Prefiro mil vezes A Paixão de Cristo de Martin Scorsese e a dimensão humana e céptica que está por detrás da sua Santidade. Scorsese coloca-nos no lugar de Jesus. Gibson limita-se a despertar um mórbido sentimento de horror e comiseração. É certo que o filme de Scorsese foi recebido como herético por se fundar nos Evangelhos Apócrifos, mas é, de longe, muito mais pertinente e faz muito mais pela mensagem Cristã do que a visão reaccionária e retrógrada de Gibson, supostamente baseada nos evangelhos oficiais.
- Eh malta, não percam esta cena, é espectacular, o gajo agora vai-lhe dar com um cacete ainda maior… É sangue por todo lado...
Ou seja, os alunos estão a ver o filme como vêm qualquer vulgar filme de «artes marciais», de perseguições de automóveis ou de sanguinárias batalhas de Power Rangers no espaço. O que admiram é, simplesmente a crueza da violência em todo o seu esplendor. Parece que em vez do filme formar os alunos piedosos e bons cristãos de que o professor estava à espera, está é a formar verdadeiros cultores da violência gratuita. Eles apreciam os golpes como se fossem poemas, admiram mais a brutalidade do soldado romano que o sofrimento de Jesus. Em vez de sentirem pena e compaixão, aplaudem, isso sim, os esguichos de sangue a jorrarem no écran… Um filme destes é perigoso até do ponto de vista dos seus próprios objectivos. Gibson passou os limites do decoro. E é por isso que eu receio que a anedota se torne realidade: que o seu próximo filme seja mesmo a descrição detalhada durante três horas dos últimos dois minutos da vida de Joana D`Arc a arder na fogueira, santa agonia, valha-nos Deus que bem pode…
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