Os Rolling Stones estão a fazer 50 anos de carreira. os aniversários dos mitos são sempre ocasiões propícias ao aparecimento de críticos de cepa recente. Subitamente descobrem-se stonianos encartados nos jornais do burgo. Agora foi o caso do Jornal de Negócios que ousou dedicar quatro folhas a um exercício sempre perigoso para leigos na matéria. Pela pena de um senhor João Cândido da Silva, resolveu o JN, eleger as 30 melhores músicas dos Stones a partir de 17 álbuns. É claro que o exercício tem muito de subjectivo, mas que raio, há mínimos. Acontece que os critérios do escriba são demasiado privados, para que o homem assine um artigo sobre os stones, ainda que num jornal dedicado aos negócios. Há omissões gravíssimas e alguns erros pelo meio. Ainda bem que se escreve sobre os Stones, é melhor do que o silêncio. Mas convinha que quem o fizesse estudasse um pouco o assunto. O que não foi, claramente o caso.
1. O primeiro e mais grave erro da selecção de JCS é simplesmente colossal! JCS escolhe 17 álbuns dos Stones, para seleccionar 30 canções e, azar dos azares, deixa de fora aquele que é um dos se não o mais importante álbum da banda: o seminal Let it Bleed! Como é possível que o álbum de You can´t always get what you want (provavelmente a melhor canção da banda e não surge nas 30 melhores!!!!) fique de fora? Midnight rambler, gimme shelter, You got the silver, nenhuma destas obras primas é uma das melhores músicas dos Stones? Deixar de fora let it bleed é como pretender escrever sobre islamismo e esquecer-se de citar o Islão, sobre o benfica sem falar do eusébio, sobre o brasil sem passar pelo Rio?
2. O capítulo dos álbuns ao vivo. JCS cita Get Yer... e Flashpoint - este último, porque nele é incluído em versão cd, o single, Highwire. Highwire, escrito a propósito da guerra do iraque é uma boa canção. Mas uma das trinta? Ok, get yer é um bom álbum ao vivo, mas o melhor live da banda é o grandioso Love you Live, com a melhor versão de sempre de Honky Tonk Women e uma versão live de You can´t always get... que rivaliza com a de estúdio... Love you live fica de fora em 17 álbuns... Ou este gajo não vê um boi de stones ou não sei...
3. A melhro versão de simpathy for the devil é a original de beggars banquet e não a de get yer ya ya s out.
4.Their satanic majesties request é um dos piores discos dos stones, um desvario pelo rock psicadélico, na esteira dos beatles. Ok, she´s a rainbow é um clássico, mas incluir este disco nos 17... E citadel a melhor música do álbum?! De qualquer modo eu passo sempre por cima deste disco.
5. Um dos maiores erros desta lista é a confusão que o JCS faz entre as edições originais (inglesas) e segundas versões (americanas) dos primeiros discos da banda. Ponto de ordem: quando os stones começaram o formato principal era o single. Alguns dos maiores clássicos surgiram por isso nesse formato e não em álbum ( o LP era para um registo mais conceptual, digamos assim). Por isso, quando surgiram os primeiros álbuns dos stones (até aftermath de 66), os maiores sucessos da banda não saiam em LP.
Só posteriormente por razões comerciais é que foram editadas, a pensar no mercado americano, as segundas versões dos álbuns com os singles que lhes foram contemporâneos. Assim a segunda versão de Out of Our Heads ((65) inclui Satisfaction e the last time, mas a edição original não. O mesmo para between the buttons (67) que inclui lets spend the night together e ruby tuesday apenas na segunda versão.
Além disso o álbum Now (65) não figura como original da banda, mas como colectânea. Quanto a mim, para fazer jus aos singles imprescindíveis dos stones, é impossível não se citar o triplo The London Years que inclui os singles até let it bleed.
Nada disto é esclarecido no trabalho de JCS, pelo contrário ele dá como adquirido que as segundas versões dos álbuns a que me refiro, são as originais e não são. Grande confusão, mas compreende-se. Não é tão fácil como parece conhecer os originais da banda (Aftermath, por exemplo, chegou a ter uma versão americana sem goin home, a faixa de 11 minutos considerada um exagero para o gosto americano).
6. Há muita música que tinha que ser referida, pelo menos isso: como é que o primeiro disco dos stones não é citado? Tá bem que é um álbum de versões mas tem uma música que não poderia deixar de ser incluída num trabalho deste tipo - precisamente a primeira composição de sempre da dupla jagger/richards, Tell Me (you re coming banck), assinada pelo duplo pseudónimo Naker/Phelge.
7. Satisfaction não é uma das 30 melhores????
8. Nem Brown sugar? Nem tumbling sice? Nem Happy, Rocks off, Street fighing man, wild horses, Cant you hear me knoking, Under my thumb, Stray cat blues, angie, star star? O autor pretendeu fugir à unanimidade? Ok. Mas então salth of the earth? lovin cup? let it loose? Sway? dead flowers? E acima destas elege off the hook, out of tears, surpise surprise, blinded by love? Valha-me deus... Some girls do álbum homónimo preterida? Memory hotel de black and blue não é melhor que, por exemplo till the next good bye de its only r`n`r (por falar nisso onde está a faixa que dá nome a este disco)? Como é que uma das melhores pérolas interpretadas por Richards, como How can i stop de Bridges to Babylon não aparece? E waiting on a friend? Farways eyes de fora? E as tears go by? Get off my cloud não das melhores da primeira fase?
Ok, isto é muito subjectivo, mas aqui é demais, alguém que conheça minimamente a discografia dos stones não cairia num cite´rio tão individualista. Mesmo em arte, um crítico que fale da obra de Picasso e deixe de fora Guernica, de Coppolla sem se referir a Apcalipse Now ou dos Beatles sem citar Sgt Peppers, não estaria a ser, simplesmente, subjectivo. Estaria a fazer, objectivamente, um mau trabalho.
Deixo em tube Gimme Shelter uma das grandes canções de let it bleed - para JCS não é uma das trinta melhores, mas também há gajos que acham que o Messi não devia ser titular do Barcelona...
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