01/12/09

Canções do Porco, por Mangas

Ouvi recentemente num programa de rádio que, “One” dos U2, foi eleita no Reino Unido com a melhor canção do século XX.

A coisa vale o que vale. Se lhe retirarmos a futilidade de patrocínio e a compilação subjectiva da nostalgia - como aliás se quer que ela seja -, sobra-nos um exercício de paixão pessoal tão abrangente quanto difícil de sintetizar. E é apenas disto que falo.

Recordando as memórias mais distantes da música que me abanou as orelhas e me despertou o êxtase, seja pelos ritmos, épocas ou manifestações hormonais, seja pelas letras cantadas, acordes de culto ou outros inauditos estados de embriaguês, percorro etapas da minha vida pelos anos do vinil, cassetes de crómio e noites de rádio, vídeo-clips pré-MTV e concertos de estádio cheio, festas de garagem e o antigo ETC sábado à noite, tentando escolher três músicas, três!, que por razões várias, incorporem, tão-somente, a exultação do prazer pessoal. Não me preocupo sequer em rebuscadas teses sobre composição, melodias revolucionárias ou outros conceitos de produção. Nada disso. A minha escolha, com a sua dose de risco e tremenda injustiça para tantas outras canções que deixei pelo caminho e poderiam também aqui constar, reside no gozo puro que estas três me proporcionaram cada vez que as ouvi ou ainda ouço. Pondo isto, e que me perdoem todas as outras, este é o meu top:

3º lugar – Billie Jean, 1982, de Michael Jackson. Tudo começa com uma percussão surda e depois o baixo repetido de uma Yamaha. E não passa daí. A percussão a martelar o ritmo, o baixo a acompanhar, a voz a entrar. Nada mais simples e, simultaneamente, explosivo e contagiante: o baixo, a percussão o tempo todo, e alguns efeitos pirotécnicos de uma guitarra eléctrica. Para mim, Billie Jean tem o funk mais cool de todos os tempos.

2º lugar - (I Can't Get No) Satisfaction, 1965, Rolling Stones. Diz a lenda que certa noite, Keith Richars acordou sarapantado num motel de tournée na Florida, ligou um gravador e em dois minutos meteu-lhe dentro o riff de abertura de Satisfaction que lhe batia na mioleira. Depois voltou a dormir para curtir a bebedeira. Mais tarde Jagger escreveu a letra. O resto é História. Satisfaction é um hino e mais não seria preciso acrescentar! Daquelas músicas que o cidadão comum do Azerbeijão, com a quarta classe, poderia abanar e cantarolar numa convenção galáctica de extraterrestres para se fazer entender que provinha do planeta terra.

1º lugar - I Heard It through the Grapevine, 1968, de Marvin Gaye. A voz de Marvin Gaye é dilacerante e aguenta a carga nas notas mais altas sem pestanejar, num contraponto perfeito com a sobriedade cénica do coro. As três baterias e a percussão soam a tambores de latão oco como alinhamentos de uma banda sonora inquietante; o piano eléctrico e as marimbas completam toda a complexidade da orquestração dos Funk Brothers. Isto é Motown em estado puro! Um clássico de arrepiar, poderoso e elegante, que conta uma história em rotação máxima da abertura ao final. Sem nunca perder o fôlego.

Estas são as minhas três eleitas. Quais são as vossas?

19 comentários:

Anónimo disse...

Pois eu acho tudo ao contrário:
Satisfaction não é a melhor música dos stones, para mim. Gosto mais de Jumpin Jack Flash ou de simpathy for the Devil, por exemplo. O que é tão legítimo como gostar mais de satisfaction.
Sobre Billie jean concordo. É a melhor do jacko. Mas também gosto muito de thriller.
O marvin gaye para mim não entra nem nos 50 melhores. Mas gosto mais de sexual healing do que que de heard it...

jaime castanho disse...

Pois para mim, quem não entra nos 50 é o billie jean, que é mais pop do que funk. Funk vais beber ao James Brown, que deixa o Jackson a milhas no que quer que seja. O Get Up, que tem uma construção mais minimalista, é bastante mais explosivo e contagiante. Para mim, o melhor que o Michael Jacson fez o Human Nature, mas nunca também nos cinquenta primeiros.

Quanto ao Marvin Gaye, colocaria antes o maravilhoso (para mim) What's going on. Ai o vizinho já vi que não gosta dele nem com molho de leitão, mas pronto. E do Smokin Robinson, também colocaria uma ou outra nas vinte melhores. Mas isto de fazer rankings destes é muito dificil. Já não digo em termos objectivos. Mesmo a nível de gosto pessoal, é muito dificil. Não arrisco.
Uma coisa curiosa é que tu, mangas, esqueces tudo o que não seja anglo-saxónico. Tens, por exemplo, na nossa lingua algumas das mais belas canções do século.
Mesmo em inglês, tens o Cole Porter ou o Burt Bacharach (o I'll never fall in love again, por exemplo).

Cão disse...

Eu nestas cenas de "melhor de sempre", do ano, do século e tal - eu nisto não entro. É marketing mal amanhado, uma americanice como tantas outras. Cada um gosta das canções que gosta e pronto. Já agora - e como só hoje vi os "comentários" ao és/ás publicado infra - digo isto: para a real e monárquica puta que te pariu.

Anónimo disse...

Eu vou, só não sabia é que a tua mãe era do PPM.

Anónimo disse...

