28/07/06

Uma Ideia para um Grande Negócio, por Taylormaker

Começo por dizer que este texto deve ser lido pelos administradores das empresas cervejeiras e de refrigerantes. Ofereço-lhes de mão-beijada um autêntico ovo de Colombo. À borla! Não vos peço nada em troca. Basta pôr em prática a minha genial ideia e vos garanto a decuplicação da facturação no prazo de um ano! É garantido. Meto a minha cabeça no cepo, ou qualquer outra parte da minha anatomia. Duvidam? Leiam até ao fim e verão. A minha ideia é tanto mais genial quanto não exige nenhuma alteração nas linhas de montagem, nos circuitos de distribuição ou nos processos de produção e fabrico. É apenas uma questão de imagem. A ideia ocorreu-me de repente. Assim como ao Arquimedes ou ao Newton. Nós somos assim, dados a relampejos súbitos. De que se trata afinal? Simples, muito simples. Comecei por reparar que a evolução verificada nas últimas décadas ao nível da mentalidade e da sexualidade tende para a afirmação de uma cultura hardcore assumida e descomplexada. Vi outro dia nos escaparates uma biografia de Jenna Jameson, numa excelente edição com bom papel, capa lustrosa e fotografias a cores. E sabem que mais? Achei natural! A edição não estava escondida atrás de uma banca numa papelaria sombria numa rua esconsa de um bairro de má reputação. Não, estava no escaparate da Bertrand. Em destaque. Vi depois a mesma obra na FNAC e na Almedina. Comecei então a prestar atenção a estes indícios que preanunciam uma mudança de atitude mental. Reparei em muitos outros livros. A Taschen, por exemplo, editou uma obra histórica que compila algumas das mais importantes capas das revistas porno das últimas décadas. Tudo explícito. Nos clubes vídeo e nas lojas de DVD os filmes porno aparecem às claras e com grande destaque. Bares de sexo ao vivo há em todo o lado, e não me refiro aos bares de strip. O Alexandre Frota é pouco menos do que um herói nacional, admirado por adolescentes e donas de casa. Pela TV, no horário mais nobre ou no mais insuspeito horário matinal, fala-se de sexo hardcore e mencionam-se os nomes dos filmes e actores. Os festivais do sexo fazem-se em todo o lado com promoções no telejornal, nas revistas femininas e são visitados por milhares e milhares de pessoas. O DVD do making-off do «Garganta Funda» é um sucesso. As sex-shops proliferam, doutores e engenheiros entram e comprem sem segredo os acessórios mais estranhos e bizarros. Dos videojogos e da internet nem vale a pena falar. A cultura porno-pop está aí já triunfante.

Ora foi aqui que eu me lembrei de uma enorme oportunidade de negócio. Cerveja porno! Voilá! Contrata-se uma estrela porno, uma Jenna Jameson seria o ideal mas, na impossibilidade, há milhares e milhares de estrelas consagradas ou a consagrar disponíveis para darem o corpo por este projecto. Depois, pegava-se na moça e levava-se para a linha de montagem. Aqui, a senhora teria que se empenhar. Cada garrafa passariapor um ou vários dos seguintes locais:

a) lábios vaginais,

b) pela depressão inter-mamária com ou sem contacto pelo mamilo,

c) pela região inter-nadegal,

d) o gargalo da garrafa seria abocanhado como se simulasse um fellatio

e) etc.

Depois, e após a edição de uma primeira série experimental limitada e destinada a testar o mercado, seriam imprimidos os rótulos. Em cada um dos rótulos atestar-se-ia a autenticidade do produto anunciado. Cada rótulo seria numerado e assinado pela senhora e por um elemento da direcção da empresa. Digamos um director de marketing ou pelo provedor do utente, por exemplo. No contra-rótulo colocar-se-ia até uma fotografia da senhora em plena acção laboral. Todo o processo poderia ser filmado, fazendo-se do facto boa publicidade, não apenas para garantir que não existiria publicidade enganosa como até se poderia comercializar o filme posteriormente. Conforme a reacção do mercado assim se definiriam os preços de cada variante e se poderia alargar a estratégia a outros mercados mais bizarros e até a outros nichos, integrando trabalhadoras em maior quantidade e diversidade. E, claro, a versão para mulheres e homossexuais com as garrafas a passarem nos colhões, ou com a carica a ser afagada, garantidamente, pelo prepúcio de um qualquer discípulo do John Holmes!

Quem sabe não será um dia possível, com a maior das naturalidades, um de vós, caros leitores, refastelado numa esplanada da Praça da República, responder ao solícito empregado quando ele vos interpelasse:

- Então, sotôr, o vai ser hoje?

