Só num país miserável é que um centro de saúde obriga os respectivos utentes a medirem a tensão na farmácia mais próxima, digo-o eu com os nervos.
Só um país infecto é que obriga um ex-primeiro-ministro a ir de fax estudar filosofia em “francês técnico” para Paris-de-França.
Só um país vazio é que dá tanta atenção a um acidente de automóvel tripulado por “celebridades” vácuas.
Só um país irresponsável é que tem no calendário uma época de incêndios tão certinha como a morte e os impostos.
Só um país bovino muda de ortografia como quem não muda de preservativo.
Só um país com 860 quilómetros de costa mata as pescas, Aníbal.
Só um país com tanta terra e tanto sol aniquila a reforma agrária, Barreto.
Só um país sem uma pinga de sangue nas fuças admite que a família do derradeiro director da PIDE possa processar um teatro e gente de bem por causa de uma peça que relembra os crimes torcionários da polícia política criada por esse morcego eunuco que se chamou Salazar.
Só um país sem cuecas nem parte da frente se abstém de tudo o que não seja o emprego da sobrinha, a cunha da cunhada, a fuga ao fisco, a escolaridade sem esforço, o empenho do anel, o garrote do dedo, a mariquice a tiracolo e a mãe que o teve atrás de uma moita.
Só um país inimputável é que aceita esperar 15483940593847 dias por uma cirurgia que tantas vezes significa essa desprezível diferença entre a vida e a morte.
Só um país irreciclável é que tem de trocar tampinhas de garrafas de plástico por cadeiras-de-rodas.
Só um país sem lei nem moral nem ética nem toga nem nada é que não investiga, não esclarece e não pune um grupo de candidatozecos de dentro a juízes de fora que copiançam à fartazana em testes “amaricanos” tipo nóvóportunidades.
Tenho por isso, Zé, de te dedicar em bom francês este fecho de crónica: Je ne crois pas du tout, mon petit rien, que tu sois capable d’entendre l’acceptable minimum d’un Althusser, d’un Greimas, d’un Foucault, d’un Camus, d’un Kierkegaard, d’un Schopenhauer, d’un Nietzsche, d’un Marx ou même d’un Tony Carreira version camembert tipo serra-da-estrela. Sais-tu pourquoi, pá ?
Parce que, lá-haut, à Paris, on n’achève jamais des cours au dimanche, que é como quem diz ao domingo.
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