18/08/06

Carta a Esther Mucznick, por xpto

Hoje escrevi a Esther Mucznick. Mandei-lhe um e-mail através da página da comunidade israleita:

Coimbra, 18 de Agosto de 2006

Excelentíssima Senhora,
Começo por lhe pedir desculpa por me dirigir a si através deste endereço. Todavia, procurei em vão, quer nas folhas impressas do jornal «Público», quer na edição electrónica, um endereço por onde lhe pudesse fazer chegar algumas palavras.
Habituei-me há muito a lê-la nas páginas daquele jornal. Devo dizer que nem sempre concordo com as suas opiniões, mas sempre as reconheço inteligentes, rectas e dignas. Digo-lhe também que é a primeira vez que me dirijo pessoalmente, e ainda por cima por tão sinuoso caminho, a um articulista. Senti-me impelido a escrever para lhe expressar a minha mais profunda e sincera solidariedade. Refiro-me, como deve suspeitar já, à polémica (se é que assim se lhe pode chamar) suscitada pela Drª Isabel do Carmo. Não consigo entender como é que alguém pode afirmar o que despudoradamente a Drª Isabel do Carmo afirmou a propósito do Hezzbollah. Esta organização, como Vª Exª tão claramente afirma, não é um partido político, muito menos democrático. Vª Exª, compreensiva, diz tratar-se de ignorância opinativa. Não concordo. A ignorância não chega para explicar tamanha inanidade. É preciso mais. Os motivos que alimentam tão despropositada cegueira suspeito-os hediondos. Desejo até que não existam e que não passe de temor meu, mas receio que o que leva alguém a laborar na «ignorância» para afirmar o hediondo não se possa caracterizar como inconsciência. Porque a ignorância ou é socrática e não consente inanidades, ou disfarça-se com a discrição após o que se aniquila com o estudo Há algo de muito preverso que me escapa ao entendimento na «ignorância» da Drª Isabel do Carmo. Como ao entendimento me escapa, por exemplo, quando um homem como Gunter Grass admita agora, com um escândalo mínimo face à gravidade dos factos e até com manifestações de solidariedade, ter pertencido às SS. Acho absurdo, escapam-me à razão as razões de tanta hediondez. José Manuel Fernandes afirma hoje que o escritor, na sua genialidade, permanece incólume no seu estatuto artístico e literário. Assim é, posto que consideremos como na contemporaneidade a estética se emancipou da ideia de Bem. O Belo é possível sem razão moral. Mas a minha questão é outra: o que leva um homem a professar o Mal? Como foi possível conviver tantas décadas com a culpa? Acredito até que a actual confissão pública, antes de movida por interesses comerciais e dada a idade do autor, seja ditada por um sincero sentimento de arrependimento. Mas eu não consigo entender, e por isso me declaro incapaz de perdoar. Acho até, contrariamente aos adeptos das filosofias do absurdo, que as tragédias quotidianas, as incomensuráveis manifestações da dor e as exibições do Mal só podem ser entendidas e perdoadas por uma qualquer Transcendência, eternamente misericordiosa e com uma infinita magnanimidade. Por isso o Mal absoluto só pode supor o Bem como instância transcendente onde se torna perdoável, assim se evitando o absurdo dando-se sentido à existência. É o único nível onde posso acolher as palavras da Drª Isabel do Carmo.
Perdoe-me a liberdade com que me dirigi a Vª Exª. Atenciosamente, com a máxima admiração,
xpto

1 comentário:

John Oliveira disse...

Isabel do Carmo nos seus tempos de rapariga também foi terrorista como o Hezbollah, e continua a ser comunista, como os nazis o eram. Por isso, nada de novo. Não sei se é gente apenas má, ou se se trata de algum tipo de doença mental que os leva a apoiar tudo o que é terrorismo.

IB