Não acredito em sondagens, mas tenho a sensação de que a campanha eleitoral correu bem ao ingenheiro e mal à MFL. A responsabilidade é, do meu ponto de vista, mais demérito desta última e, globalmente, de toda a oposição do que do mérito do ingenheiro ( que se teve algum foi o de ser o fiel executor da enorme operação de marketing que o conseguiu transformar, aos olhos de milhares de pategos ingénuos, de animal feroz em cordeirinho angelical). Mas onde esteve, então, o grande erro da oposição em geral e de MFL em particular?
Simples. Na péssima opção estratégica de não abordarem o tema-chave da falta de ética e de idoneidade do ingenheiro. Seria discutir o homem? Ah pois era, mas é um homem que vamos eleger para ser primeiro ministro, não é um querubim.
Não entendo, simplesmente não entendo, como é que se decide branquear pelo silêncio todos os casos em que o ingenheiro está envolvido e dos quais nunca conseguiu dar explicações mais titubeantes que «campanhas negras», «cabalas» e afins. O ingenheiro entrou na campanha a medo: a sombra dos casos em que está envolvido deixavam-no nitidamente pouco à vontade no princípio da campanha. Mas vieram os debates e nenhum interlocutor levantou a mais leve dúvida que fosse sobre os referidos casos. Que acham os senhores estrategas da oposição que o povão pensou? Pois, que o homem estava ali, olhos nos olhos e ninguém o confrontava com o que importava. E socas ganhou confiança, satisfeito por verificar que os outros respeitam os seus próprios fantasmas. A oposição não percebeu que ao escolher esta inconcebível estratégia de pudor perdeu duas vezes: perdeu porque deixou os seus apoiantes, que estão convencidos da culpabilidade de socas, abandonados; e perdeu ao levar os indecisos a inclinarem-se para a inocência do cordeirinho que, afinal, nunca foi confrontado como devia.
Convém lembrar aqui que perguntar não ofende. O envolvimento do primeiro ministro em tantos casos justificava que, cem, mil, dez mil vezes se fosse necessário, ele fosse chamado a esclarecer:
- O modo como tirou a licenciatura na famigerada Independente;
- o Morais das 4-cadeiras-4;
- O caso fripó;
- O alegado envolvimento de familiares em negócios públicos como o licenciamento do fripó;
- A misteriosa tendência de familiares que resolvem emigrar para sítios tão estranhos como a China e Angola;
- O caso das pressões aos magistrados que investigam o caso fripó;
- A não demissão do indivíduo que fez essas pressões, o ilustre xuxialista lopes da mota;
- O caso da cova da beira;
- O caso das casinhas da Guarda-Covilhã;
- O caso da compra do apartamento de luxo por metade do preço;
- O caso do silenciamento do Jornal de Sexta, a principal oposição a sério, do ingenheiro.
- A perseguição e o processo ao blogger do Portugal Profundo (entretanto absolvido);
- O caso do processo por delito de opinião a um jornalista do DN (entretanto absolvido);
De repente, todos estes temas tornaram-se tabu e, estranhamente, a campanha eleitoral revelou-se mais pacífica para o ingenheiro do que o período anterior em que todos os dias estes temas eram debatidos. Isto é completamente absurdo - parece que o país inteiro é que deve explicações ao socas quando, afinal, é ao contrário. ele é que nos deve, a todos, explicações convincentes. Antes de discutir política, eu acho que era essencial que o ingenheiro esclarecesse, cabalmente, o seu envolvimento em tanto caso e cito apenas alguns e de um modo geral para não cansar ninguém com pormenores. Mas seria natural e até uma obrigação que alguém que se apresenta como candidato a primeiro ministro deste país fosse confrontado com tanta mixórdia. Depois o povo decidiria se um homem assim tem ou não condições de idoneidade para desempenhar o cargo. Mas a oposição, toda a oposição (!) achou que não, achou que devia deixar todas estas questões em banho maria, para serem esclarecidas sabe-se lá quando...
A situação faz lembrar a daqueles casais desavindos que têm um problema tão grave mas tão grave por resolver, que preferem não abordá-lo. Então passam os dias a falar de inanidades e de futilidades para não terem que mexer na ferida, no problema de fundo. Esta campanha eleitoral parece a mesma coisa: o tópico da credibilidade do ingenheiro é absloutamente decisivo. Mas como se optou por não se falar desse tema, soa tudo a falso e parece que estão todos a assobiar para o lado. É rara a ferida que sara sozinha - na maior parte dos casos, o que acontece, é que ela se agrava e infecta ainda mais!
