03/09/08

Hardcore, por Manguelas

O primeiro ministro, pinto de sousa e a inefável ministra da educação, m.l.rodrigues, decidiram sinalizar o «arranque do novo ano lectivo» com mais uma acção de propaganda numa qualquer escola perto de si. Não sei bem qual era a ideia, mais um show of qualquer a respeito da brilhante política educativa do governo. O problema daquelas duas personagens é que nem todos os jornalistas estão lá para lhes fazerem as perguntas que suas eminências querem ouvir. E depois é uma chatice quando os telejornais passam as perguntas incómodas dos jornalistas em vez de reproduzirem, simplesmente, a propaganda desejada. Às vezes acontece...

Aconteceu agora que lembraram-se alguns jornalistas e bem, digo eu, de perguntar a suas sumidades o que tinham a declarar sobre os 40 oo0 docentes que não conseguiram colocação para este ano. E as respostas, irritadas, mal dispostas, coléricas, nervosas, desrespeitosas, são indignas de qualquer governante com um mínimo de decoro.

Milu rodrigues limitou-se a um nervoso «tenha paciência» acompanhado por mais uns ruídos irritados e exclamativos e virou imediatamente as costas à jornalista. Como se aquilo não fosse uma pergunta legítima, como se o país não quisesse ouvir a sua explicação para o facto, como se os 40 000 desempregados, ao menos esses, não merecessem mais que um virar de costas. Repugnante e indigno de um político com um mínimo de decoro...

Quanto ao primeiro, pinto de sousa, o homem resolveu falar. Mas mais valia estar calado. Com a habitual pose de quem não está para ser contrariado, afirmou que «o tempo da facilidade acabou» (sic). Que «o governo não vai contratar mais professores sem precisar deles». Passo por cima da afirmação segundo a qual o país não precisa de mais profes. Eu acho que precisa. Mas a questão não é essa. A questão é que estas declarações são inadmíssiveis!

Ainda que a tese de pinto de sousa seja correcta, mesmo supondo que o mercado de trabalho já não absorve aqueles 40 000 excedentários que engrossam agora as filas do desemprego, ainda assim, nada justifica a total insensibilidade com que o primeiro ministro se lhes referiu. Qualquer desempregado deveria merecer, em primeirísssimo lugar, a total solidariedade de qualquer governante, que digo?, de qualquer pessoa minimamente responsável. Sejam professores, arquitectos, pedreiros, carpinteiros, barbeiros ou pasteleiros, quaisquer pessoas na situação dramática do desemprego, merecem, antes de tudo, o respeito e a solidariedade dos seus concidadãos. Referir-se a desempregados dizendo-lhes que só no tempo da facilidade é que podiam ser integrados é mais que faltar-lhes ao respeito. É tratá-los como calaceiros, como mandriões, como langões, é fazer deles os responsáveis e não as vítimas do problema. Não ouvi uma única palavra de compreensão, nada mais que um seco e arrogante «o tempo da facilidade acabaou» (sic)

Acho estas declarações inadmíssiveis ainda por cima vindas de um indivíduo que tirou («tirar» neste caso é uma palavra apropriada) o curso, como se sabe, usufruindo, ele sim, de facilidades absolutamente inacreditáveis. Quem passou uma vida a estudar para tirar um curso a sério pasma! Um indivíduo que tem no seu curriculum os miseráveis projectos da câmara da Covilhã devia era estar caladinho quando pronuncia a palavra «facilidade». Eu já não esperava nada deste senhor. Nada... Mas ele consegue sempre surpreender-me e descer até níveis que eu não julgava possíveis num primeiro ministro, seja ele quem for, de esquerda ou de direita de um país pobre ou de um país rico.

Pode ser que esses 40 000 manguelas, na sua maioria jovens licenciados em cujas formações o estado investiu dinheiro à toa, sejam só uma pequena parte de muitos outros que, espero, lhe dêem a lição que ele merece nas próximas eleições. E que, de uma vez por todas, ele volte para o anonimato da trupe dos aparelhos partidários de onde ele veio e de onde nunca devia ter saído.

P.S. O pic que ilustra o post é a célebre foto de Dorothea Lange, Migrant Mother, que se tornou num dos ícones mais ilustrativos do drama do desemprego. Duvido que o primeiro ministro e a sua ministra da educação conheçam esta foto. Se a conhecem, a julgar pelas suas reacções, não compreendem minimamente o seu significado. Fica por isso o olhar digno daquela «migrant mother» para os olhar de frente na hipótese improvável de um dia virem ao Porco.

2 comentários:

Anónimo disse...

No nosso país é sp uma "desgraça" quando algum jornalista se atreve a sair do marasmo que grassa no jornalismo ( e não só!!) e faz perguntas incómodas, e logo, muito pertinentes...
Pena é que não aconteça mais frequentemente....
Quanto aos ilustres pintinho e milu... sem comentários... são um belo exemplo da classe política nacional..
infelizmente...
e, como sempre, a corda rompe(u) do lado mais fraco... os 40 000 que ficam sem emprego..

Anónimo disse...

atão mas agosto inda não acabou?
onde é que anda o maralhal?