31/05/12

Sai um cacho de bananas e um coro afinado de assobios, por Brutanana

Se alguém me atirar bananas acabo na prisão, porque mato-o!» - Balotelli

«Espero que os portugueses me recebam bem na Luz» - Bruto Alves

 O que há de comum nestas declarações?
É que tanto um autor como o outro estão a provocar o efeito contrário ao desejado. Se fossem espertos estavam caladinhos... Obviamente o Balotelli vai levar com bananas no Euro, assim, como o bruto alves vai ser mal recebido na Luz. Vai uma apostinha?

29/05/12

A minha lista 2011 - Novembro, por Adérito


Somerseth Maugham – Maquiavel e a Dama, Livros do Brasil. Li-o ainda no eco do entusiasmo que me tinha suscitado A Servidão Humana. A mesma arquitectura rigorosa, o mesmo estilo cristalino… Maugham é sempre uma lição de bem escrever

Miguel de Cervantes – D. Quixote de La Mancha,vol. I Uma indiscutível obra prima da literatura espanhola e universal. Marcou todo o mês e pouco mais li. D. Quixote, na sua imensidão, não deixa muito espaço para os demais. Guardei o segundo volume para mais tarde, como quem guarda um tesouro que não queria ver acabado...

Paolo Giordano - A Solidão dos Números Primos, Bertrand. Saiu post…Uma grande, grande revelação! Um dos melhores primeiros livros que já li. E é mesmo verdade que Giordano só tem vinte e tal anos? Espero ansiosamente o segundo.  O livro é um non stop reading e faz lembrar o universo onírico e estranho de Murakami. Tal como o escritor japonês, Giordano é um criador de climas, um escritor que constrói ambientes onde nos instalamos e dos quais é difícil sairmos.

Manuel Penella – A Execução de Sharon Tate, Amigos do Livro. De novo o escabroso caso Sharon Tate e a inacreditável família de Charles Manson. Um livro interessante para devotos( é o meu caso)...

21/05/12

Onze notas sobre a final da taça, por É Nossa

1. Cometi um erro de avaliação. Resolvi não ir ao Jamor porque, pensei, mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor dificuldade, o zebordem acabará por ganhar a final. Enganei-me. Afinal a Académica foi melhor e mereceu ganhar sem discussão. Não volto a duvidar do meu zebordem.

2. O zebordem está zangado com o Adrien porque o jogador confessou antes do jogo que queria e gostava de ganhar a final. O clube «diferente» acha isto um insulto e eu digo mais: o Adrien não tem qualidades para vestir a camisola lagarta (apesar de entrar de caras não só no zebordem mas também numa selecção nacional noraml e não na do paulo bento). Oxalá o zebordem não queira o Adrien de volta. Aposto que há quem o queira.

3. Já o joão pereira, um produto da cantera do casal ventoso é um modelo de virtudes. Pra além de ter pisado um adversário e de passar o jogo a insultar adversários e árbitro, o rapaz ainda conseguiu não devolver uma bola que a AAC tinha colocado fora para assistência médica a um jogador leonino. É como diz o paulo bento, esse grande mister: o pereira do casal ventoso tem perfil para representar a selecção portuguesa. Já o Bosingwa e o ricardo carvalho não...

4. A festa da taça em coimbra foi bonita e durou até às tantas. Mas, porra, as pessoas esperaram 6 horas pela equipa, encheram literalmente as ruas da cidade e qual é o primeiro sítio onde levam os jogadores? Pois, à câmara para os politiqueiros do costume aparecerem a trocar cumprimentos e sorrisos, beijarem a taça e beberem champanhe. Entretanto, nas ruas da cidade, a malta continuou a aguardar os jogadores. É nestas alturas que eu aprecio o exemplo do rui rio que não mistura bola com política.

5. Por falar nisto da festa dos políticos e das altas e baixas individualidades que apareceram a festejar a taça, alguém aqui da malta viu o Mancas? Pois, o nosso Mancas do liceu, o próprio? Eu vi-o, eufórico, na câmara a abraçar uns gajos também eufóricos e a beijar a taça com chuacs cúspidos. Depois a taça parece que se estragoue até tiveram que aparafusá-la e tudo.

