01/04/11

Como Identificar um Xuxa? - parte II, por R. Attenborough

No post anterior procurei identificar as espécies mais óbvias de xuxas: os dinossauros e os «animais ferozes» que são do género assumido. Mas se esses são fáceis de identificar o problema é quando se trata de reconhecer as espécies reptilianas e insectóides de xuxas: os não assumidos. Esses confundem-se com a paisagem, fogem à discussão e procuram passar discretos e silenciosos. Mas têm algumas características inconfundíveis. É esta espécie particular de xuxa que dá cabo deste país. Aprendam a identificá-los. Há alguns sinais que nunca mentem.

1. Um xuxa deste tipo nunca defende o ps nem o socas. Ele tem como pressuposta a ininputabilidade do ps e do socas. No fundo o xuxa camaleónico reconhece que toda a bordoada que o seu líder coreano e o partido levaram nos últimos anos é mais que merecida. Mas em vez de dar o passo lógico que se impõe - que os xuxas não prestam e devem ser varridos do mapa partidário! - limita-se a perguntar e aqui está o segundo traço que nunca falha:

2. «Pois, estes são maus. Mas e os outros?».
Notaram? Pois é, ao mesmo tempo que parte do princípio da ininputabilidade dos xuxas – como se eles fossem uma rapaziada travessa a quem nunca se podem assacar responsabilidades – «os outros» arcam com a responsabilidade toda, mesmo daquilo a que são completamente alheios. E responde o xuxa-insecto automaticamente:

3. «Os outros ainda são piores».
Não interessa quem são os outros nem se nunca governaram ou se não governam há seis anos. O xuxa simplesmente pressupõe que por necessidade metafísica «os outros» têm que ser piores que os seus. É uma fé…

4. Esta versão pode assumir a variante moderada que é «Para mim são todos iguais». Não são. Nunca são. Um gajo que diz isto, regra geral, vota xuxa. É um dos tais que que passa o ano inteiro a negar ter votado xuxa, mas que, é certo e sabido, na hora da verdade lá faz a cruz na desgraça do ingenheiro.

5. Outra marca ideológica inconfundível é o famigerado «mas eles até fizeram coisas positivas»…
É verdade que é praticamente impossível que em 6 anos de pesadelo governativo xuxa nada haja de positivo, mas isto é tomar a árvore pela floresta, o acidental pelo essencial, a excepção pela norma. Os xuxas fizeram alguma coisa de positivo pelo país? Bem, assim a primeira estou a ver, huuuuuuummm, sei lá, olha a lei anti tabaco, tá bem feita... Mas ao pé da imensidão galáctica de asneiras e vergonhas que eles deixam, o pouco que fizeram é objectivamente ridículo.

6. Outra: um xuxa destes que se arrastam de bruços pela poeira da savana, também acha que «a culpa foi da crise internacional que foi a pior dos últimos 100 anos». Isto é não perceber nada de história do século XX nem querer ver que, de todos os países que enfrentam a crise, nós - juntamente com a Grécia (que falseou as contas) e a Irlanda (cujo sistema bancário estava tramado) - estamos na cauda da cauda europeia e mundial.
E foi «a pior dos últimos 100 anos» como? É de rir. Recordo só que nos últimos 100 anos tivemos a primeira guerra mundial, o crash da bolsa nos anos 30, a crise da alemanha, a segunda guerra mundial, o flagelo da europa destruída no pós segunda guerra que levou ao plano marshall, a crise do petróleo dos anos 70 e, no caso português, a guerra colonial, a descolonização portuguesa feita como foi, a entrada dos retornados, o fmi que já cá esteve antes, etc, etc, etc. Saímos de todas e nunca atingimos os actuais níveis de endividamento, de desemprego, de despesa pública, de corrupção… A última vez que foi declarada a bancarrota em Portugal foi ainda no século XIX. Agora estamos lá perto! Mas o sr ingenheiro e os asnos que lhe dão ouvidos acham que esta crise de agora é que é a pior. É completamente delirante!

Em suma, o xuxa-ratazana deste tipo já nem procura defender os seus porque os sabe indefensáveis. Mas sabendo-os péssimos, limita-se a pressupor que os outros são ainda piores. É como se os adversários tivessem que justificar a sua excelência absoluta por contraponto ao minimalismo xuxa.
Depois de anos e anos a reclamar-se de baluarte do socialismo democrático em Portugal, eis ao que se reduziu o argumentário corrente do xuxa nos começos do século XXI: «os outros ainda são piores! E a culpa é da crise externa. E porque não olham para as coisas positivas que «eles» fizeram?». Convenhamos que é pobre. Miserável mesmo. Mas cuidado, muito cuidadinho, eles andam aí...

5 comentários:

Anónimo disse...

"Politics, it seems to me, for years, or all too long, has been concerned with right or left instead of right or wrong"

"Hell, I never vote for anybody, I always vote against"

"All of us who are concerned for peace and triumph of reason and justice must be keenly aware how small an influence reason and honest good will exert upon events in the political field"

"Politicians are the same all over. They promise to build a bridge even when there are no river."

estas frases são as que me ocorrem ao ler estas palavras de tanta sabedoria.
Que grande depressão para aí vai.
UIIII!!!! Deus me livre de contrariar algum pensamento do sr. com a raiva que para ai anda era homicídio pela certa.
O David Attenborough é uma pessoa que respeita tanto o caçador como a presa... Que péssima homenagem lhe é aqui feita.


Spectator

Anónimo disse...

essa é fácil: é ver uns gajos com uns cornos do caralho

Anónimo disse...

Olha um, lá em cima...

Luís Maia disse...

a minha dúvida é se mister Attenborough que escreve este magnífico ensaio não esconde afinal um angelical laranja que nos quer fazer crer, que tudo começou há 6 anos, Antes disso com a benção do anjinho Silva, estávamos na maravilha

Anónimo disse...

Nem angelical nem laranja, caro Luís Maia. Anti xuxa, acima de tudo. O que noto é que a reconversão do discurso xuxa levou a este minimalismo inconfundível que denuncio no post. Pelo contrário, acho que agora o que importa é concentrarmo-nos nisto: correr com a escumalha! E qualquer discurso que se disperse para se concentrar «nos outros» não é mais, para efeitos práticos, que um branqueamanto aos xuxas. Não que não seja importante - mas só virá depois.
D. A.