15/06/09

As Minhas Aventuras nos Tribunais da República Portuguesa, por Tó Marsapo

O meu nome é António Marsapo mas todos me tratam por Tó Marsapo. Hoje, pela segunda vez na minha vida pus os pés num tribunal, onde tive oportunidade de assistir a uma audiência que envolve uma empresa e um amigo pessoal. Fui lá parar, um pouco por solidariedade para com o meu amigo, um pouco por curiosidade, um pouco porque andava por ali perto...

Da única vez que estive antes num tribunal fiquei com uma ideia bastante razoável acerca da dignidade da função da magistratura. As togas, a linguagem técnico-jurídica, a minúcia dos interrogatórios, a deferência daquela gente que passa o tempo a chamar-se «sôtor» pa trás, «sôtor» pá frente, em suma, o aparato do circo impressionou-me. Foi por isso que entrei a medo na sala de audiências número dois da comarca de alcarraques. Empurrei a porta a medo, como quem pede desculpa, verifiquei bem se não estava enganado, disse um bom dia hesitante, com medo de perturbar a solenidade do acto e escutei atentamente as instruções de uma senhora - que mais tarde percebi ser a funcionária e chamar-se dona Joana - coberta com uma vetusta capa preta e que me ordenou que desligasse o telemóvel e me sentasse no fundo da sala. Sossegado! Até aqui tudo bem, estava tudo em conformidade com a ideia que eu tinha de um tribunal.

Sentei-me ao fundo da sala, apertei o botão da camisa - tinha uma vaga reminiscência de um amigo causídico me ter dito que os juízes, às vezes, mandam os assistentes abotoar os botões das camisas -, desliguei o telemóvel e pus-me a observar. Como, além de mim, estavam lá três pessoas conhecidas - dois advogados mais o arguido - a que se acrescentou, posteriormente, uma quarta, também amigalhaço, fiquei com a estranha sensação de estar numa jantarada da Confraria Enófila a que todos pertencemos. Mas, desta vez, em vez do Grão, estava uma outra pessoa desconhecida a dirigir as cerimónias - a ilustríssima e digníssima doutora juíza! Passou-me pela cabeça que iam começar a distribuir as notas de prova e que alguém ia pedir o vinho nº 6... Mas porque raio estavam eles vestidos de togas? Foi preciso um pouco de esforço para me relembrar a mim mesmo que não estava em plena janta da Confraria mas no tribunal e que, portanto, não me podia pôr a disparatar e a mandar bocas ao Pilas, qua aliás não estava presente.

Durante a audiência, a informalidade e o tom jocoso estiveram sempre presentes. Por uma questão de respeito para com as pessoas envolvidas não posso entrar aqui em detalhes. Mas a pintura foi definitivamente borrada quando entrou para depôr como testemunha da defesa, sua Eminência, o nosso Altíssimo Grão! No dia anterior, aliás na semana anterior, eu já tinha dito que, possivelmente, ia assistir à audiência e ele passou a semana a avisar-me para não me «armar em bardanas» e para não me pôr com risinhos parvos no tribunal. Também por isso entrei a medo.

Mas às tantas o gajo saiu-se com esta pérola: a juiza perguntou-lhe se o nosso amigo L... é, habitualmente, um moço seguro a conduzir, uma vez que se trata de um processo em que está em causa um acidente rodoviário em que ele esteve envolvido. Ao que o Grão respondeu:
- Concerteza sra doutora juiza. Muito seguro mesmo. Aliás, no nosso grupo de amigos, nunca ninguém colocou qualquer reticência em ser conduzido pelo L..., que sempre nos habituou a uma condução à prova de qualquer crítica. Ao contrário de outras pessoas do grupo, não é?, como o Tó Marsapo, por exemplo. Esse é uma verdadeira aflição a conduzir. Com esse é que ninguém se arrisca a entrar num carro.