6. Os jogadores estiveram durante a maior parte dos festejos sem a taça que não saiu das mãos dos directores e dos politicos. Compreende-se. Valeu que, na Praça da República, havia uma réplica da mesma e os jogadores exibiram-na do alto da camioneta como se fosse a taça original. Essa continuou nas mãos do simões. Coimbra é original até nos festejos.

7. Pode-se não gostar da Académica. Mas o que é obrigatório reconhecer-se é que, goste-se ou não, trata-se de um clube com uma identidade. Uma pessoa pode detestar as capas negras, os eferreás, o preto e branco, os códigos da praxe, a mística dos doutores, mas tudo isso é próprio. A Académica ganha a taça e é um acontecimento. O leixões, o beira mar ou o estrela da amadora também já a ganharam mas ninguém deu por nada. É que são clubes iguais, coisa que não se passa com a velhinha AAC.

8. O futebol é giro. Há quinze dias a AAc arriscava-se a descer de divisão e a ficar na história pelas piores razões. A equipa bateu até um record de jogos sem ganhar (16!). Agora um dia depois da festa, concluo que fez uma das melhores épocas de sempre: ganha a taça, vai à uefa e disputa a supertaça do próximo ano (e só não mete o adrien na selecção porque, isto é um facto, o paulo bento prefere o ruben micael!).

9 Isto tudo, apesar do seu treinador, o pobre emanuel que, quanto a mim, continua a ser um mau treinador e não foi a vitória de ontem que me fez mudar de opinião. Como é possível que nunca tenha alinhado junto aquele que poderia ter sido um dos melhores meio-campos do campeonato - pape sow, adrien e david simão? Mas prontos a hora é de festa e o treinador que lançou o edinho, está de parabéns.

10. Para finalizar em beleza: o edinho já disse que quer ficar na Académica pró ano!

11. Pró ano venha o Atlético de Madrid...



16/05/12

A minha lista 2011 - Outubro, por Adérito


W. Somerseth Maugham – Servidão Humana, Livros do Brasil. Saiu post...

Jean-Baptiste Botul – A Vida Sexual de Immanuel Kant, Cavalo de Ferro. Botul foi uma grata surpresa! Uma espécie de Sócrates contemporâneo, um filósofo que, tal como o mestre grego, não deixou praticamente nada escrito (excepção feita a este livro). Trata-se de um ensaio divertido que pretende explicar alguns aspectos da filosofia kantiana à luz da sua biografia e dos aspectos reconhecidamente bizarros das suas idiossincracias. Conhecendo-se minimamente o perfil biográfico de Kant, percebe-se a carga irónica deste livro...

William Faulkner – O Homem e o Rio, Europa-América. Definitivamente não gosto de Faulkner, desculpem lá (ou então é a tradução da Europa-Amédica que é uma bosta)!
  
Carl Grimberg - História Universal, vol. 15 A independência dos eua. A revolução francesa. Napoleão. Europa-américa. De vez em quando recorro a Grimberg para colmatar as minhas falhas de História Universal. Esta colecção é indispensável em casa de um leigo que se interesse por história…

Revista Visão especial – As Invasões Francesas. Estes números da Visão sobre a História de Portugal são verdadeiras pérolas que não se podem perder. O número dedicado às invasões franceses é um trabalho notável da autoria de alguns dos mais reputados especialistas portugueses. O formato é «revista» mas li este número como se se tratasse de um livro ( e é)...

14/05/12

Atira-te ao Mar!, por Xávego

Ontem fui à praia. Aproveitei para ver a tão «genuína» arte xávega, agora na sua versão industrial com tractores em vez de carros de bois e com barcos decorados com emblemas do fcp e imagens de gajas boas na proa em vez de santinhas (suponho que em caso de mar bravo os pescadores agora chamem rezem ao Hulk e não às santas da devoção dos avós).

Confesso que me sinto um pouco dividido com aquele espectáculo porque se por um lado gosto da fauna animada dos pescadores, por outro, fico um bocado impressionado com a chacina de tanto peixe. Mas ontem este segundo sentimento venceu largamente o primeiro.