8 comentários:
Hoje vi imagens da arruada dos xuxas no posto. curiosamente vi muitos velhotes. Parece que a população reformada virou apoiante de socas a meio da semana. às tantas entrevistaram uma senora velhinha que disse que estava ali já desde as duas horas. E não houve qum só jornalista que lhe fizesse a pergunta óbvia: «e a senhora é do Porto ou chegou numa camioneta carregada com os seus amigos da santa terrinha»? Para quem, como eu, está habituado a ver as «camionetas de carreira» xuxas a chegarem ao parque de estacionamento da margem esquerda do rio mondego em coimbra quando há comícios dos xuxas esta era a pergunta que tinha de ser feita. Palavra de honra que não percebo esta campanha nem a cobertura que é dada às operações de propaganda mais pífias e descaradas...
Como é que o povo ainda acredita que estes podem vir a ser governantes sérios?
Fónix! Fiquei, mais uma vez, enojado!!!
"Foram precisas apenas dez horas para 'apagar' as infracções que, anteontem, conduziram à apreensão de três carrinhas do PS, no Barreiro, e à passagem de uma multa de 1110 euros ao partido. Por ordem da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) - entidade que depende do Governo -, que alegou "a defesa do exercício de liberdades", a GNR devolveu as viaturas retidas, e perdoou a coima."
http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?channelid=00000181-0000-0000-0000-000000000181&contentid=A1BB57AC-9E45-453F-AA84-B64CDDD19E61
A notícia anterior é de 18 de Setembro.
apesar de ser longa e em espanhol vale a pena a leitura destea pasagem do excelente artigo publico pelo filósofo José Gil no El País de hoje:
«De esta forma, han muerto las discusiones importantes, se han desvalorizado y se han apagado problemas decisivos que se plantean en el Portugal de hoy: desde la libertad de expresión y las presiones políticas sobre las empresas al caso Freeport, pasando por la corrupción, las disfunciones de los órganos de soberanía, el desempleo que sube de forma exponencial, la pobreza de dos millones de portugueses, el endeudamiento exterior del Estado, el futuro de las reformas comenzadas y pospuestas. (...)
Ya hemos recordado varios factores con especial relevancia para el cambio de imagen del líder socialista. Cambio radical, que ha tenido un efecto radical también: se ha abolido la conflictividad dura en toda la campaña. Las críticas de los adversarios se han atenuado, han perdido perspicacia, se han amoldado a la moderación y contención de la nueva imagen de Sócrates -y se han vuelto incluso reverentes, casi siguiendo apenas los temas y las cuestiones propuestas por Sócrates para su discusión, olvidando y evitando las que él evitaba-. Se ha formado de esta manera un escudo, una especie de barrera de rechazo que ha paralizado y condicionado a los adversarios y todo el clima de la campaña. Sobre todo porque el Gobierno lo aprovechó para relanzar entretanto el "Estado social", con miríadas de iniciativas puntuales de ayuda a los más desfavorecidos, a los estudiantes, a las pequeñas y medianas empresas, dando la idea de una política "que piensa en las personas". La oposición quedó desarmada. Y el ciudadano común entró en múltiples impasses dobles (estar en contra de Sócrates es estar en contra de uno mismo, votar por Sócrates es creer que su política ha cambiado, al igual que su imagen...). Ahora bien, el doble impasse lleva al colapso emocional o a la anestesia de la irrealidad. El pueblo portugués ha escogido la segunda vía.»
Que "infracções" é que foram apagadas?
Se o palhaço travestido ganhar é uma vergonha para portugal. E para alguns portugueses. Por outro lado, o país tem o que merece: a quem apanha e gosta de apanhar, não há alguma associação de apoio à vítima que o salve. Pobre e triste país. Que motivação para trabalhar quando o que vale é a mentira, a corrupção, o compadrio, a dissimulação? É um fartar vilanagem...
MadreDeus
A mim parece-me que se não tivesse havido um Manuel Vilarinho que no frente a frente com Vale e Azevedo o despiu dos argumentos com que tentava tapar os seus roubos, este último ainda hoje seris Presidente do Benfica. Porue enquanto o fosse a Justiça não lhe pegava.
Quando escolheram a Manuela Ferreira Leite para enfrentar o Giosepe de Maçada sabiam que ela não era capaz de fazer o papel que o Vilarinho fez. E o Pinto de Sousa sabe que quando cair do Governo ou o Durão Barroso o puxa por uma mão para a Comissão Europeia ou vai parar à prisão. Por muitas melhores razões do que o Vale e Azevedo. Pena não ter sido desta...
Mas ainda chamam engenheiro ao bicho por alma de quem, foda-se !!
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