10/06/12

Às Vezes apetece-me meter uma bandeira da alemanha na janela da minha casa só para chatear, por Judeu

A primeira página d´A Bola de sábado é um verdadeiro documento para memória. É uma peça de manipulação exemplar - um tratado de mensagens subliminares, de exaltação ao nacionalismo serôdio, à xenofobia anti germânica e à mistificação que confunde futebol e nacionalismo. Um mimo que merece uma análise singela.

Esta página é dividida em duas partes: a parte maior, a parte superior é ocupada com a bandeira portuguesa como fundo e um enorme cristiano ronaldo de fato e gravata com ar de gozo a olhar de cima para baixo. Numa pequena parte da metade do canto esquerdo, a bandeira alemã e um pequena foto tipo passe da chanceler merkel de olhos esbugalhados e boca aberta a olhar para cima, para o «nosso» monumental cristiano. Os seus olhares cruzam-se a senhora pequenina parece alucinada com o enorme ronaldo. «No futebol as contas são diferentes da economia», escreve-se em cima como que para orientar o olhar. Quer dizer, na bola somos muito maiores que os alemães e a merkel até está assustadiça com a imponência do nosso menino de ouro.

Como justifica o jornal a chamada de primeira página da foto de merkel - afinal a merkel não joga na selecção alemã? Com uma pseudo notícia indecifrável: «Angela Merkel talismã da selecção germânica, confirma boicote aos jogos na Ucrânia». Perceberam? Eu também não. Percebo que a foto de Merkel não a retrata na qualidade de chanceler mas de «talismã», assim como uma espécie de trevo de quatro folhas ou de rato da sorte que os alemães usam nestas andanças. De resto só nas páginas interiores do jornal é que se percebe o que é que isto tudo quer dizer: que a chanceler merkel dá sorte à selecção que nunca perde quando ela vê os jogos ao vivo (talismã) e que desta vez vai estar ausente como forma de protesto contra a situação política da Ucrânia («boicote»!!!). Portanto: Merkel não vai assistir ao jogo. Boicote à ucrânia! Sorte nossa porque falha o talismã alemão. Valha-me Deus...

No centro, em letras garrafais: «VAMOS EXPULSAR A ALEMANHA DO EURO», assim mesmo, sem meias palavras. Deliberada ambiguidade entre o «euro» de futebol e a zona euro. Como não os podemos expulsar da zona euro, expulsamo-los do campeonato da europa. Mas isto não era só o primeiro jogo de ambas as selecções - como «expulsar»? Mesmo que eles tivessem perdido não estavam expulsos. E eu que pensava que o objectivo deste jogo era apenas ganhá-lo. Mas aqui o jornal como que formula o que entende ser um desejo colectivo recalcado de vingança contra os boches - vamos corrê-los, era bom «expulsá-los» do euro.

É degradante a mistificação que aqui se faz, a sobreposição entre futebol e política, entre bola e nacionalismo (bacoco) e o apelo aos instintos xenófobos mais primários. O jornal pretende aproveitar o clima de revolta latente que se vive no país, com as imposições da troyka, para fazer do chuto na chincha uma ocasião de ajuste de contas com a alemanha. Degradante, repito.

Se esta fosse a primeira página do Kicker ou do Der Spiegel imagino o que não diriam os nossos nacionalistas sazonais da altura dos euros...  Como imaginar sequer uma página de um jornal alemão a dizer sobre a selecção portuguesa, «Vamos corrê-los do euro»? Chauvinimso, xenofobia, racismo, nazismo, imperialismo, fascismo e outros ismos. Tínhamos matéria para prgramas especiais de indignados. Mas é só uma primeira página d`A Bola, uma página portuguesa concerteza. Como tal, não passa de uma mera página patriótica. Portanto tá tudo bem: viva a pátria, avancem os canhões, marchar marchar...

2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Judeu, o que escreves agora já nós cá no Porto dizemos há muito. Este jornal não tem pés nem cabeça!!

Anónimo disse...

Amigo tripeiro (sem ofensa): é verdade que a Bola faz, às vezes mau jornalismo. Mas o Jogo daí do Inbicta também não é melhor. è até muito pior, penso eu de que... Como leitor procuro é estar atento e ser crítico, como é o caso actual.
Judeu