Acontece que nas redes dos pescadores vem sempre uma percentagem brutal de cavala nomeadamente da espécie «parda». São cardumes e cardumes de cavalas que os pescadores depois separam pacientemente dos biqueirões, das sardinhas e dos escassos chocos, robalos ou douradas que por lá caem. No fim enchem-se dezenas e dezenas de caixas de cavala que os homens do mar tentam vender aos curiosos a 5 euros a unidade. Há quem compre. Mas a maior parte da cavala fica por ali. Fiquei pasmado com o que se passou a seguir.

Após a debandada geral dos curiosos, os pescadores pegaram nas caixas de cavala e zás, toca a atirá-las ao mar. Cardumes e cardumes de cavalas que servem de pasto às milhares de gaivotas que fazem um verdadeiro festim com os restos das cavalas. Como é que é possível um tal desperdício? É que aquilo mete dó, quer pela chacina inútil dos peixes quer pelo esbanjamento. Houve um pescador que me explicou porque razão atiravam as cavalas às gaivotas e mais valia eu não saber...

Segundo o homem a UE define a quota de pescado a que portugal tem direito. Como a cavala - principalmente a parda - é uma espécie ameaçada de extinção as quotas de pesca são logo atingidas. E, como tal, nesta altura a cavala já não pode ser comercializada. Mas as redes não sabem nada sobre imposições da UE e continuam a apanhar cavala e  mais cavala. Daí que chegadas à praia, das duas uma: ou  são vendidas à caixa sem passar pela lota ou voltam para o mar. É o que acontece à maior parte. Isto é uma verdadeira dor de alma, segundo qualquer ponto de vista.

Resta ainda uma terceira opção para o peixe que a UE não deixa vender mas que deixa desperdiçar: às vezes os pescadores levam o peixe para casa e usam-no para estrumar a terra. Assim nem as gaivotas se ficam a rir... Portugal não existe!

12/05/12

O Budismo e a Vida Moral dos Caracóis, por Mara

O Budismo é uma religião/filosofia fascinante. Mas tem alguns pontos que me casuam perplexidades várias. Por exemplo a defesa da reencarnação decorrente do Samsara (a impermanência que caracteriza toda a existência vulgar). A ideia em si é dificil de aceitar e merece-me, quando muito, um complacente agnosticismo.

Mas o caso complica-se quando verificamos a relação que a doutrina de Buda estabelece entre a reencarnação e o Karmma. Ao defender que cada reencarnação depende da qualidade moral das vidas anteriores  dá-se um passo perigoso. Os budistas entendem que o facto de encarnarmos num animal, num ser humano, num Deus ou num demónio, não é fruto do acaso, mas que se deve à lei kármica que rege todo o cosmos. Queres saber o que cada ser foi na sua vida anterior? É só olhares para a sua vida actual...

Esta teoria merece duas objecções imediatas:
Uma - tem implícita uma concepção discriminatória do próximo. Os pobres, os deficientes congénitos, os destituídos,os indigentes não o são por acaso natural mas como resultado das suas acções noutras vidas. Levar este princípio a sério é, de facto cruel e injusto para aqueles que não só têm que suportar o seu handicap como, ainda por cima, levam com o fardo de terem sido os responsáveis por ele, numa outra vida que ignoram completamente. Lembro-me que há uns anos o seleccionador inglês de futebol Glen Hoodle foi obrigado a demitir-se, precisamente, por ter defendido que um deficiente apenas estava a pagar o seu mau karmma noutra vida.

Duas - partindo do mesmo princípio sabemos que um indivíduo que é agora um animal simpático como, vá lá, o meu cão, deve ter sido um razoável patife noutra vida. E se se tratar do elefante do zoológico de Lisboa que vive preso e a fazer fosquetas aos transeuntes só para comer uns amendoins, ainda pior. Agora imaginem a espécie de pulha que teria sido noutra vida, por exemplo, um caracol ou um percevejo. Presumo que uma barata ou uma ratazana serão as reencarnações actuais de um hitler ou de um mussolini. Mas uma vez que a roda dos nascimentos e o próprio samsara não param a pergunta que se impõe é: afinal que precisa de fazer um caracol nesta vida para gerar bom karmma e assim encarnar numa próxima vida numa forma superior? Não se deve babar em público? Não deve atacar as caracoletas mais frágeis?

