18/12/08

Russofobismo, por Russofubu

Da mesma forma que duas mãos cheias (?) de génios criadores não fazem da Idade Média uma era de conhecimento e inovação, também duas mãos cheias de grandes artistas ou cientistas não fazem da Rússia uma referência de criatividade e sabedoria. Um Dostoievski não faz a Primavera e a Rússia apesar da antiguidade ainda é um pais politicamente incipiente e culturalmente segundo-mundista.

Os prémios Nobel, já agora, são uma batata mas também um bom indicador do grau de maturidade/produtividade intelectual de um país. É evidente que pode ser discutível, este critério, mas não tenho dúvidas de que é um indicador de qualquer coisa daquele género. Por exemplo, uma comparação do tipo guerra-fria: Os Estados Unidos têm 309 e a Rússia 22 (menos que, por exemplo, a Grã-Bretanha com 114, a Alemanha com 101, a França com 57 ou a Suíça com 25). Se pela produção intelectual se mede a maturidade cultural e criativa de um “povo”, então a Rússia é um adolescente - os países islâmicos serão catraios ranhosos, como aquelas pessoas que envelhecem mas não crescem. O que se torna mais estranho, dada a dimensão e os recursos do país, eventualmente à escala dos EUA ou maior.

A resposta para a disparidade criativa está, naturalmente, no campo da política, e sobretudo no campo dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. A Rússia é, antes de mais, um país democraticamente muito imaturo, mais imaturo do que Portugal e mais imatura até que a generalidade das novas repúblicas africanas pós-colonialismo – neste aspecto a Rússia “beneficia”, em termos de maior estabilidade social, de uma maior antiguidade enquanto estado nacional. Mas de facto, a experiência democrática russa tem pouco mais do que uma década e é extremamente deficiente e traumática. Como se o povo russo, depois de séculos de czares, imperadores vermelhos e pensamento único, tivesse sido formatado para a tirania. É óbvio que não, e que a persistência secular de uma administração estatal extremamente centralizada e autoritária, que o actual czar pós-estalinista Putin perpetua, é um factor determinante para que a democracia e as liberdades cívicas e económicas não floresçam. Mas a julgar pela popularidade maciça de Putin e do seu politburo de fiéis devotos do KGB (porque não existem ex-KGB’s), questionamo-nos realmente acerca da apetência democrática daquela gente.

Acho até que os chineses, precursores do chamado capitalismo de estado (sistema que o Kremlin está a tentar abraçar atabalhoadamente) lá chegarão mais depressa, à democracia de estilo liberal, às liberdades e a uma globalização mais ética e sustentável. Tenho a impressão, por exemplo, que os líderes chineses, apesar de tudo, são menos dogmáticos e mais pragmáticos, cada vez menos ideológicos. A China sonha com uma futura Era de Ouro, a Rússia sonha com uma era passada que só foi de ouro para as chefias e para a tropa.

As eleições presidenciais norte-americanas foram, a propósito, um banho e uma lição de vitalidade democrática e de como uma sociedade tão complexa, enorme e plural como é a norte-americana consegue mudar de rumo sem sangue nem revoluções.

Por tudo isto e mais alguma coisa, a Rússia, a par com o terrorismo, sobretudo islâmico, e os desastres naturais, é uma das grandes ameaças ao nosso futuro comum. É um país com mentalidade de cerco, sedento de replicar glórias equívocas, com gravíssimos problemas internos - do envelhecimento populacional à decrepitude das infra-estruturas civis e militares, passando pelo alcoolismo, uma riqueza gerada e distribuída ao estilo saudita e pelo crime organizado - e, como sempre, uma miragem de estado de direito. E é a segunda maior potência nuclear do mundo. Com um controle muito duvidoso desse arsenal. Tudo isto parece muito dramático e se calhar a realidade não é assim tanto e sou eu que tenho mentalidade de cerco, mas vem isto a propósito de uma notícia mais ou menos esquecida de 2008, lembrada pela revista Foreign Policy, numa lista de factos importantes do ano que passaram mais ou menos despercebidos. A propósito do “cerco” energético russo à Europa, em que caímos que nem uns patinhos, cantando e rindo. A propósito de gás e a propósito das zilionárias recentes investidas do Kremlin, por via das suas empresas estatais, em África. Sobretudo no Norte de África e em investimentos em infra-estruturas que, a vingarem os negócios, farão com que a Europa (toda a Europa, incluindo Portugal) esteja quase totalmente dependente de torneiras russas.

E se algo corre mal? E se algo semelhante à Georgia ocorre na Ucrânia? E se os polacos e os eslovacos e os checos e toda essa gente que já conheceu os russos mais de perto se envolvem? E se a coisa alastra? Que pode a Europa, ou a Nato, fazer perante um cenário de guerra regional ou mesmo perante uma agressão russa? Népias, zero, nada, não nos podemos mexer porque os homens cinzentos de Moscovo têm as mãos nas torneiras e podem paralisar a Europa num fósforo…

Não sei porquê, deve ser por gostar tanto de história, mas este tipo de notícias deixa-me perturbado.

3 comentários:

Anónimo disse...

ENGRAÇADO. O POST É JUSTO. COMO É JUSTO E TER O RETRATO DE UM PORCO, NÃO HÁ COMMENTOS. PRIMEIRO, POR EU ESTAR SEM QUERER EM CAPS LOCK. DEPOIS, POR TER O RETRATODE UM PORCO SUJO CONTRATADO.

Anónimo disse...

Contratado?

Anónimo disse...

contratado.