15/06/10

To vuvuzel or not to vuvuzel: this is the question, por Tshabalala


Durante as últimas semanas tenho ouvido coisas do piorio sobre as vuvuzelas. Que fazem barulho, que fazem mal, que são irritantes, que são isto e mais aquilo e que, por isso, deviam ser proibidas.

É por isso que decidi fazer este texto. Para dar voz à revolta de alguém que entende estas críticas como mais uma enorme prova de racismo do povo português. Querem ver porquê?

Antes de mais, troquemos de papéis: os Mundiais costumam ser jogados sempre em África e pela primeira vez realizar-se-á um na Europa. Em África os sons das vuvuzelas são o ruído típico, assim como os cânticos o são na Europa, a hola-mexicana (vulgarmente conhecida por "onda") nas Américas e aqueles instrumentos a imitar o ruído de palmas no Médio Oriente.

Obviamente que quando começam as transmissões televisivas, os adeptos africanos protestam. Porque as pessoas na Europa cantam mal, quais brancos primitivos que passam o jogo a gritar e que nem sabem levar instrumentos para os estádios.

Logo de um lado surge a ideia de que os gritos provocam rouquidão e mal-estar permanente; de outro, que é bastante irritante, porque qualquer pessoa no Estádio pode cantar e nem todas o sabem fazer; de outro ainda, alguém a sugere que com a gripe que por aí anda e com as pessoas aos gritos logo se torna muito mais fácil a transmissão da mesma, através de algum germe que salta da boca aberta de algum desses brancos nojentos.

Ainda por cima os Europeus gordos e nojentos - principalmente aqueles ingleses horríveis - têm o hábito de deitar abaixo várias grades de cerveja e de depois irem de tronco nu para os estádios. E ainda passam o jogo todo a saltar e a cantar. Imaginem só os graves problemas de segurança que isto causa.

Mas pelo mesmo motivo soam os alarmes relativos ao bem-estar pessoal, à higiene e à saúde pública: é quem paga bilhete não precisa de aturar os brancos gordos, nojentos e transpirados a cheirar a cerveja e a gritar à sua frente ou ao seu lado; para além disso o alcoól mata e facilita as brigas entre adeptos; e para cúmulo andar de tronco nu, para além de ser um espectáculo degradante, ainda é um perigo para a saúde dos burros dos brancos gordos e nojentos.

Começam a aparecer montes de grupos e de manifestações anti-cânticos e anti-álcool antes dos jogos na Europa. Comercializam-se vuvuzelas. Oferecem-se, se preciso for. Mas finalmente consegue-se acabar com essas manifestações terceiro-mundistas de gritar enquanto se vê um jogo.

E, finalmente, a Europa fica civilizada. O Mundial prossegue com os Europeus calados e a tocarem vuvuzelas durante os 90 ou 120 minutos de jogo. Fica um Mundial igualzinho a todos os anteriores: decorrerá na Europa como se estivesse a ser realizado em África. Mas pelo menos o povo africano provou a sua superioridade e impôs os seus costumes...

Agora digam-me se não reconhecem a história que acabei de vos contar. Será que não é precisamente esta a atitude racista que um pouco por todo o lado os portugueses têm adoptado? Será que a ideia de que os nossos costumes são sempre melhores que os dos outros não é uma forma perversa de ver as coisas? Será que o objectivo do Mundial realizado em diferentes Continentes não é, precisamente, o de poder beber dos costumes de cada um dos sítios onde se realiza?

Será, então, legítimo pedir que se proíbam as vuvuzelas simplesmente porque não gostamos do som? E se os africanos não gostarem dos cânticos no próximo Mundial? Teremos de ver o jogo em silêncio?

post picado com a devida autorização de in http://vaipaselva.blogspot.com/

8 comentários:

Anónimo disse...

Apesar de detestar aquela merda não posso deixar de concordar com os argumentos do post. Ainda hoje o parreira veio dizer que gostava das vuvuzelas.

Anónimo disse...

eu quero é que se fodam as vouvouzelas e os seus argumentos

Anónimo disse...

Em Roma faz-te Romano ! Há que respeitar as tradições tribais e locais !
JNAS

Supernova disse...

que texto?!!! irritam-me tanto as ditas como irritava o som da trompete nas antas. Quer dizer que se houvesse um "Mundial" de Ténis em África os tenistas não podiam mandar ninguém calar! As ditas cornetas(até o nome delas me enerva) Não são tradição de África mas sim do país do Mundial. Eles que apitem à vontade só espero que não se lembrem de vir com aquilo para os estádios portugueses ou para a Liga dos Campeões.
E já agora... aquele discrição dos europeus e ingleses.. é assim que nos vês?

Tshabalala disse...

Supernova:
Mas que raio defendes tu?

Primeiro dizes que te irritam as vuvuzelas e que o argumento do post não se aplica porque, dizes tu, segundo a mesma lógica "se houvesse um "Mundial" de Ténis em África os tenistas não podiam mandar ninguém calar". Depois dizes que não são tradição de África mas sim da África do Sul.

Quando toda a gente esperava a conclusão que seria coerente com o teu post tu dizes: "Eles que apitem à vontade" desde que não as tragam para cá.

Torna-se difícil de responder. Alinhas todo o comentário em jeito de discordância com o post e depois concluis que eles podem usar aquilo à vontade lá no país deles...

Quanto à questão final ("é assim que nos vês?"):
Não. Não é assim que nos vejo até porque sou europeu.

Mas das primeiras coisas que se diz no post é: "Antes de mais, troquemos de papéis".

Ora eu estou a colocar-me na visão de um africano quanto aos adeptos europeus caso a conjuntura fosse totalmente diferente.

Portanto a questão que se deve colocar não é se eu vejo os europeus da forma como os descrevi. Seria sim:
E tu, não vês os africanos como os habitantes do continente subdesenvolvido que usam as cornetas primitivas para apoiar os jogadores em vez de fazer como nós, civilização superior, que preferimos cantar?

Supernova disse...

Tshabalala,
não sabia que era essa visão que os africanos tinham do adepto europeu. Mas ainda que tenha aprendido a visão que eles têm de nós quero dizer que não os considero primitivos por usarem a corneta. Ao dizer para eles apitarem à vontade foi por me ter ido abaixo e mostrei um bocado de compreensão. Se me perguntares se gostava de ver um jogo sossegado sem parecer que estou no meio de uma manifestação de camionistas, digo-te que adorava!!! Acho que assim já dá para entender a minha opinião :) Abraço

Anónimo disse...

Bem, o Super tem toda a razão no medo que aqui manifesta: deus nos livre dos bifana bifana exportarem as vuvuzelas para cá! Be afraid, be very afraid...
Makuena

Tshabalala disse...

Super:
Não digo que esta seja a visão deles. Tudo o que escrevi é com base na imaginação. Tentei ver as coisas ao contrário. É óbvio que não sei dizer o que pensavam os africanos se tudo fosse como eu disse no post.

E eu também detesto as vuvuzelas. O que acho é que se faz um bicho de sete cabeças daquilo. E que usamos as nossas teorias da superioridade para tentarmos proibir aquilo.

O que defendo é que se a FIFA não queria vuvuzelas deveria ter escolhido outro país. A partir do momento em que este é o país escolhido não me parece que o argumento de que o barulho é chato seja suficiente para as proibir.

E repito: eu também não posso com aquilo. Mas os bifana bifana é que sabem...