Quando o budismo liga a moralidade (um dos aspectos centrais para gerarmos bom karmma) à possibilidade de reencarnarmos numa forma de vida superior percebemos a lógica, embora  a possamos discutir. Consigo entender que um ser humano não deve roubar, nem matar, nem difamar e que uma moralidade sã é condição essencial para que se gere um bom karmma que nos beneficiará na próxima vida e nos torna mais próximos do nirvana. Mas o que será a vida moral para um gafanhoto? Estarão estes animais «inferiores» condenados a nunca mais sairem desse nível - ou seja um caracol quando morrer só pode nascer caracol ou bicho pior ainda? Existem karmas tão maus tão maus que nos condenam a níveis de existência dos quais nunca mais podemos sair?

São dúvidas que me assistem. Não digo que o budismo não tenha respostas para as minhas questões - até admito que tem e que sou eu que as ignoro. Mas não há dúvida em que só por mim e com o recurso aos meus pobres miolos tenho muita dificuldade em resolver estes problemas.  Acho que vou mandar um mail à União Budista Portuguesa. Talvez eles me saibam esclarecer e eu possa ter depois uma conversa séria com um caracol.

08/05/12

Eu Conheço um Assim, por R. Atenborough

«No café de Cluny um sujeito mastigava uma banana: contei vinte mastigadas para cada garfada de banana, era um sujeito organizado na maneira de cortar a banana, usando garfo e faca: cortava, pousava a faca, colocava o pedaço de banana na boca, pousava o garfo, mastigava, mastigava, mastigava. Moreno, podia ser francês mesmo ou da Tunísia, Costa Rica, Brasil, Cuba. Carregava uma pasta preta. Devia estar fazendo doutoramento na Sorbonne. Um homem jovem, que um dia seria ministro ou coisa parecida, no seu país. Do jeito que ele mastigava bananas posso garantir que o dia em que isso acontecesse o país dele estaria fodido.»
  Ruben Fonseca, O Caso Morel

Curta, breve e grossa, por Zé dos Santos

Após muito ter ouvido em murmúrio e zurzido sobre os saldos do Pingo no dia um de Maio, e depois de ter concluído que afinal não era o um de Maio que estava em saldo mas sim as mercearias e demais mercadorias, dei comigo a pensar em como os impostos duplicaram durante todos os dias do ano e por estranho paradoxo o Pingo vendeu a metade do preço num dia do ano.
Ora, comentários à parte, ponham lá os senhores do Pingo no Governo e nas Finanças e tirem de lá os incompetentes que por lá circulam. E já agora com efeito retroactivo pelo menos a cinco anos.

07/05/12

Queima das Fitas de Coimbra: a tradição já não é o que era, por Ribeirinho

Hoje fui ver o cortejo da queima das fitas. Não tem muito que se lhe diga - é uma festa que parece um disparate vista de fora mas que diz muito a quem lá  anda a vivê-la por dentro. Adorei esta festa quando por lá passei e agora olho-a com alguma complacência e uma réstea de ternura e tolerância de quem sabe que já fez  o mesmo ou ainda pior.
Em conversa com o Grunfo concluímos que muita interessante tradição ficou, entretanto, pelo caminho. E recordámos a propósito uma delas que era ir assobiar o Marco Paulo ao parque, um verdadeiro must! Este ritual em que nos dirigíamos ao parque manel da nóbrega para ouvir o marco armados de tachos, panelas, ovos e tomates para o infernizar acabou por se perder e eu estava lá na noite em que isso aconteceu. O facto merece que lhe dedique aqui algumas linhas.

Como disse estávamos devidamente preparados para a entrada do marco em cena. Ele entra em grande e começa o barulho da lataria, voam tomates e ovos e a malta apupa. Há dois enormes cartazes mesmo ao pé do palco empunhados por um grupo de capas negras. Diziam: «És Meu» e «Quero-te Virgem». O marco acha que é demais e manda parar a banda. Discursa: que adora coimbra, que gosta muito de estar ali, que tem muito respeito pelos estudantes mas que, se não o querem ali, vai-se embora. O pessoal reage em coro afinado: «Vai-te embora, vai-te embora, vai-te embora». O marco sai do palco.

