
1. «Mas os outros politicos todos também fazem disto.»
2. «Mas ele nunca fez nada de bom?»
Agora vejo uma terceira versão destes argumentário pobrezinho:
3. «No estrangeiro eles também fazem merda.»
Parece-me uma variação da falácia 1 acima transcrita, só que se substitui «os outros políticos» pelos «outros países civilizados».

Manda sempre Super...

Supernova disse...

"Em qualquer democracia normal, um líder que carregasse às costas tantos casos como"
"Uma sociedade que permite, sem se indignar, que um indivíduo ligado a tanto caso, continue no poder"

O meu groink resultou de excertos como estes. Eu não sei o que são democracias normais nem conheço homens de poder isentos, aliás até os há muito piores e com bem mais responsabilidade mundial. Só não entendi onde é que nós somos assim tão apáticos em relação aos que se sentam no poder. Não me interpretem mal, não tentei defender o homem que frequentou um curso de engenharia. Subscrevo a parte dos casos que o Dr House falou e os resultados que eles deveriam ter tido. A dúvida persiste: quais as democracias que não são doente?

Supernova disse...

... quais as democracias normais? Americana? Inglesa? Russa? Italiana? Francesa? todas estas têm ou tiveram lideranças envoltas em polémica e ninguém se demitiu. Era aqui que queria chegar, porque se as referidas não são evoluídas não sei quais serão.

Anónimo disse...

ok, Super podemos perfeitamente discutir a questão que levantas - quais as democracias que são sãs? Mas, agora sim, com o pressuposto acordado que o mal dos outros não pode servir de branqueamento ao comportamento do socas e ao baixo nível de maturidade da nossa sociedade. Assim sim, tou de acordo contigo.
Dr House

Anónimo disse...

o ponto base que o post levanta é indiscutível. Com este governo a nossa democracia permanece como que anestesiada e a nada reage seja o que for que lhe façam.

Perdeu-se por completo a capacidade de indignação. Fazem-se as piores tropelias e não há pontes tejo, não há greves gerais, não há greves prolongadas e mesmo com as simples manifs de relevo apenas se registaram os profs.

Em termos de custos e custas cometeram-se as maiores chulices como as custas judiciais, as custas nas conservatórias, as obrigatoriedades de registos, o supostamente extinto imposto de selo. a brutalidade do imposto sobre produtos petrolíferos. as chulices inacreditáveis do imposto de selo, com destaque para a aberração dos 10% sobre as justificações, e nada nem um pio.

em termos de escândalos é o que se sabe e nem vou repetir. e pior do que ninguém se demitir, é que isto vai fixar o standard para governos futuros e vai ser cada vez pior. e nada nem um pio.

e depois temos as liberdades individuais perfeitamente cercadas como é o caso do cartão único com chip que muito poucos a nível mundial se tinham atrevido a fazer e a nojeira da negociata do chip de matrícula de que somos peregrinos a nível mundial. e nem pio.

apenas algum ruído jornalístico.

a nossa democracia está mal, toda a gente tem medo e fica-se porque toda a gente sabe que este é um governo de charruas, de directoras regionais de educação norte, de processos disciplinares a torto e a direito por simples delito de opinião. de policias nos sindicatos a investigar nomes de grevistas, de manuelas moura guedes, de tvi`s, de reticências na renovação da licença da sic, de ataque ao Público, dos abanões e chapos ao MST nos contentores do porto de lisboa, de ministérios a pedir as listas aos seus grevistas a cada um dos seus serviços, de policias a identificar e a prender manifestantes legais, de ministério público a processar manifestantes, de empresários directamente ameaçados e controlados por via dos contratos públicos, etc etc, isto podia ir quase ad infinitum. nisto este governo é de génio.

das outras democracias não sei grande coisa. mas também as podemos discutir, mas noutros posts.



el gordo, que não o primo

Anónimo disse...

em cima onde se lê: "o supostamente extinto imposto de selo", é gralha e deve ler-se: "o supostamente extinto imposto sucessório". sorry


el gordo.

Anónimo disse...

e lembremos ainda os bloguistas processados, com destaque para o corajoso Balbino Caldeira do Portugal Profundo a quem uma policia e um ministério público bem mandados e instrumentalizados entraram em casa dele e da mãe para apreenderem computadores, quando o homem estava mais do que identificado no blog numa diligência perfeitamente inútil e intimidatória. foi absolvido, mas fcou o aviso para ele e para os outros.

el gordo

Supernova disse...

essas situações surgem todas em resultado das maiorias parlamentares. Ainda que as maiorias sejam boas em alguns aspectos pois permitem ao governo a obtenção de carta branca para implementar o seu plano governativo e a possibilidade de total responsabilização em futuras eleições. No entanto essas maiorias têm um Dark Side que muitas vezes transforma um PM em Rei e os ministérios em cortes ou feudos. Não tenho dúvida que o PS de Sócrates irá sofrer um grande abanão nestas eleições porque existe conhecimento do que foi a sua politica de governo.Contudo não vejo uma oposição capaz,vejo antes um grupo de rapazes a montarem listas de uma forma que mais parece uma eleição de uma qualquer associação de estudantes. Falta-nos políticos interventivos e com ideias. Talvez um governo de coligação seja uma boa opção, talvez seja mais representativo, mas é preciso que os nossos políticos se deixem de picar constantemente por assuntos que não interessam ao menino jesus e se comportem como homens tentando encontrar soluções em conjunto. No nosso país uma ideia da oposição pode ser muito boa mas como é da oposição já é uma bosta. É ridículo olhar para um debate parlamentar e ver brigas de cachopos, ter a sensação que estamos a assistir a uma comédia de segunda. Ao pensar em parlamento só me ocorre as palavras "muito bem", "isso é demagogia" e uma tourada.

Cão disse...

ah pois é: "a maior falta de respeito que a nossa indiferença encerra não é para com os outros: é para connosco próprios." - bravo, bravo, bravo, bravo.