Em resposta ao desafio do Adérito e mesmo não tendo feito parte do círculo original de leitura liceal, aqui vai a minha lista de livros (não todos, mas alguns que me apeteceu destacar) que li em 2008. Alguns são audiobooks ou livros digitais de que se pode fazer download na net, e deixo link para o efeito.
As Cruzadas Vistas pelos Árabes, Amin Maloouf. Lido de uma penada, o que é sempre bom sinal. Grandessíssimo livro deste escritor libanês, que introduz um ponto de vista refrescante sem ser faccioso sobre as cruzadas e o eterno estado de conflito (sobretudo entre muçulmanos…) no médio oriente.
Letter to a Christian Nation, Sam Harris (audiobook). Uma das figuras de charneira do chamado “novo ateismo” (a par com Richard Dawkins, Dan Dennet ou Christopher Hitchens), uma tendência mais afirmativa de combate e crítica às tradições religiosas e ao pensamento místico ou supersticioso. Do mesmo autor li também este ano
O Fim da Fé que, este sim, está editado em Portugal e desenvolve com maior profundidade as suas ideias.
Império, Gore Vidal. Monumental romance histórico nos “bastidores” de figuras de charneira da história dos EUA, como Theodore Roosevelt ou William Randolph Hearst. Nos bastidores da ascensão dos Estados Unidos como incontestada potência mundial.
The Demon Haunted World, Carl Sagan (ebook). Um livro extraordinário que devia ser de leitura obrigatória, como era antigamente a tropa. Ao fim do liceu, zás, o jovem teria uma semana para ler esta obra iluminadora. Li o ebook em inglês mas está traduzido e editado em Portugal pela Gradiva.
A Cidade do Sol, Tommaso Campanella (ebook). Uma obra maior da literatura do Renascimento que qualquer um pode ler
aqui. Nesta “onda” também aproveitei para ler, há uns dias atrás, o
Utopia de Thomas Moore (
aqui), outro livro que muito aconselho, sobretudo quando o autor debate a vida e o mundo com o sagaz aventureiro português Rafael Hitiodeu.
Uma História da Guerra, John Keegan. Uma obra monumental de um dos maiores historiadores militares da actualidade. O autor inglês vai às raízes antropológicas, sociais, políticas e culturais do fenómeno da guerra e da agressividade humana. Um tratado incontornável.
Walden, de Henry David Thoreau (audiobook acessível
aqui que é um sítio onde há milhares de audiobooks fantásticos). Mais um livro sonoro, mais uma pérola da literatura e do ensaismo universal. Uma apologia da vida simples e da sintonia com a natureza. O relato cativante e inspirador de uma experiência de vida (dois anos de auto-suficiência numa cabana remota) de um dos mais influentes autores norte-americanos do século XIX.
Terminação do Anjo, Daniel Abrunheiro. Sobre este já escrevi ali mais para trás no Tapor.
Da (in)Humanidade da Religião, Raoul Vaneigem. Um livro furioso do pensador belga para arrasar com os misticismos que escravizam a mente humana. Leitura estimulante.
Mais Platão, Menos Prozac, de Lou Marinoff. Um dos livros mais estimulantes que li este ano. Marinoff é um dos expoentes de uma nova “corrente” da Filosofia, eventualmente mais próxima do quotidiano dos homens (e das mulheres). Há quem lhe chame “mais prática”. É precursor da cada vez mais popular “filosofia de aconselhamento”. Um excelente livro de estímulo ao gosto por uma disciplina do saber cada vez mais desprezada até nos currículos escolares. Recorrendo aos clássicos, o autor desce da “torre de marfim” e mostra numa linguagem acessível ao comum mortal a importância que o pensamento filosófico pode ter nas nossas vidas.
Os Livros da Minha Vida, de Henry Miller. Obra interessante e de leitura muito agradável (ideal para tardes de praia). O título diz quase tudo, só não diz que é também uma compilação de reflexões em registo auto-biográfico. Um must para quem é devoto do autor.
Sobre Humanos e Outros Animais, de John Gray. Um autor bastante polémico que questiona aqui a ideia de progresso acarinhada pelo humanismo secular dominante na cultura ocidental. O filósofo inglês tenta reflectir criticamente, enfim, acerca do que é “ser humano”. Aconselha a reduzirmo-nos à nossa insignificância animal e a uma existência dedicada à contemplação. Um livro poderoso e controverso. Excelente e desconcertante leitura.
