08/11/08

O Saramaguito, porque As Vacas Não São Sagradas

Fora dos livros, Saramago é um homem sem grandeza. Um cidadão com ideias regra geral banais, desinteressantes, pequeninas e azedas. E com uma forte tendência para o disparate. Uma espécie de Noam Chomski dos pobrezinhos. Ou de Soares da literatura. E o Nobel e o filme do brasileiro agravaram-lhe os piores tiques, como a vaidade, não que seja má coisa em si mesma, mas no sentido em que lhe dá mais vontade de falar, sente-se legitimado para a pregação, para dizer o que pensa aos quatro ventos. Então em alturas de lançamentos, quando está realmente por todo o lado, é um fastio ainda maior.

Gosto de alguns livros dele, mas, de facto, nunca simpatizei com a personagem. Talvez, inicialmente, por influência de convívio com colegas jornalistas mais velhos, daqueles que conheceram o homem nos tempos do PREC e de outros arraiais dos nossos seventies, de jornais nacionalizados e controlados pelo PCP e de censuras e saneamentos e coisas antipáticas afins, e de como Saramago era um dos intelectuais de estimação e de serviço do pessoal moscovita. Aliás, ainda é, pelo menos de estimação; mas até nisso é pequenino, é vira o disco e toca o mesmo. E repete um discurso que continua a não trazer nada de excitante, de mobilizador, de original. Mas acho, basicamente, que é um tipo filosoficamente pobre.

Por esses e outros episódios, atitudes e palavras, lá fui concluindo ao longo dos anos que o senhor é um bom artesão de letras mas efectivamente não tem grandeza universal, muito menos a que costuma vir associada a um Nobel, que o transformou também numa espécie de embaixador português no mundo. É o Ronaldo e o Saramago. São as nossas duas grandes figuras de referência no mundo. E isso é triste. Eu acho. Até o Eduardo Lourenço faria melhor figura. Ou o Lobo Antunes, que é um tipo sem dúvida nenhuma muito mais interessante e inteligente. Até o pedantismo cínico do Antunes é superior ao pedantismo árido do Saramago. O Miguel Esteves Cardoso, que regressa à ribalta em grande forma, outro tipo muito mais interessante e importante, por exemplo. Só em Portugal há mais e melhor.

Mas, definitivamente, no palco internacional nota-se muito mais a diferença e Saramago não tem a grandeza de espírito nem a sabedoria de uma Doris Lessing, de um Orhan Pamuk ou mesmo de um Gunter Grass, só para mencionar alguns contemporâneos, que realmente interessa ler e ouvir com atenção. Ou mesmo na sua área política, um Slavoj Zizek. Nem de longe nem de perto. A entrevista que saiu ontem num dos suplementos do Público e a conversa recente com Carlos Vaz Marques na TSF, confirmaram as minhas suspeitas. As ideias do Saramago esgotam-se nos livros.

Diz que este último, o do elefante que vai morrer à Áustria, é decente. Espero que sim, e que seja um sucesso e que o homem continue a ganhar muito dinheiro com a sua escrita. Para mim, fora dos livros, é um Saramaguito.

Mas quem quiser perceber melhor do que aqui falo, por favor verifique as diferenças, entre um intelectual interessante e outro nem por isso.

17 comentários:

Anónimo disse...

Venho do blog Dom José Primeiro, de um link antigo e cheguei ao post sobre o terramoto de 1755. Parabéns! Publique-o por favor.

Anónimo disse...

J, o Miguel Esteves Cardoso, "um tipo interessante e importante"? Tem dó. O homem já não diz nada de interessante há mais de vinte anos. Referes-te à entrevista que ele deu à Sábado, àquela colecção de mexericos e confissões, do tipo, eu fomava droga e agora só bebo água e gosto de ir dormoir a suites de hotel? Um génio. E olha que tu já tens idade para te lembrares do Escritica Pop, isso sim, coisa catita. O mais engraçado é que ele próprio diz, muito candidamente, que a malta engole tudo o que ele diz como se fosse uma coisa genial...

noddy

Anónimo disse...

Noddy, noddy... Andas desatento (pelos vistos desde o Escritica Pop, excelente livro, por sinal). Ou então é preconceito. Ou andas a ler as revistas erradas. O MEC é uma figura incontornável da cultura lusitana contemporânea, desde o Independente à Kappa, passando pelos muitos outros livros e centenas de crónicas brilhantes. Reduzir o MEC ao Escritica Pop é um exercício de pedantismo ignorante, desculpa lá ó noddy o mau jeito.
Não é um tipo do "mainstream", como o saramanguito, é um heterodoxo, mas é uma cabeça fértil e original. E um dos radiografistas mais lúcidos da "alma nacional". Entre um e outro não hesitava dois segundos.
Não sei de nenhuma entrevista à Sábado, mas ouvi uma recente eventualmente mais interessante: http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1022971

Anónimo disse...

O MEC, desde há muitos anos para cá, anda a fazer variações ao tema :"as couves portuguesas são as melhores do Mundo". É o que ele fazia na muito celebrada Kapa e no Independente. Ah, e aquelas entrevistas enlevadas de um MEC com os copos ao Alberto João Jardim ainda mais com os copos a falarem das delicias da Madeira... ;) Um menino de ouro, o rapaz.
Antes o chato do Saramago.

Noddy

Anónimo disse...