- Olhe – responde o leitor - traga-me uns tremoços e uma Superbock Vaginal.

- Vaginal não temos, ó doutor, acabou-se há pouco.

- Traga-me uma intermamal então. Mas fresquinha…

- Isso acho que ainda há. Quer de quem?

- O que é que há?

- Ora, mamais… temos da Linda St. Croix, da Laureen Love e creio que ainda há qualquer coisa da April Flowers.

- Olhe, pode ser essa, a April Flowers. Se não houver traga-me uma com o gargalo chupado pela Jenna, é mais clássico..

- Certamente, ó doutor, é para já.

Será para já?

17/07/06

Vendas


Não hesite! Compre já! Aproveite esta fantástica oportunidade e, por um preço imbatível, adquira um pau de stripper para usar no conforto do seu lar e poupe uma fortuna. Já imaginou o que gasta em privates ou em table-dances? Poupe o dinheiro que gasta em taças de champagne e vodka-martini a preços verdadeiramente exorbitantes. Agora, em sua casa, tem a oportunidade de assistir a shows privados de strip-tease sem gastar um tostão. Basta adquirir o equipamento que lhe apresentamos. Podemos acompanhar a encomenda de uma chibata, para convencer as esposas renitentes, ou de uma jovem boazuda, no caso de a esposa ser muito renitente*. Não perca tempo, compre já! Siga o link. Entregas ao domicílio.

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15/07/06

Abra-se!, por Sancho Lupa

A Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, cancelou há dias, em cima da hora, a abertura do túmulo de D. Afonso Henriques. A antropóloga da Universidade de Coimbra, Eugénia Cunha, propusera-se descobrir as ossadas, liderando uma vasta equipa internacional e multidisciplinar. Cumpriu todas as formalidades e autorizações legais: da Universidade, do IPPAR e da Diocese, o que é muito significativo, direi já porquê. Quando a antropóloga se aprestava para destapar a arca funerária (segundo alguns, a urna terá sido mesmo deslocada), eis que chega a ordem de cancelamento emitida pela ministra. Refeitos da surpresa, acatada a ordem, veio a saber-se que a titular do Ministério da Cultura não foi pessoalmente consultada, pelo que, sentindo-se ultrapassada, terá ordenado a suspensão. Os prejuízos foram enormes, pois que aparelhagem sofisticadíssima estava já requisitada. Além disso, uma nova calendarização do projecto afigura-se difícil e dispendiosa, dado o facto de a equipa científica reunir membros de diversas instituições universitárias. Compatibilizar disponibilidades não será fácil. A ministra, porém, entendeu que o facto de não haver dado autorização expressa é motivo suficiente para tanto transtorno. Eu acho que não, acho que a ministra não tem razão. Não discuto a necessidade de autorização governamental. Parece que noutros países onde projectos semelhantes têm sido desenvolvidos, como em Espanha por exemplo e em relação às ossadas de Colombo, tal não é exigido. Acho até que a razão assiste à Ministra quando se declara surpreendida. A culpa, contudo, é do IPPAR e dos seus dirigentes. A antropóloga remeteu o processo e os requerimentos formais à sede própria: o IPPAR. Obteve aprovação científica pelos órgãos da Universidade e anuência simbólica das autoridades religiosas. Competia aos dirigentes do IPPAR cumprirem os trâmites hierárquicos e submeter o processo ao Ministério da Cultura. Não o fazendo, incorrem em falta e justificam procedimento disciplinar. A Ministra deve iniciá-lo. Desconfio que o não fará. Depois, a Ministra deveria analisar o pedido de autorização com carácetr de urgência e só cancelaria os trabalhos se existisse matéria grave ou suspeita de danos irreparáveis. Não sendo o caso, como não era, nada justifica a decisão tomada.