Cão, mas hás-de ter alguma canção de que gostes muito, ou três. Diz aí.

Quanto aos comentários lá em baixo, não ligues. É de quem não tem mais nada que fazer e dar troco não serve de nada.

Jóni bi gud

Anónimo disse...

fónix, só agora vi também essa ali em cima... na minha humilde opinião, acho que deviam apagar as "opiniões" desse tal anónimo.

Jóni bi gud

britannicus disse...

Gostei do exercício à Hornby, ó Mangas! Mais curtinho - que ninguém tem moleirinha prós 31 fétiches musicais do homem -, mas luminoso.
Vamos lá tirar as três à banda sonora da vidinha.

1º Vem Viver a Vida, Amor , José Cid.
Há merdas que se pespegam à biografia dos nossos gostos como o saburro e o cieiro ao entrecosto. A menos que peças a alguém que te esfregue a lombeira, eles ficam lá. Se a removes a esfreganço, fica a marca do esfreganço. O pudor é ocioso e pelintra: não vale a pena ocultar no sótão os cómodos que já foram da sala de estar, nem esconder o retrato com as pantalonas à boca-de-sino; haverá sempre um filho da puta que irá descobrir que tivemos uma cristaleira rococó e um cabresto fução que irá aparecer co retrato das pantalonas – “Olhem prás calças deste choninhas caralhinho!”
Está dito. Gosto do José Cid porque tive pantalonas e lá em casa havia uma cristaleira rococó.

britannicus disse...

2º Decades, Joy Division.
O MEC, em Portugal, e os cardeais da Congregação Para a Causa dos Santos Musicais já canonizaram o pontuar da percussão e a sua arritmia orgânica, as melodias insignificantes, a melancolia e tristeza irredentas do Ian Curtis. Os Joy Divison mandaram às urtigas o inssurreiccionismo dionisíaco-juvenil-hormonal de meia história da música popular do século XX(um quarto de história, vá lá!) e disseram, sem verdade, que na música e em lado algum há redenção. À semelhança da ideia de Deus na Idade Média, a banda não teria tido tanto sucesso se na altura houvesse Prozac.Na altura,um gajo sofria comó camamandro.

Anónimo disse...

Diz alguém ali em cima e muito bem que este burro do Mangas só lhe dá prós anglo-saxónicos. é bem verdade e há outras músicas, de facto. Por exemplo nas minhas melhores de sempre, sem serem britiches nem américas:
Caetano veloso - Tigreza
Chico - a banda
Nação Zumbi - maracatu atômico
Lenine - Jack soul brasileiro
Godinho - 2º andar direito
zé mário - FMI
fausto - se tu fores ver o mar
xutos - Remar remar
brassens - la mér
gainsbourg - anamour
Brel - les bombons
Amália - estranha forma de vida
goran bregovic - ederlezy
ryuchi sakamoto/youssu n`Dour - diabaram
zeca- venham mais cinco
GNR - Sentidos pêsames

Amanhã lembro-me de mais...

Anónimo disse...

Por falar em bestes: já ouviram a nova bomba do império do mal, vulgo américa, os fabulosos Weezer? Não? Pois ouçam que vale a pena: aqui
http://www.youtube.com/watch?v=8i2K901_rAM

Anónimo disse...

Esta é a versão que eles tocaram no Conan O´brian. Inda é melhor:
http://www.youtube.com/watch?v=A3cG8nJt6g4

Cão disse...

Três entre as milhares de que gosto muito:

1- Era um Redondo Vocábulo - de Zeca Afonso.
2- Avec le Temps - de Léo Ferré.
3- Habaneras de Cadiz - de Carlos Cano.

Supernova disse...

3... que injustiça. Nem imagino quantas passaram na cabeça do Mangas enquanto batia em cada uma das teclas do teclado.
as minhas cá vão:
March Of The Pigs - Nine Inch Nails
Billy Jean - Michael Jackson
Take The Time - Dream Theater

Anónimo disse...

Não sei se a malta reparou mas temos aqui material que dá para uma grande sessão de youtube com as propostas que por aqui vão. Fixe!

Anónimo disse...

Cão, confesso a minha ignorância, nunca tinha ouvido falar do tal cano. Fui ouvir a tua música e achei fantástica!

Normandus disse...

1º Brel
2º Jacques Brel
3º Brel, Jacques
4º - Aquele belga beiçudo que cantava em francês e que não gostava de flamões.

Melhor Banda Actual de Sempre: Magnetic Fields

Anónimo disse...

1.º Do me Baby, Prince

2.º Piensa em mi, Luz Casal

3.º Close cover, Wim Mertens

Toma lá!!!

Crepúsculo

Anónimo disse...

Crepúsculo:
Do me baby a melhoor do prince? Ná. E Sign o times?Sometimes it snows in april? Kiss? Para mi estão muitas outras à frente, mas são gostos...
Parade

Anónimo disse...

Parade:

o Top 3 - para mim - não foi em função da qualidade de mercado ou dos melhores registos de cada artista escolhido, mas antes, o que me marcou. E Do me Baby, não sendo a melhor do Prince, tem essa etiqueta.

Mas sempre te digo que se fizéssemos top 3 de ARTISTAS, o meu Prince - ainda que inactivo e fora do Youtube (por opção) ocuparia SEMPRE o 1.º lugar).

Nota: Raspberry Beret: B-O-M!!!!!!!!!!!!!!!