26/04/10

Who`s Next, por Moonlight

A música pop é como o futebol: assim como há um treinador de bancada em cada um de nós, também há um crítico de Rock. Não há dois críticos de rock que estejam de acordo sobre a qualidade das bandas e dos jogadores. e eu assumo aqui essa radical e deliciosa subjectividade da crítica rock.

O post anterior, de homenagem ao líder dos Type O Negative, Peter Steele, recentemente falecido, trouxe à baila a velha controvérsia sobre os caminhos seguidos, entretanto, pelo rock. Eu tenho andado a pensar que o rock pesado entrou, depois dos Led Zeppelin, num desvario volumétrico que conduziu a um impasse criativo. A «evolução» metálica do hard rock descambou num culto do décibel e do volume gratuito, num goticismo rococó cujos frutos criativos foram, do meu ponto de vista, decepcionantes. Pessoalmente não vejo diferenças substantivas entre a maior parte dos géneros e sub géneros metálicos. Aquilo padece, invariavelmente, do mesmo pecado original: mesmo quando há algum cuidado estrutural, o excesso volumétrico acaba por se impor a tudo o resto. Como um vinho que até pode ter todos os ingredientes necessários, mas que depois tem uma nota excessiva (de álcool, de adstringência, de acidez, etc) que acaba por desiquilibrar o conjunto e estragar tudo. Talvez o caminho do rock esteja numa espécie de regresso ao passado. Proponho um recuo no tempo, um regresso a uma banda e a um disco absolutamente espantosos: Who´s Next dos The Who.

Who`s Next, editado em 1971, aparece numa fase em que os The Who já se tinham consagrado como uma das grandes bandas da história. O álbum surge logo a seguir à famosa ópera rock Tommy - para muitos, não para mim, o melhor álbum da banda. E, de certo modo,Who`s Next é um grito de revolta dos The Who. É esse mesmo o significado (pelo menos um dos significados) da capa do disco: esta retrata um monólito a fazer lembrar o ícone de 2001, Uma Odisseia no Espaço de Kubrick editado uns anos antes. E que fazem os membros da banda? Mijam no imponente monólito. Os The Who expressam assim a sua vontade de se libertarem das prisões criativas de Tommy: a banda não queria passar o resto da sua vida a tocar o feel me, touch me, see me etc...

Por outro lado, as inovações tecnológicas da época - especialmente ao nível da qualidade de som e da utilização de sintetizadores - levam o som da banda a um nível de sofisticação como nunca se tinha ouvido. Os puristas dos primeiros álbuns do grupo e do seu som mood mais primitivo, reagem mal.O álbum é pois um corte com o passado do grupo, com a sofisticação pseudo-romântica de Tommy, mas também com o primitivismo juvenil dos primeiros discos.

Do meu ponto de vista é em Who´s Next que o equilíbrio sonoro da banda atinge um ponto mais perfeito: a sofisticação tecnológica cruza-se com a violência dos rifs de Townshend que soam como uma energia Rock inigualável. A secção rítmica Entwistle/Moon adquire um protagonismo raro nas grandes bandas de rock. As canções são excelentes, Who´s Next está cheio de clássicos como Baba o`Riley e Won`t Get fooled again - espantoso o contraste entre o som planante dos sintetizadores e a violência das «explosões» sonoras da guitarra de Townshend. Tem baladas imortais, daquelas que estão sempre a suscitar novas versões, como Behind Blue Eyes (vide a versão dos Limp Bizkit) ou The song is over...

Who´s Next é uma obra prima! Foi considerado o 13º melhor álbum de sempre pela Rolling Stone, valha isto o que valer... É certo que o Roger Daltrey é um cantor excessivamente maneirista, mas é impossível resistir a Who´s Next! Pessoalmente gostaria muito que as bandas de putos voltassem a este disco ou, pelo menos, a esta banda. Quem sabe o que podia surgir daí... Da última vez que uma geração se lembrou de o fazer nasceu o Punk - e com ele os Sex Pistols e os Clash, digam lá que não valeu a pena.

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