04/05/12

Buñuel: o Fantasma da Liberdade, por Cãondaluz

Luís Buñuel consegue o feito de transpor os princípios surrealistas para um suporte tão complicado como o cinema. Não é por acaso que associamos o surrealismo, fundamentalmente, à pintura (e à literatura). Mas como reproduzir o universo do surreal mediante o recurso à imagem realista do cinema? Buñuel consegue-o e isso é notório em O Fantasma da Liberdade de 1974. Não é só na criação de imagens surreais que isso se nota, mas também na construção de narrativas desconexas e desconcertantes. O filme não tem qualquer unidade narrativa e quase pode ser visto como um conjunto de sketches subordinados a uma unidade temática que passa pela crítica à autoridade nas suas várias formas (o exército, a família, o clero, a escola, etc, etc) e pelo desprezo gozão para com as convenções. A cena que segue é um exemplo do melhor Buñuel: um casal de meia idade e a sua filha acabam de chegar a casa de um casal de amigos que os aguardam ao início da noite. «Já estavam atrasados. Estávamos prestes a começar sem vocês», e por aí fora:

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