A Marioneta e o Anão, de Slavoj Zizek. Uma excelente compilação de ensaios ácidos sobre o cristianismo. Reitero o que disse o Adérito acerca do filósofo esloveno (quem não conheça pode começar por
aqui).
Do Fanatismo – O Verdadeiro Crente e a Natureza dos Movimentos de Massas, de Erich Hoffer. Um ensaio muito aconselhável e ainda, ou cada vez mais, oportuno (foi escrito numa altura em que fascismos e comunismos despertavam maiores extremismos) de um grande livre-pensador norte-americano do século XX.
Iluminações e Uma Cerveja no Inferno, Arthur Rimbaud. Uma tradução de Cesariny para uma excelente edição bilingue da Assírio&Alvim de duas obras fundamentais de Rimbaud. Uma espécie de “testamento espiritual” do escritor francês. Leitura obrigatória e compulsiva. Está aqui o essencial da produção do poeta maldito francês.
Sobre a Liberdade, John Stuart Mill. Li finalmente este clássico incontornável de um grande pensador liberal inglês. Grande leitura.
As Onze Mil Vergas, Guillaume Apollinaire. Um colosso da literatura porno-erótica. Sadismo e sangue a rodos para alegrar os menos impressionáveis. Uma escrita soberba, na linha do também colossal libertino Marquês, para um estilo (literário e de vida) proscrito.
O Papalagui, excelente tradução de Luiza Neto Jorge (Antígona) para esta deliciosa recolha de impressões de um chefe tribal do Pacífico Sul (Samoa), de seu nome Tuiavii, acerca dos homens brancos ocidentais e dos seus costumes no início do século XX. Impressões que permanecem actualíssimas.
Baudolino, Umberto Eco. Outro finalmente. Um livro a todos os títulos magnífico. Um passeio pela história, uma epopeia fantástica e de uma imaginação delirante, apoiada em factos, mitos e lendas da época medieval. Um livro que se devora com prazer.
Fundação e Império, Isaac Asimov, terceiro volume do magistral ciclo Fundação. Mais uma prova, a juntar às Crónicas Marcianas citadas anteriormente pelo Adérito, que a Ficção Científica está longe de ser um género menor.
Gente Independente, Halldór Laxness. Uma obra maior do maior escritor islandês. Um romance extraordinário, de uma vitalidade telúrica cativante.
Estaline A Corte do Czar Vermelho, de Simon Sebag Montefiore, provavelmente A Biografia definitiva do ditador soviético. Uma viagem fascinante e rigorosa pela vida de Estaline e dos seus colaboradores mais próximos no Kremlin. Voando sobre um ninho de cucos.
Einstein e Buda Palavras Comuns, Uma obra curiosa e de agradável leitura, que coloca em evidência as similitudes (algumas impressionantes, realmente), entre as ideias de gente como os físicos modernos Einstein, Max Planck ou Niels Bohr, e antigos preceitos budistas.
Ninguém Escreve ao Coronel, Gabriel Garcia Marquez. Releitura. Um regresso que confirmou a grandeza deste “livrinho” do escritor colombiano.
O Coração das Trevas, Joseph Conrad (audiobook). Outro regresso, desta vez ouvido entre viagens no seu original inglês. Um livro perturbador que continua fascinante.
Contra as Pátrias, Fernando Savater. Uma obra maior do escritor e pensador basco, um livro essencial que parte da realidade pluri-nacional espanhola e da luta independentista basca para a realidade maior e daninha dos nacionalismos.
Global Trends 2025 – A Transformed World. Um bocado fora do contexto, mas não deixa de ser um livro e não deixa de ter sido das leituras mais interessantes do ano. Um documento elaborado National Intelligence Council dos Estados Unidos, que congrega todas as agências de segurança e inteligência do país. Projecções para os próximos 20 anos que ajudam a perceber melhor o mundo em que vivemos. Acessível
aqui.
Ps: Não sabia com que havia de ilustrar o post, por isso resolvi enfeitá-lo com uma gaja boa, que é sempre um bom enfeite e fica bem com qualquer coisa.