Confirma-se: Preconceito e ignorância. Desculpa lá outra vez, ó noddy, mas há mais vida para além do país dos brinquedos.
Também não acho que o homem seja a oitava maravilha tuga (para dizer a verdade estava a ver se animava um bocadinho o porco com a provocação, que isto anda muito mortiço), mas essa coisa das couves e de ele se limitar a isso no Independente e na Kapa é prova de que nem conheceste o Independente nem a Kapa. Do MEC e da sua obra tens uma vaga ideia em jeito de clichê. Deixa de ler a Sábado que isso passa.

Anónimo disse...

vaquista, eu cheguei a ter a colecção completa da Kapa e comprava todas as semanas o Independente. Conheço o MEC e a sua tribo de trás prá frente. Na altura adorava. Agora, dão-me vontade de rir a maior parte dessas crónicas, aquele estilo de adolescente modernaço, cheio de lantejoulas estilisticas. Aquilo tudo envelheceu muito mal. Mas isto sou eu que digo.

noddy

Anónimo disse...

"Até o Eduardo Lourenço faria melhor figura". Ó jovem isto quer dizer o quê ? Até?! Estás a falar de quem? Convinha leres melhor o ilustre Eduardo

Nib

Anónimo disse...

"Convinha leres melhor o ilustre Eduardo". Olha outra vaca sagrada... Ó Nib, onde é que é a Igreja do São Lourenço? E a que horas são as missas? Gostava de lá ir, só para apreciar o culto. Não professo mas sou turista de cultos, gosto de apreciar os hábitos dos crentes. É giro, é exótico sei lá.

Pois é, ó Noddy, um gajo envelhece e fica assim, azedo como o saramanguito... Mas está bem, o MEC também não é nenhuma vaca, sa foda o MEC. Não é tão mau tu como pintas, mas também não será tão bom como eu pinto. Pronto, encontramo-nos a meio do caminho, pode ser? Mas olha que, apesar de tudo, acho que estás a ser injusto, a importância do MEC no arejamento geral deste país bafiento transcende a sua obra escrita e quer o Independente quer a Kapa foram "revolucionários" (att. às aspas), não só no contexto específico do jornalismo que se fazia e passou a fazer mas também no capítulo das mentalidades gerais da/nação. Além disso o gajo escreve muitíssimo bem.

Anónimo disse...

é pá, o ilustre era para demarcar da tua escrita. não é uma questão de igreja mas das convenientes distâncias. e, gostar de alguma escrita, não faz do autor uma vaca sagrada. agora, esse desprestigiante "até", faz parecer eduardo lourenço um gajo corriqueiro, tipo escriba nas horas livres.se conseguires explicar esse "até", talvez faça de ti uma vaca sagrada

Nib

Anónimo disse...

Ó Nib, mas porque é que o "até" é desprestigiante? Porra, eu até acho que sim, que o Lourenço até é uma vaca que até merece culto. Não tinha qualquer intenção de menosprezar o homem. Eu até gosto do homem pá. Se bem que também acho que é daqueles casos tipicamente tugas de mitificação um bocado acritica. É o típico caso do gajo intocável. É um bocado como o Manuel de Oliveira (a minha próxima vaca a abater no porco) em certos círculos, instituiu-se que é génio, pronto, qualquer parecer em contrário é prova de incultura e imbecilidade. Ora, eu até posso ser inculto e e imbecil, mas como sou um gajo dos blogues, a mim ninguém me cala.

Anónimo disse...

ainda bem que não te calas: então aproveita para explicar porque é que o homem é sobrevalorizado e de forma acrítica. do que lhe conhço, é das pessoas mais humildes. e, intelectualmente, gostava de perceber porque o entendes para lá do que vale. é que eu gosto de perceber tudo...ainda que devagarinho
Nib

Anónimo disse...

ainda bem que não te calas: então aproveita para explicar porque é que o homem é sobrevalorizado e de forma acrítica. do que lhe conhço, é das pessoas mais humildes. e, intelectualmente, gostava de perceber porque o entendes para lá do que vale. é que eu gosto de perceber tudo...ainda que devagarinho
Nib

Anónimo disse...

é pá não estou gago, esta treta é que postou duas vezes. já o manel sou um bocado como tu

Nib

Anónimo disse...

Já disse que gosto do homem pá, não amofines. Acho que sim, que é um dos grandes intelectuais portugueses vivos ou mortos ou vindouros. Muito superior aos saramanguitos da treta que por ai abundam. Viva o Lourenço.
Isso não significa, no entanto, que está acima da crítica. Posso fazê-lo, se insistes, faço um poste e depois esperneamos nos gróinks. Tenho lido coisas dele com que não concordo e sendo ele humilde e grande, só pode ficar contente que uma alma simples como a minha faça uma leitura crítica do seu pensamento. Só estava a dizer que, independentemente do mérito ou da qualidade, noto que em relação a ele há muito esta atitude de admiração incondicional. Não é que seja o teu caso, ou de ninguém em particular, mas é uma questão de mentalidade geral de culto da vaca sagrada, pronto. Uma mentalidade subsidiária do cultozinho tuga do Senhor Doutor ou do Senhor Engenheiro. É claro que as coisas estão a mudar, mas ainda se nota muito essa submissão acrítica à autoridade. Ou não?

Anónimo disse...

E onde é que eu disse que homem é sobrevalorizado?

Anónimo disse...

o "até" valoriza? até é porreiro? até é honesto? até come com os talheres? ok, se o teu conceito diverge... com o teu critério corre-se o risco de não poder apreciar alguém (e não falo em admirar). o lourenço não é, obviamente, um deus (quem quer isso?) mas é um intelectual que deve ser valorizado. vê lá tu que "até" o considero intelectual

Nib

Anónimo disse...

Sim, concordo, o Lourenço não é deus mas é um intelectual que deve ser valorizado.