No meio desta baralhada, e além do prejuízo causado a quem foi cumpridor, ainda se colocou em causa foi a pertinência científica do projecto. Apesar do prestígio dos nomes envolvidos, apesar do enquadramento institucional, apesar dos pareceres de autoridades eminentíssimas como o prof. José Mattoso que atesta a validade do projecto, há quem ache desprezíveis os intentos. Há quem diga que é irrelevante saber a altura de Afonso Henriques, as suas doenças, as lesões e maleitas, o seu aspecto fisionómico. Há quem declare a desnecessidade de tudo isto, incluindo o que se possa vir a apurar sobre as dietas alimentares ou a colheita de amostras de DNA. Eu, na minha humildade, concordo com quem assim pensa. Tudo isto é desnecessário e não lhe acho qualquer pertinência. No entanto, acho que é a mais importante irrelevância da História de Portugal e, por isso, deve ser cometida. Deve-se abrir o túmulo e apurar tudo sobre o rei. Não porque tenha importância em si, mas porque tal acto fará do rei simples objecto de curiosidade e análise científica. E isto é importantíssimo. A carga simbólica que envolve o rei dissipar-se-á depois de, durante quase um milénio, ter sido objecto das mais diversas devoções e mistificações. Desde os discursos restauracionistas, a cargo dos frades alcobacences, que por óbvias razões ideológicas mitificaram a memória do Fundador, até ao nacionalismo romântico e liberal que, em Oitocentos, encontrou no estudo das origens a raiz da identidade nacional em construção, até ao tradicionalismo contra-revolucionário protagonizado por D. Miguel que chegou mesmo a desenterrar as ossadas do rei em quem via o símbolo máximo da autoridade cuja preservação se impunha defender contra o liberalismo ameaçador, até ao catolicismo mais beato que chegou a propor e a iniciar um processo de canonização do rei numa era que a Igreja se via ameaçada pelo processo de secularização e laicização da sociedade, sem esquecer a sobreposição que o providencialismo historicista, autoritário e nacionalista do Estado Novo que promoveu uma sobreposição interesseira entre a memória do rei e a imagem de Oliveira Salazar. Após a revolução de Abril, a memória do rei sofreu um processo de depuração pela pior via: o esquecimento.
Agora, por fim, as ossadas parecem remeter-se à sua condição: ossos estudáveis. É curioso que, pela primeira vez na História longa das ossadas, de quase um milénio, elas se considerem pela primeira vez como simples ossadas. O olhar científico, a desideologização dos tempos, promove esta nova abordagem, a não ser que consideremos, e é essa a minha opinião, que esta cientificização das relíquias é em si uma ideologia. Assim, o que é muito curioso e significativo é que as autoridades eclesiásticas tenham aceitado pacificamente que o féretro fosse objecto de banalização ao constituir-se como objecto de estudo, ao passo que as autoridades civis que muito recentemente elevaram os túmulos régios de Santa Cruz à dignidade de Panteão Nacional, tenham requerido tantas formalidades e exigido tanto rigor no processo, alegando a delicadeza do assunto, o que parece demonstrar que as ossadas passaram da tutela religiosa da Igreja Católica para a tutela cívica do Estado. Assim posto, a recusa ministerial é uma forma de apropriação simbólica do património quase milenar das ossadas afonsinas.