Mas o pessoal apupa, faz coro,  grita marco, marco, marco, exige o regresso do artista... Marco Paulo entra em grande convencido que tem o púbico rendido. Azar! É recebido de novo à tomatada e apupo. Marco está confuso, alguns anciãos criticam a mocidade de agora que não respeita ninguém... Marco lança um novo ultimatum: querem que vá ou que fique? Resposta automática: tomatada e gritos em coro afinado de «vai-te embora, vai-te embora». Marco volta a sair, desta vez resolvido a não mais voltar.

Presumo que no back stage alguém lhe faça ver que assim não pode receber cachet. E o artista volta, cedendo de novo aos gritos da multidão que o quer de novo em palco.Como gato escaldado de água fria tem medo, desta vez entra com prudência. Não toca, não entra aos saltos como das outras vezes, agora vem pianinho para dialogar: é a vossa última oportunidade de me ouvirem. Sev me mandarem embora de novo nunca mais toco em coimbra, nunca mais venho à queima. Aqui houve uma parte da multidão estudantil que reflectiu - ficar sem ele é que não. É melhor aguentá-lo para o termos cá para o ano outra vez. Mas está lá um grupo, o grupo da pedrulha, liderado por um gajo careca que tinha uma moto do caraças, que não quer saber de cálculos e desata a berrar «pó caralho, pó caralho, vai pó caralho» e a mandar mais tomates e ovos. O marco não aguentou a pressão e foi-se embora para nunca mais voltar a uma queima de coimbra. E foi assim, nessa noite que ainda recordo, que morreu para sempre a grande tradição de ir ao parque assobiar o marco paulo

Só recordo uma outra tradição das noites do parque que era tão boa como esta de javardar no marco. Era a noite das Doce.A grande tradição de malhar nas Doce durou anos até que houve uma noite em que uma malta passou das marcas. Na altura corria um boato lixado e uns gajos de engenharia que eu conhecia dos campeonatos de futebol inter-faculdades levantou o J..., um cabo verdiano que também era danado para a brincadeira, e desatou a gritar Reinaldo, reinaldo, reinaldo. Osânimos aqueceram, o pessoal ficou exceitado e houve invasão de palco e tudo. Foi a última vez que as Doce vieram à queima, revelando muito menos resistência que o marco paulo.

Nos anos seguintes, lembro-me bem, passámos a levar com o manel joão vieira e com os seus ena pá 2000. Finalmente uma banda ao nosso nível que não só aguentava todo o tipo de insultos como ainda nos chamava pior se fosse necessário. E assim se abriu caminho a uma tradição que ainda hoje se mantém, na queima de coimbra e em todas as queimas: o quim barreiros que é um artista que eu nunca apreciei mas que, enfim, faz a ponte dialéctica entre a hiper-susceptibilidade das Doce, a foleirice do Marco e a iconoclastia dos Ena Pá.

04/05/12

Buñuel: o Fantasma da Liberdade, por Cãondaluz

Luís Buñuel consegue o feito de transpor os princípios surrealistas para um suporte tão complicado como o cinema. Não é por acaso que associamos o surrealismo, fundamentalmente, à pintura (e à literatura). Mas como reproduzir o universo do surreal mediante o recurso à imagem realista do cinema? Buñuel consegue-o e isso é notório em O Fantasma da Liberdade de 1974. Não é só na criação de imagens surreais que isso se nota, mas também na construção de narrativas desconexas e desconcertantes. O filme não tem qualquer unidade narrativa e quase pode ser visto como um conjunto de sketches subordinados a uma unidade temática que passa pela crítica à autoridade nas suas várias formas (o exército, a família, o clero, a escola, etc, etc) e pelo desprezo gozão para com as convenções. A cena que segue é um exemplo do melhor Buñuel: um casal de meia idade e a sua filha acabam de chegar a casa de um casal de amigos que os aguardam ao início da noite. «Já estavam atrasados. Estávamos prestes a começar sem vocês», e por aí fora:

A Minha Lista 2011 - Setembro, por Adérito


Miguel de Unamuno – A Tia Tula/Como escrever uma novela. Unanumo é espanhol. Isto não é tautológico. É a afirmação de uma qualidade de alma.

