Falar de Alfredo Marceneiro é o mesmo que falar da «coisa em si» de Kant. Filosoficamente a coisa em si corresponde à realidade numenal que, segundo Kant, existe mas da qual não podemos ter qualquer conhecimento, a não ser na sua pálida manifestação «fenoménica». Assim é Marceneiro: sabe-se que foi a alma do fado, mas não podemos conhecê-lo a não ser a partir das pálidas gravações que nos ficaram da sua arte. Mas não será sempre assim, perguntar-se-á? Afinal só temos da maior parte dos artistas a sua manifestação fenoménica sob a forma de discos e filmes. É verdade. Contudo no caso de Marceneiro há uma diferença enorme. É que, para Marceneiro, a gravação tecnológica da sua música era um aviltamento.
Nascido em 1891 e falecido em 1982, o sr. Alfredo iniciou a sua carreira numa época em que a tecnologia de gravação estava a dar os seus primeiros passos. E, para ele, o fado, de que foi imortal xamã, era incompatível com a industrialização e o showbizz:
«O meu maior desgosto é um desgosto em relação ao fado: foi gravar discos, os discos vieram industrializar o fado, o fado não se deve vender, eu canto porque a minha alma o ordena, canto como se rezasse. Não gosto de cantar para máquinas. Quero ver o público, analisar as suas reacções, ver se estão a gostar».
Que é como quem diz: para nós que não vivemos no seu tempo, o único acesso que temos ao Marceneiro-em-si é esta miserável e falsa sombra das gravações. O verdadeiro Marceneiro, só o conheceu quem teve o privilégio de o ter ouvido cantar, algures numa taberna nocturna da Lisboa dos anos 20 a 50. E esses já cá não estão.
Alfredo Marceneiro foi uma personagem fantástica que entendeu o fado na sua pureza mais radical. O fado não era, para ele, uma questão de voz. Considerava-se a si próprio um dizente, alguém que, simplesmente, dizia melhor que outros as palavras dos poetas:
«No meu tempo não havia discos, não havia telefonias, nem se aprendia a cantar. A voz não interessava. No culto da voz está, talvez, o pior mal do fado: quem ouve a voz já não ouve a letra.»
Será por isso que o fado está morto? O fado na sua acepção mais pura, lapidarmente aqui formulada pelo grande Marceneiro? Eu sei que há agora uma nova geração de fadistas, como a Ana Moura (que cantou o No Expectations com os Stones em Lisboa), a Mafalda Arnauth, a Mariza, o Camané… Mas talvez nada do que eles cantam sejam fado, no sentido religioso que lhe dava o grande Alfredo. Ou talvez, hipótese menos chocante, o fado seja um género muito diverso e o Marceneiro seja apenas um representante – um dos mais geniais, sem dúvida – de um deles, de um sub-género em vias de extinção.
Alfredo Marceneiro era um homem da noite, da adega e da tasca, um mulherengo afamado. Reza a lenda que se deitava às nove da manhã e acordava às nove da noite. E era muito sensível à luz, «como é que posso cantar com esta luz toda?», reclama ele numa dessas falsas e inestimáveis gravações. Cantou até ao fim da sua vida, foi uma lenda até falecer e continuará a sê-lo. Conta-se que numa fase já tardia da sua carreira, cantava ele na Toca, em Lisboa, quando uma senhora da alta sociedade comovida com a actuação do mestre, agarrou-se a ele e disse-lhe: «O senhor Alfredo é a relíquia do fado». O velho fadista, que sempre teve o seu quê de vaidoso, não terá gostado da metáfora. E replicou: «Relíquia é o c*******!». Ah fadista…
8 comentários:
Boa postagem, sim senhor.
esta merda é um escândalo! atão o marceneiro vira-se para a dita senhora da relíquia e diz-lhe; relíquia é a letra C com seis estrêlas?
já não se mete um honesto e merecido CARALHO num post do porco?
Lello
nunca gostei de fado, mtº menos de marceneiro
g, vamos lá a dobrar a língua... Senhor Marceneiro, se faz favor.
ó c*** c*****, e**** p**** d* f*** é f*****
General de 5*
O Marceneiro, mas é um caralho de cinco estrelas! A verdadeira alma fadista, o maior fadista quinté hoije viveu no mundo foi o grande Carlos Ramos, o do Não Venhas Tarde!
http://www.youtube.com/watch?v=6Qvr87le6fk&feature=related
E quero mais aqui dizer ao Gabi Alves dos Cantos, esse também enorme fadista, que por mim pode passar a dizer mal do Reinaldo, mailos seus milhões de aéreos e a ranhosa galdéria da paris hilton e pqp pra eles todos!
toni das farturas!
ó c*** c*****, e**** p**** d* f*** é f*****
General de 5*
Quero a tradução!!!!
Acabei de remeter este texto para o seu neto e biógrafo e pessoa excelente, Vitor. Um abraço a todos deste fã do tapor mas sempre numa surdina que hoje por força maior decidiu interromper.
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