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12/07/06


1946 -2006

10/07/06

A Última Copa, por João Bocejo

A Itália ganhou. Perderam a França, o Zizou e o futebol. A França ainda bem que perdeu, o Zizou merecia melhor despedida o futebol perderia mesmo que a França ganhasse. O futebol perderia se a Alemanha ganhasse. Ou Portugal. O mesmo se acaso o Brasil ou a Argentina lograssem o título. Ou qualquer um, à excepção de uma nação africana. Aí sim, aí o futebol voltaria a encantar-me. Confesso que ando desencantado com este desporto, muito particularmente com os campeonatos do mundo. Não falo das suspeitas de manipulação e corrupção. Falo do tacticismo. O jogo está monótono, medroso, maçador, aborrecido e sonolento. Em 120 minutos há dois ou três remates para cada equipa. O resto é ansiedade e nada mais. Não há resquício de espectáculo. Não fora a memória que guardo de grandes campeonatos passados, uns testemunhados, outros apenas vistos em diferido com décadas de permeio, e o jogo não me atrairia minimamente. Compreendo os americanos que, em face das euforias europeias e sul-americanas, bocejam de tédio e perplexidade. O bocejo americano é tão emocianante como a taça Jules Rimet. O preocupante é que isto não é de agora. Desde o Itália 90, ao USA 94 e o Coreia / Japão 2002, com a louvável excepção do França 98, os campeões são indignos, as competições são chatíssimas, não há chama de glória, não há heróis, não há nada de memorável. E porquê? Porque razão o campeonato se tornou um longo bocejo, à excepção do França 98? Eu tenho uma explicação.
O encanto do jogo não é inerente ao jogo, é um acrescento, um suplemento encantatório. Quando inventado, era atlético e tacticista. Os sul-americanos, e muito particularmente os brasileiros, sobrepuseram a fantasia à táctica. A raiz africana e o factor-favela, entre outros aspectos determinantes, fizeram do jogo o espectáculo mais popular do planeta. Foram os anos dourados do Brasil e do Uruguai. O campeonato do Mundo conheceu os seus anos de glória. A par destes sucessos, e por causa da popularidade do jogo, o campeonato tornou-se alvo da cobiça política dos nacionalismos exacerbados. Não apenas dos ditadores, que nunca desprezaram a ocasião para alardearem a idiotice do nacionalismo imperialista. Francisco Franco teve, em 1964 e em casa, a oportunidade de, através de uma roubalheira histórica, humilhar os soviéticos na final. Não foi um Mundial, foi um Europeu, mas se o Caudillo estivesse à espera de um Mundial, ainda hoje era vivo e estava sentado.... à espera. Com outro alcance, já o inspirador Mussolini, mais do que a Itália, vencera em 1934 e 38. De igual modo, a Argentina dos Coronéis roubou indecentemente o Mundo em 1978. Se a roubalheira agrada aos ditadores, os democratas também não desprezaram o Campeonato do Mundo para exibirem as suas virtudes nacionais. Foi o caso da Alemanha reconstruída do pós-guerra que se reabilitou em 54, com uma roubalheira épica, às custas da Hungria. A RFA voltaria a ganhar em 1974, com justiça é certo, sendo que o derrotado, mais do que a Holanda, foi a RDA, incapaz de ombrear com o gémeo capitalista. A Inglaterra de 1966, contra a Alemanha, exibiu o seu chauvinismo com uma soberba autárcica e imperial. Poucos anos após aderiam à CEE. Hoje, permanecem eurocépticos e nunca mais ganharam nada.
A maior demonstração, e mais genial, de manipulação do jogo pelo nacionalismo foi o México 86. Mas, e isto é muito importante, a vingança nacional da Argentina face à Inglaterra, depois da derrota das Malvinas, foi feita com a mais justa batota da história do futebol, a célebre mão de Deus de Maradona. Só que, e a diferença é abissal, o aproveitamento não foi atlético , nem esmagador, nem descarado. Foi sim, mais uma vez, encantatório e apaixonante. A guerra quixotesca que a Inglaterra fez nas Malvinas, vingada por Maradona, foi um anacronismo idiota, pois mostrou o esgotamento do paradigma imperial e do conceito de soberania que vingou no mundo ocidental nos últimos 200 anos. De então em diante, a globalização, a miscigenação, as migrações, o reoordenamento das fronteiras e o realinhamento dos grandes blocos estratégicos, com a reunificação alemã, a implosão soviética, a balcanização de muitas regiões do globo, a criação de um espaço europeu, a clivagem civilizacional com o Islão, entre outros factores, vêm mostrar como o paradigma moderno do Estado-Nação está em desagregação. Ora, os jogos do Campeonato do Mundo assentavam sobre o embate de equipas nacionais. A sua emoção e o sucesso que alcançaram resultavam dessa condicionante. Esgotado o conceito, o jogo tacticizou-se. Foi a era dos Itálias 90, USA 94 e Coreia /Japão 2002. Com a honrosa excepção do França 98. Justamente a equipa mais multinacional e multicultural de que há memória na história da copa. Foi a equipa adequada ao seu tempo: não era uma equipa nacional. Daí a excepção. Outras selecções aceitaram esta imposição moderna e desataram a naturalizar jogadores. Deco, Marcos Senna ou Camoranesi são apenas alguns exemplos, entre muitos outros.
O campeonato que hoje terminou, mais do que a derrota da França, a cabeçada e correspondente expulsão de Zizou, ou a vitória da Itália, mostra como o jogo, já não impulsionado por pulsões nacionalistas, não é mais do que um maçador exercício calculista e tacticista. A asfixia de Ronaldinho e a gordura de Ronaldo foram os factos mais relevantes, por sintomáticos. Por mim, é o fim anunciado. O Campeonato do Mundo não tem futuro.

05/07/06

POR-TU-gaaaaal...., por Cidadão do Mundo

Hoje é dia de meia-final. Pela segunda vez na história dos campeonatos do mundo de futebol, Portugal joga a possibilidade de aceder à final.
Imaginemos que o resultado dependeria, não do apoio prestado através das bandeiras penduradas à janela, mas.... do número de mamadas que cada cidadão nacional fizesse num cidadão do país adversário! Isto é, a vitória da selecção nacional resultaria do número de mamadas que os "tugas" fizessem em cidadãos franceses! Não esqueçamos que a França tem cerca de 60 milhões de habitantes! O desequilíbrio é enorme! Seria uma espécie de Aljubarrota porno-futebolística. Mas nós somos os maiores! É ou não é verdade? Até onde vai, caro leitor do Porco, o teu apoio à selecção? Serias capaz de participar neste grande empreendimento nacional? Ou és um traidor, um vende-pátrias?

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