...E no entanto nem tudo no Brasil é fantástico... Há muita coisa que é mesmo deplorável. Por exemplo o Jurandy do Sax. Aposto que ninguém ouviu falar do Jurandy, mas o que é certo é que o homem é um caso sério de popularidade em João Pessoa, capital da Paraíba, referenciado até nos mais insuspeitos guias do Brasil, mesmo no American Express.
E quem é o Jurandy do sax, perguntam vocês? Ninguém, não é ninguém. É um gajo assim pó anafado que teve um dia uma ideia que resultou e com a qual ganha a vida. O Jurandy, ou alguém por ele, lembrou-se um dia de ir tocar o bolero de Ravel pra a praia fluvial do Jacaré, mesmo na foz do rio Paraíba, em João Pessoa, enquanto as pessoas apreciam o excelente pôr do sol que se pode ver dali. E vai daí, de há muitos anos para cá, aos fins da tarde, o Jurandy sobe para cima de um barquito a remos conduzido por um mulato e vai de tocar o bolero de ravel em versão saxofone. É bizarro não é? Um gajo gordo, de cabelo comprido e túnica branca, em pé em cima de um barquito a saxofonar o bolero, enquanto resmas de turistas reformados do Rio Grande do Sul e de S. Paulo bebem caipirinhas falsificadas ao pôr do sol? Ainda por cima aquilo é um vergonhoso play back a sair de colunas pornográficas com o volume insuportavelmente no máximo. Note-se que não falamos de arte mas de um ritual diário e repetitivo levado a cabo por um gajo que macaqueia a mesma música ano após ano, pôr do sol após pôr do sol, infatigavelmente. É bizarro sim, mas resultou. A praia do Jacaré está sempre cheia de reformados ao lusco fusco.
Bem, eu também estive lá numa terça ao fim da tarde na praia do Jacaré e fartei-me de rir. Aquilo é meio surrealista, tem um encanto kitch, meio bizarro... E o homem é um personagem. O problema agora é que desde que vi o Jurandy ao vivo nunca mais preguei olho. Ele aparece-me nos piores pesadelos. O jurandy é o freddy krueger dos trópicos, o papão dos fins de tarde, a piranha do rio Paraiba, o dengue das minhas férias... o Jurandy é feio, veste mal,toca horrivelmente e ainda por cima em play back, o jurandy é o carrasco do bolero de ravel. Aquele homem não faz mais que estragar o excelente pôr do sol que se avista dali. Deviam proibi-lo de poluir o ambiente. Se eu mandasse no Brasil mandava-o implodir como se fosse o prédio Coutinho lá deles. Mas não mando e é pena.
Para quem for um dia a João Pessoa deixo aqui um conselho: se vos falarem no Jurandy (e falam, de certeza que, vá-se lá saber porquê, o homem é uma atracção turística) digam que não querem, muito obrigado. E fiquem a saber que ele toca o bolero todas as terças, quintas e fins de semana ao pôr do sol. Pensam que podem lá ir, sem riscos, às segundas, quartas e sextas? Desenganem-se. Eles pensarem em tudo: nesses dias toca o Arnaud do Sax...
5 comentários:
bom post e boa peça.
e era uma boa ideia uma atracção turística destas ali prás docas do mondego. em vez do jurandy agarrava-se no ti albertino caça moedas da fonte dos amores e amarrava-se o homem a uma barca serrana. e dava-se-lhe um sax, playback por playback dava no mesmo.
ass: Porco&Mundo
O ti albertino chamva-lhes um figo...
Tino
os gajos lá no brasil também chamam escritor ao paulo coelho e ninguém se ri.
Eu farto-me de rir com isso,ó cão. O Paulo coelho é o jrandy do sax da literatura brasileira :) :)
TF
poizé, tal e qual.
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