10/07/12

Salazar e os «safanões», por Ferrinho

Em 1933 António Ferro, o grande propagandista do Estado Novo, levou a cabo uma série de cinco entrevistas ao Presidente do Conselho, Salazar, o próprio. Pretendia «desfazer algumas dúvidas» sobre a personalidade do homem que reconstruíra o país. Ferro passou dias em entrevistas com o ditador e, com base no espólio que dessas conversas recolheu, escreveu Salazar, O Homem e a sua Obra, editado pela Empresa Nacional de Publicidade. Este seria, na versão dos apologetas do regime, o livro que nenhum português de boa cepa poderia deixar de ter em casa. Hoje tornou-se uma peça de culto. Encontrei uma primeira edição em casa de um familiar e li com olhos heréticos os hossanas de Ferro ao senhor presidente do conselho. Não direi que o homem estivesse errado em tudo o que dizia, longe disso, a crítica que salazar faz aos partidos, por exemplo, continua certeira hoje, como então, talvez mais hoje ainda do que então. Já a posição de sua excelência sobre o tema delicado dos maus tratos infligidos nas prisões do regime seria hilariante se não fosse escabrosa:

- «Quero informá-lo de que se chegou à conclusão de que os presos maltratados eram sempre ou quasi sempre, terríveis bombistas que se recusavam a confessar, apesar de todas as habilidades da polícia, onde tinham escondido as suas armas criminosas e mortais. Só depois de empregar esses meios violentos é que eles se decidiam a dizer a verdae. E eu pergunto a mim própprio, continuando a reprimir tais abusos, se a vida de algumas crianças e de algumas pessoas indefesas não vale bem, não justifica largamente, meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras...»

Ah, fadista...

1 comentário:

A Mim Me Parece disse...

Há que contextualizar as declarações. Uma frase dita há 81 anos não ser ouvida como se tivesse sido dito hoje. Dizer-se em 1933 que uns bons safanões dados a tempo pela polícia a candidatos a bombistas quando detidos de facto podiam evitar vítimas inocentes e a opinião pública à época era solidária com esse entendimento. Só que estes pratos são servidos aos portugas para que eles os julguem à luz do entendimento do que é hoje tido por politicamente correcto. Amem.