W. Somerseth Maugham – O Fio da navalha, Livros do Brasil. Um livro excelente, uma das obras primas de Maugham! Maugham foi uma surpresa: está muito acima das minhas expectativas iniciais. Saiu post...

Graham Greene – O nosso agente em Havana, Ulisseia
Uma curiosidade que me vi obrigado a ler, depois de ter passado férias em Havana, precisamente num dos hotéis a que este romance faz referência. Se não fosse essa nota de afinidade pessoal nem sequer dava com Greene…

Giorgio Agamben – Nudez, Relógio d`água. Agamben é, juntamente, com Slavo Sizeck, uma das vozes mais interessantes da Filosofia do século XXI. Agrada-me a elegância da escrita deste autor e não só a densidade do seu pensamento. É um serviço prestado à causa da filosofia que nem todos os filósofos tenham o estilo cerrado de Hegel. Agamben é denso mas, simultaneamente, lê-se com prazer.Já aqui saiu post a propósito de um dos ensaios deste livro...

02/05/12

O Cavalo Pitagórico, por Cão


Um cavalo de Santana Lopes caiu a um poço numa quinta de Santana Lopes também. Foi foto-legenda em jornal. O desenlace da ocorrência é feliz: os bombeiros resgataram-no vivo da aflição com o voluntário, voluntarioso, estóico, abnegado e glorioso esforço do costume. Tenho porém um problema. Este: não era nem sobre cavalos nem sobre o, por piada, ex-secretário de Estado da Cultura, e ex-primeiro-ministro, e ex-presidente do Sporting, e ex-presidente dos municípios figueirense e lisbonense, e ex-tudo o mais (ou menos) alguma coisa que eu queria cronicar.

O que me apetecia perorar sobre – era isto: a santíssima trindade matemático-geométrico-topológica que consiste na naturalmente tríplice nomenclatura Pitágoras-Newton-Gauss. Mas percebo eu alguma coisa do assunto? Nadinha-nicles. É por isso, todavia, que cronico: como nada sei de jeito de seja o que for, faço como o Nuno Rogeiro. Ou como o Professor Marcelo, esse carismático e canastrão olho-arregalado tão leitor de capas de livros.

Modos que tenho já duas trindades em boxístico empate técnico: ao canto esquerdo, de calção branco, Pitágoras-Newton-Gauss; ao direito, de calção (ou camisa) castanho(a), Santana-Rogeiro-Marcelo. Sobra-me o cavalo.
(Na rua, entretanto, assisto a esta dúplice epifania: no passeio de lá, de calção branco, duas educadoras, uma à frente, outro ao cabo oposto, pastoreiam mimosamente, bucolica’infantilmente, um rebanhinho de humanos pintainh’ovelhas de bibe-creche; no de cá, uma guia turística apascenta um rancho de periclitantes idosos em demanda da memória (v)ida través as maravilhas patrimoniais locais. Já volto ao assunto.)

O cavalo de Santana Lopes está vivo. Não se afogou e “anda por aí”. Bem. O teorema pitagórico, porém, só pode ser aplicado à superfície lisa, posto que a natural esfericidade planetária implica que a soma interna dos ângulos do triângulo-rectângulo nega a linear soma de 180 graus que tanta rotineira alegria nos dava. Gauss curvou a coisa, enquanto Newton via cair a maçã.
 O problema é que me continua sobejando o cavalo de Santana. Safo-me pelo lado do ribateja’nobel Saramago, que postulou esta brilhante evidência: “Tudo no mundo está dando respostas. O que demora, é o tempo das perguntas.”

Assim me safo: em plano, as linhas paralelas nunca se encontram, à imagem de Portugal consigo mesmo; mas em redondo, as paralelas, tal como os relógios parados acertam sempre na hora duas vezes ao dia, acabam sempre cruzando-se vezes duas também. Maravilha: acabo de perceber as crianças num passeio e os idosos no outro. Encontrar-se-ão-emo-nos. Percebi, finalmente percebi.
O que não percebo – é o cavalo de Santana.
E os outros dois também não.