26/12/09

A Implacável Invasão das Casas da Sopa, por Madame Butterfly

Creio que estamos, actualmente, a assistir a um novo fenómeno de mutação urbana e sociológica de consequências irreparáveis. Pelo menos em Coimbra o fenómeno já é observável. Nos últimos tempos, a malta daqui do Porco, nós, temos sido expulsos sem apelo nem agravo dos nossos habitats mais inexpugnáveis. O Ranhoso, por exemplo... O Ranhoso é um clássico porcino, um ex-libris dos nossos encontros. Acontece que das últimas vezes que fomos ao Ranhoso, eu e o Grão, tivemos que bater em retirada. Porquê? Porque o Café, espaço de encontro e tertúlia entre amigos e conhecidos, se tornou, ultimamente numa Casa das Sopas ou coisa que o valha. O ranhoso, uma casa das Sopas, é triste...

Os Cafés são uma das melhores heranças que o Iluminismo deixou à Civilização Ocidental. Os Cafés, enquanto espaços de tertúlias, de debate de ideias e de simples maledicência, são uma das pedras angulares do desenvolvimento do Espaço Público e, pese embora os arautos da desgraça, têm aguentado séculos e séculos de atropelos sucessivos. Resistiram à sua transformação em lojas de roupa, em zaras, em centros comerciais, em Mcdnalds e pizzashuts... No entanto receio que os Cafés não consigam concorrer com a sua nova temível transmutação: a Casa de Sopas. Pelo menos o ranhoso não se aguenta, isso é certo.

Como eu dizia, das últimas vezes que eu e o Grão lá fomos, pairava no ar um insuportável odor a sopa que envenenaria todo e qualquer debate metafísico que ali pudesse brotar. As mesas estavam todas ocupadas por magotes de respeitáveis e veneráveis idosos que apreciavam a promoção do dia «sopa+pão+sobremesa+café por apenas 3.5 eur.» e, em consequência, demos por nós no olho da rua a lamentar a nossa sorte.

Tentámos o plano B que é o Pinto de Lata, um pouco mais à frente e conseguimos tomar os nossos miríficos cafés. Mas quando a conversa estava lançada, eis que sentimos a pairar no ar aquele pestilento cheiro a sopa que já nos correra do Ranhoso. Olhámos em volta e vimos... Sentado a uma mesa mesmo ao lado, lá estava mais um venerável idoso de imponentes barbas brancas que se comprazia nos prazeres de uma sopa de legumes fumegante. Levantámo-nos, pagámos e saímos, subitamente apátridas, sem termos para onde ir... Parece que a onda da sopa a 3.5 + extras alastra como um tsunami e leva os Cafés na sua violência. Depois de séculos e séculos de sobrevivência, o Café, um os ícones da civilização ocidental, parece estar a desfalecer, vítima de uma nova forma de cultura destrutiva e implacável: a da sopa!

3 comentários:

Anónimo disse...

é a imparável invasão das malgas de sopa!

no ranhoso então são hordas de velhos a sorver sopa.

e eu que adoro sopa..., e se a gente fosse a almeirim?


grunf

Anónimo disse...

o problema foi a lei anti-tabaco. desde que proibiram o Grão de fumar os seus inenarráveis charutos no Ranhoso é que as hordas idosas começaram a aumentar. e com aqueles veio a praga das sopas. Já tenho saudades de quando o grão mandava duas baforadas bem puxadas e os gajos zarpavam das mesas á volta que nem pardais da rua assustados...
Cohiba

Anónimo disse...

Porcos, ou comem a sopa, ou levo-vos à Intersindical!

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