Não havia necessidade, claro, mas ele justificou mais tarde que o improviso fora espontâneo, não resistiu, prontos... Eu estava ali sossegadinho, a juiza não faz a mínima ideia de quem eu sou e o certo é que na acta redigida pela diligente D. Joana fica lavrado que o Tó Marsapo é uma «aflição ao volante». Não estrebuchei porque, enfim, ainda há em mim um resto de respeito pela solenidade de um tribunal. Mas lá que me apeteceu, apeteceu.

A audiência acabou pouco depois com a juiza a sair da sala nº 3 do tribunal da comarca de alcarraques à procura da dona Joana que, entretanto, se tinha ausentado, até porque já estava a passar da sua hora de almoço. Não chegou ao fim a audição das testemunhas e amanhã há mais. Mas eu é que não volto a pôr ali os pés. Para ser insultado já chega quando discutimos futebol.

12 comentários:

Anónimo disse...

danger is everywhere

testemunha de acusaCão disse...

Esse dr. Grão é um porco. Sempre a enterrar os amigos. Faltava lá o Pilas. O Pilas dizia-lhe. sim, que o Pilas não é menino para aguentar bojardas calado. Ele até passa a vida no Choupal a espreitar as cópulas alheias. E manda bocas durante. Do Pilas não fala esse porco do Dr, Grão não, é o falas.

Anónimo disse...

Pois, o pilas é que era ali preciso. Eu nem percebo porque é que o pilas não foi chamado a depor. e o xeko. O xeko também não foi porquê? E se ele levasse vinho, já podia não é? O dr Grão é sempre a mesma merda é qo que é.
Togo

Anónimo disse...

devo dizer que foi um julgamento SÓBRIO... lol. Só visto

o único... sóbrio (sim, até no julgamento)

Medalhinha disse...

Dava o dito e dois tostões para ter ouvido a Sr.ª Dr.ª Juíza a dizer ao Grão (de forma maternal) "- Olhe, acabou o seu depoimento. Pode ir à sua vidinha..."

Cão disse...

Também debia-de-ser engraçado ver e ouvir o Báice em tribunal a falar de Câmus e de Aideguér à sonsa da juíza. E o Mangas a mostrar vídeos do falecido Bénard a dizer bem do Manoel dOlibeira.
E os desenhos choupalenses do Pilas afixados ao pé dos documentos cá fora. Issé quéra.

Anónimo disse...

...e bem andou o sr dr grão quando no seu depoimento, sentido e verdadeiro como poucos, identificou claramente esse perigo ambulante, essa verdadeira bomba da estrada, que dá pelo nome de Vaice, autêntica aflição sobre rodas. tenho dito.

grave-se, registe-se e comunique-se superiormente para que sejam tomadas as medidas adequadas.


escriba

Anónimo disse...

Tu davas o quê, medalhinha?

conduCão disse...

O Baice é um schumacher ao contrário, de facto. Até comprou o malraux por engano; como vê mal, pensou que se chamava A Condução Humana. Ora, por aqui se vê que o Grão, doutor, tem razão.

Anónimo disse...

Ora nem mais. O Cão quando fala, ladra bem.

Doutor Grão


PS: Ontem tivemos aqui na máfia do dallas a excelsa visita do Grande Tinó. Confirma-se. Está vivo e mexe.

Anónimo disse...

É verdade, foi uma visita muito agradável. O Doutor Grão abriu uma garrafa de vinho do porto feito com uvas pisadas pela Dona Antónia Ferreira, comemos umas trufas e foi ainda servido um bolo de onde saltou uma coelhinha da playboy. E depois saltámos lá de cima de paraquedas sobre a pastelaria, onde comemos uns jesuitas, que nem ofereceram muita resistência. Eu até me mudava para lá de vez, se não fosse o risco do cholesterol.

Tinó 8 e Meio

Cão disse...

Olhó Tinó! Saudades, carago. O Tinó aparecer é como o Baice ter cabelo. Pouco mas rijo, portantos.