A propósito do Tratado Taurino II, Capítulo Restauração, por Luís Miguel da Veiga, publicado um post mais abaixo, teve o Tapor a honra de receber o seguinte comment do nosso Britannicus, que a seguir se publica com o devido e venerando formato Post, sem comentários, que a pertinência do mesmo fala por si.
Ora viva e saúde!, grande Luís Miguel da Veiga, por esta faena pugnaz sobre o mais venial dos pecados e os agrores do seu cometimento. Pecado dilectíssimo e gargantuesco, cometido abonde por este seu admirador, que concita aqui o grande guloso Fernando Veríssimo, que por sua vez escreveu alhures, após um copioso jantar de Boeuf Bourguignon: « Nem todos os dias se quer ouvir uma estaladiça fuga de Bach ou amar uma mulher suculenta, mas todos os dias se quer comer. A fome é o único desejo reincidente. A visão acaba, a audição acaba, o sexo acaba, o poder acaba – mas a fome continua». Ora aí está, insopitável, a uníssona conclamação universal: “a fome continua !”
Mas, meu caro amigo, a minha demanda aqui é demanda de doutrina e de conselho. Doutrina e conselho sobre como um espírito simultaneamente cordato mas protestativo, bonómico mas vindicativo, deve lidar a fera soberba dos “garções” dos restaurantes ditos conceptuais, vanguardistas, experimentais, moleculares, de fooding, world fusion, eatertainment, Gastro-Porn, que atanazam a cupidez do Homo Gastronomicus. Porque, veja bem caro Miguel Veiga, uma coisa é pedirmos um arqui-simplicíssimo caldo verde e percebermos súbito que a unção da calda desandou para a aguadilha, outra coisa é irmos ao el Bulli e comermos uma orelha de coelho frita desidratada, envolta numa névoa de nitrogénio gasoso e o “aquilo” alquímico não nos saber bem. Uma coisa é o gáudio de reconhecimento de um chouriço de sangue (daqueles que pendem em bandolim no fumeiro), acolitado por meia molhada de grelos destemperados, outra coisa é, num restaurante gastro-porn, o estranhamento de uma coisa apodada de “bocetita melada” e a “coisa” saber a fénico. No primeiros casos expele-se o canónico vade retro!, mas, e nos segundos?! - Hoc opus, hic labor est! Aqui é que a porca torce o rabo! O que fazer nestes restaurantes que praticam uma cozinha destradicionalizada e desconstrucionista? O que fazer à nossa judiciosa vis vindicativa e protestativa?
Aguardo resposta.
5 comentários:
Tu, no fundo, segundo percebi ao ler a tua prosa alquimica, queres saber o que deves fazer se não gostares da comida do El Bulli. É isso? Pois fazes exactamente o que farias com o leitão do Adérito dos Leitões ou com os pipis da Ideal da Carrapichana: fazes as chicuelinas e verónicas que te recomenda o Mestre ali em baixo. Qual é a tua dúvida exactamente? Achas que os gerentes dessas drogarias são miúras do tamanho daqueles bois de cartão que se vêm nas colinas da Extremadura, ou que são minotauros com o cio? Se eu tivesse dinheiro para lá ir, havia até de mandar para trás os guardanapos e o copo de água, só por causa das merdas!
ZéManel
Meu caro Britanicus a resposta já vai acima. Se no El Bulli se enganassem no preço havia toureio, se peço leitão e me trazem hidrogénio há verónica etc etc.
Contudo, a uma katedral como ao el bulli vai-se em respeito e desvelo, aceita-se tudo e ao contrário do que diz o Ra Con Fabes até parece que sabe bem. Agora de facto não serão muitos os grandes deste mundo capazes de chamar um Ferran Adrià ou um Arzak e dizer ao animal, tss, tss, ó amigo ólhe que isto aqui não está aceitável...,
e no entanto já houve quem o fizesse num protótipo do género cá do burgo, razão que me motiva a republicar aqui o Suspiro.
ass: Luís Miguel Veiga
PS: um dia lá estarei no el bulli, ou no ra con fabes ou no arzak. um ano de antecedência na marcação e 300€ pessoa. Ou aquilo me sabe bem ou há faena.
Há um filme do Peter Greenway de título que toda a gente conhece mas que pouca gente viu até ao fim, de seu nome OCozinheiro, o Ladrão. a Amante dele, foda-se, já me enganei, era a Mulher do Cozinheiro, o Amante dela, bem vocês de que filme tou eu a falar... De qualquer modo, dizia eu, nese filme, o coziheiro é uma personagem com piada que insultava os gajos que não gostava de ver no seu restaurante. Se um cliente não tinha apresentação ou se e fazia um comentário deslocado ou até por coisa nenhuma, o cozinheiro malhava-lhe. Eu admito que existam restaurantes assim, com uma aura tal que um gajo deva entrar lá como quem entra numa igreja. E até admito que o tal buli possa ser um desses. Mas acontece que eu nunca os vi e conheço um número bem reazoável de bons restaurantes. Portanto até prova em contrário não abdico da minha: em caso de dúvida é amandar-lhes com o tratrado taurino. O segundo volume, claro.
Pancho Villa
Toca o Brit neste seu post-estreia num ponto sensível aqui no Porco: o Veríssimo brasileiro. Acontece que temos cá um fã indómito. Acontece que esse mesmo fã já prometeu post sobre o Veríssimo e ainda não se viu nada. Pergunto: para quando?
Por falar em pontos sensíveis e no orgiástico Veríssimo, em brasileiras(o)s, ops!(desculpem o lapsus calami) e em comilanças. Hoje almocei um bobó de camarão com vatapá e acarajé. Manduquei, bisei...eructei, e lembrei-me de uma personagem do F. Veríssimo, o Ramos, que após um empanzinanço de passoca (se a memória não me trai!) obtemperou: "O homem é o homem porque quer mais".
Remoço o palato no lapso literário,recentro a atenção na mesa, preparo-me para trisar e... foda-se!... não há mais!
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