02/12/08

O Meu Amigo Gourmet, por Zé Manel dos Ossos

Poucas pessoas se podem gabar de ter um gourmet entre os respectivos amigos. Quero dizer: um verdadeiro gourmet. Não me refiro às várias espécies sucedâneas de adeptos de boa comida como o gastrónomo, o bom garfo, o alarve ou o amador da culinária. Não, refiro-me mesmo ao gourmet que é, de entre todas as espécies de cultores do prazer da comida, o guru por excelência. Todos os meus amigos são fanáticos da boa comida, verdadeiros ogres de restaurante, tasca e afins. São todos alarves e a maior parte deles é mesmo bom garfo. Existem alguns amadores de culinária, embora raros. E há até um de nós que, desconfio, é um gastrónomo. Colecciona guias de restaurantes, está actualizado em matéria de vinhos, sabe os nomes dos principais chefs dos antros nacionais da comida e sonha, sonha mesmo, isto é tem sonhos, em que está no El Buli ou no Maxim. E ainda sabe fazer cabecinhas de leitão com cebola ao ponto crocante.

Mas goumet, gourmet a sério só o P.P. O que o distingue de todos os meus amigos alarves, como eu, não é a pulsão da comida que tem em comum comigo e com todos os outros. Não, por aí não há grande diferença. E embora saiba muito destas coisas, mais que nós todos e até que o G. que é gastrónomo, a grande diferença entre ele e nós é que ele gosta de cozinhar e sabe fazê-lo como ninguém. É por isso que, de entre todos os meus amigos, o P.P. é o único que merece o título de gourmet: ele é o único que alia o gosto, o saber e a saber-fazer numa só pessoa.

Neste fim de semana tive a grata oportunidade de merecer um convite do P.P. para almoçar lá em casa, um almoço de degustação preparado por ele ( acho que a razão do convite se deveu ao facto do Glorioso ter apanhado 5 na pácom uns gregos quaisquer a meio da semana. Assim ele tinha a garantia de gozo enquanto cozinhava, duvido que ele me fizesse o convite se o resultado fosse o mesmo mas a favor do Benfica). Começámos a almoçar à 1. 30 da tarde e acabámos por volta das 5.30, noite dentro, portanto. Passei o almoço entre a cozinha e a mesa da sala de jantar a apreciar o espectáculo que é vê-lo cozinhar. Ele explicou-me a excelência dos produtos, a arte dos pormenores - como a utilização de flor de sal com pimenta no foie gras, em vez de sal - e a sensibilidade dos timings certos na cozinha. Acho que nunca tinha estado tanto tempo numa cozinha, mas gostei imenso. Comemos um camarão de Moçambique preparado num molho especial à base de laranja acompanhado com uma salada magistral; seguimos para um foie gras directamente confeccionado por ele a partir de um inteiriço peito de pato (transmutação mágica o inestético peito transformar-se em foie gras) seguimos por um risoto divinal acompnhado com bifes de pato. No final fechámos com queijos e gelado. Um espumante 3B Filipa Pato abriu as hostilidades e casou-se divinalmente com o camarão. Seguiu-se um branco Riesling que pessoalmente muito apreciei, apesar de algumas críticas do nosso gourmet e fechámos com um Termeão tinto (Campolargo) que, sendo excelente, não confirmou toda a enorme expectactiva que nele depositávamos. Tudo isto servido num irrepreensível serviço de mesa com os copos, os pratos, os talheres comme il faut. Touché!
No fim do almoço?, lanche?, jantar?, fui para casa dedicar-me ao nobre desporto do jiboianço, praticamente até ao dia seguinte, feriado da restauração nacional. Quando se é amigo de um gourmet a sério, até o jiboianço é de alta competição.

2 comentários:

Anónimo disse...

Também tenho um amigo destes. O Chef Kzar.
JNAS

Anónimo disse...

acreditando em tudo o descrito se ele te desse sabão também marchava lol

oo