20/04/08

Ponto 8 da Ordem de Trabalhos, por Ugly

E o Pinto de Sousa e a sinistra ministra da educação lá suspiraram de alívio com o recente acordo com os Sindicato de profs a respeito da avaliação de professores para este ano. Há quem diga que os sindicatos nunca deveriam ter assinado tal coisa e há quem diga o contrário. Mas passemos por cima dessa questão. Não foi o acordo que me indignou mas uma outra coisa bem mais perversa e vergonhosa que nem sequer chegou a ser aprovada. Refiro-me a um execrável Ponto 8 da Ordem de Trabalhos proposto pela equipa do ministério da educação. É incrível mas é verdade – m.l.rodrigues, valter lemos e pedreira, tiveram a coragem de ousar propor, para aprovação pelos sindicatos, o dito ponto 8 que rezava assim:

«Ponto8:
Acesso à categoria de Professor Titular para os Professores em exercício de funções ou actividades de interesse público, designadamente, enquanto Deputados à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu, Autarcas, Dirigentes da Administração Pública, Dirigentes de Associações Sindicais e Profissionais.»

Estamos perante um marco histórico: este artigo, que mereceu o pronto repúdio da plataforma sindical, vale por tudo o resto. Mesmo não tendo sido aprovado – era o que faltava! – é mais uma prova da falta de ética e de decência do partido no poder. Ousar apresentar uma iniquidade destas vai muito para lá do que poderíamos imaginar. É certo que vivemos num país de «jobs for the boys», onde o mérito é habitualmente ultrapassado pelo cartão partidário, mas queríamos, ao menos conservar a ingénua esperança, de que estas coisas se faziam pela calada, de que havia, enfim, alguma réstea de vergonha. Verificamos agora que não, que o pê-esse eleva o seu modus operandi à categoria de matéria negociável, ponto 8 da Ordem de Trabalhos.

Não sei o que mais lamentar neste ponto 8, se a forma imoral como se propõe que os srs políticos, «em exercício de funções ou actividades de interesse público» saltem directamente dos seus altos cargos para o posto mais elevado da hierarquia docente, quando cessarem as suas comissões, passando por cima de todos os outros que estiveram no terreno e se sujeitaram a um concurso (ele próprio aberrante); se a sinuosa parte final do mesmo artigo 8 em que se acena aos sindicalistas com a sua própria passagem directa a profs titulares, como quem diz, «vocês facilitam os nossos boys e em troca, passam também a titulares»… EXECRÁVEL! Mas no fundo coerente, profundamente coerente com a ética geral deste governo pê-esse.

Esta atitude não é excepcional, ela é só mais um episódio que consagra o pê-esse como um partido medíocre posto ao serviço dos mais rasteiros interesses da oligarquia partidária que nos governa. Mas, ainda assim, representa uma subida, quer dizer, uma descida de mais um nível na ética. Porquê? Porque este ponto 8 não é só execrável; é, ainda por cima, despudorado, sem vergonha… Chegámos a um ponto em que atitudes destas, que envergonhariam qualquer pessoa, já nem se disfarçam, antes se assumem publicamente. Atingimos o nível mais baixo da política socratina: o pê-esse é o grau zero da ética! O pê-esse é como aquele TS que anda na rua vestido só como gabardine a mostrar as partes pudibundas a quem passa. E eu já estou como os outros: «Nas próximas eleições vota à esquerda ou à direita mas não votes pê-esse». É que isto já se tornou uma questão de higiene pessoal!

Sem comentários: