O escritor cubano Reinaldo Arenas foi um dos muitos mártires do regime fascista instaurado por Fidel Castro. Foi perseguido, humilhado, brutalizado e martirizado pela cáfila castrista durante toda a vida. Por duas razões, ambas intoleráveis aos olhos do regime: era homossexual e «anti-revolucionário».
Arenas conseguiu publicar os seus romances no estrangeiro fazendo-os passar clandestinamente para fora de Cuba. Foi perseguido. O regime aproveitou o facto da sua homossexualidade assumida para o acusar de ofensas várias à moral e para o enviar para Forte del Morro e para Villamarin as piores prisões do regime, submetendo-o a torturas dignas do pior catálogo da Pide. Arenas não cedeu e conservou até ao fim o sentido da sua dignidade.
Conseguiu fugir para Miami metido na confusão vergonhosa que foi a deportação de milhares de cubanos na sequência do escândalo da embaixada do Peru (e como pôde Garcia Marquez, que Arenas apelida de «hipócrita», apoiar Castro em mais essa infâmia?). Anos mais tarde, acabaria por morrer, vítima da Sida. Tornou-se um símbolo de coragem e resistência, era o anti-homem -novo, o anti-cristo do comunismo castrista. Tornou-se também um símbolo da inteligência corajosa capaz de pagar com o sofrimento de toda uma vida a denúncia da opressão - Arenas, como Cabrera-Infante, Heberto Padilla ou Zoè Valdés são, nesta matéria, o oposto dos grandes escritores de «prato cheio» que, apesar de toda a sua grandeza, não souberam ou não quiseram ver para lá da propaganda - Sartre e Beauvoir, Régis Debray, Garcia Marquez, Alejo Carpentier, todos eles branqueadores do regime...
Antes que Anoiteça começou a ser escrito muitos anos antes da sua publicação. É um romance (na realidade é a narrativa auto biográfica do autor) duro e cru. Arenas conta que lhe chamou assim porque começou a escrevê-lo numa fase em que vivia como um sem abrigo, escondido dos esbirros da polícia, no parque Lenine em Havana. Escrevia enquanto tinha luz. E assim que a noite caía via-se obrigado a parar. Depois, já no fim da vida, com um diagnóstico de sida que lhe dava um ano de vida, Arenas percebeu que o título ganhara um novo alcance simbólico: escrever ainda e sempre Antes que Anoiteça, isto é antes que a morte viesse e o impedisse de terminar este seu testamento literário. A Noite veio, enfim, em Dezembro de 1990, mas o livro ficou, um dos mais trágicos que alguma vez li.
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