O Pacífico pela primeira vez! É certo que ontem já tomei
banho numa enseada do fantástico Golfo de Papagayo. Mas, embora de uma beleza
invulgar, a Playa Bonita situa-se numa enseada relativamente fechada. Faltava-me
o horizonte, sem montanhas nem rochedos a travá-lo, faltava-me a sensação de
mar aberto, o feeling de estar imerso
num pouquinho só da maior e mais profunda massa de água do planeta. Por isso
saímos hoje da Playa Bonita e viemos até à Playa Hermosa, 10 klm mais acima, com
o Pacífico aberto, imponente, diante de nós. Daí a sensação de o ver pela
primeira vez, quando, realmente, é a segunda vez que o vejo.
O nome deste mar é óbvio: as suas águas são calmas, ao nadar
parecemos deslizar, viro para esquerda e é como se estivesse a descer, viro
para a direita e é a mesma coisa. É fácil nadar aqui, flutua-se facilmente e a
água transporta-nos sem precisarmos de fazer qualquer esforço.
O navegador espanhol Vasco Nuñez Balboa foi o primeiro
europeu a avistá-lo pela primeira vez em 1513, ao cruzar o istmo do Panamá.
Chamou-lhe Mar del Sur. Mas foi
Fernão Magalhães quem o baptizou como Pacífico durante a sua viagem de
circum-navegação (1519-22) porque lhe pareceu, ilusoriamente, que este mar era
mais calmo que o Atlântico. Na realidade não é assim. O Pacífico é muito mais
perigoso – é o maior oceano do planeta e, nele, é tudo em grande, até a
violência das suas águas, quando se irrita. Também ajuda o facto de ter maior
incidência de correntes marinhas que os outros mares e de ser atravessado pela
maior fenda geológica do planeta, o Anel de Fogo de cerca de 40 000 klms, localizada
na Ásia. Daí a ocorrência de tsunamis
devastadores a que se vêm juntar furacões e tempestades regulares. Mas, como
oceano esquizofrénico que é, quando é calmo, este mar é mesmo muito calmo e
foi, sem dúvida, num dia plácido como o de hoje que Magalhães o contemplou.
Terá nadado nestas águas, como nós agora (especulo), e foi o próprio mar a
sussurrar-lhe o nome: Pacífico.
Perto da praia, as águas são turvas, mas não se trata de
poluição. È simplesmente o efeito do areal escuro – a Costa Rica é um país de
vulcões, é natural este cinzento arenoso. Nada-se um pouco e agora o mar já é
verde, cristalino, vê-se bem o fundo e os seus peixes psicadélicos. À superfície
saltam cardumes de peixes voadores, cangurus do oceano.
Enquanto saboreio o melhor ceviche de pescado que alguma vez provei, numa simpática barraca de
praia, observo o rochedo imponente coberto de vegetação que equilibra o imenso
horizonte. Mas quando volto a olhar, o céu que parecia límpido, abriu um pouco
mais e distingo um novo pão de açúcar que aparece atrás do primeiro. Já lá
estava ou nasceu agora? Neste mar tudo parece possível e o ceviche está tão bom…