12/04/10

Aqueles Cujo Nome Não Pode Ser Pronunciado, por Gibson

Ontem o site do excelente semanário Sol (bem haja pela publicação das escutas dos boys) publicava a seguinte notícia:

«Quatro pessoas baleadas durante casamento em Coimbra
Quatro pessoas ficaram feridas na última madrugada num tiroteio numa boda de casamento nos arredores de Coimbra, disseram hoje à agência Lusa fontes policiai.»

Já leram? Pronto, agora antes de continuarem a ler o post digam lá o que pensaram. Sinceramente, sem censura, sejam honestos. Já pensaram? Pois, certamente pensaram o mesmo que eu e que os milhares de leitores desta notícia. Custa admitir mas a palavra que se acendeu no cérebro de qualquer pessoa que leu esta notícia foi, como é evidente, «ciganos».

Hoje o diário conimbricense dava a mesma notícia. Assim:

«Vários tiros puseram termo (...) a um casamento de etnia cigana, etc...»

Viram a diferença? Pois é, o Sol optou pela formulação politicamente correcta e não noticiou a etnia dos indivíduos envolvidos. As Beiras fê-lo. Qual a opção correcta? O Sol sonegou informação importante. Ontem li esta notícia, tive quase a certeza de que eram ciganos, quis saber se o eram, mas a notícia era omissa. E era importante, para mim que sou de Coimbra, sabê-lo. Foi irritante ter a sensação, quase a certeza de que aquilo foi com ciganos, mas não ter possibilidade de o saber.

Hoje As Beiras confirmaram o meu «quase» de ontem à noite. Na notícia das Beiras foi previligiada a informação em detrimento da censura politicamente correcta. Gosto do Sol. Mais que das Beiras. Mas em relação a esta opção editorial, não tenho dúvidas em afirmar, por mais chocante que isto possa parecer a algumas sensibilidades mais delicadas, que prefiro o tratamento que as Beiras deram a esta notícia. O dever de informar, mesmo contra o pensamento instituído, ainda continua a ser um valor fundamental no jornalismo.

15 comentários:

porquê? disse...

«O Sol sonegou informação importante (...) E era importante, para mim que sou de Coimbra, sabê-lo.». Ainda que mal pergunte, é informação importante porquê exactamente?

Anónimo disse...

Porque, precisamente, sendo de coimbra e conhecendo alguns conflitos em que estão envolvidos ciganos locais, queria saber se mais uma vez era o caso ou não. Só por isso, nada de especial.
Gibs

porquê? disse...

É claro que é especial, se não fosse não suscitava o post. E o que é que têm assim tão de especial, portanto, conflitos com ciganos locais envolvidos? Isto é, porque é que são mais especiais do que conflitos com outras pessoas? Eu farto-me de ver notícias de conflitos com gente de outras cores. Acharias pertinente que o jornal noticiasse que um casamento de brancos caucasóides alentejanos descambou em pancadaria? Eu não.

Consigo, no entanto, perceber a política do Sol. Que deve beber, de resto dessa grande escola de jornalismo que foi o Público e que no seu livro de estilo, um marco no jornalismo nacional, diz assim: «No PÚBLICO não se faz discriminação sexual ou racial. A cor da pele do suspeito de um crime nunca deve merecer relevância noticiosa, salvo quando subsistirem óbvias implicações raciais. Cf. Casos de violação da privacidade, em Privacidade e Responsabilidade.».

Achas que há aqui óbvias implicações raciais?

Anónimo disse...

Se bem percebo, a questão não é racial,ciganos pretos, indíos... mas de dizer CLARAMENTE e sem subterfúgios os factos. Todos. Com nomes. Doa a quem doer. Portanto não nos refugiemos na aparência mas centremo-nos na essência: o fundamental é transperência, clareza e frontalidade. Penso que é isto que o texto quer dizer. Ou não?

SLB, frangos e companhia (e viva o Aimar mai lo Davi Luís)

Anónimo disse...

Subscrevo o que diz o comentador anterior. E o anónimo lá de cima escusa de citar o livro de estilo do público - argumento de cátedra - pk eu já sei, como digo, que essa é a posição politicamente correcta.
Gibs

Anónimo disse...

gostava que o autor do post PRIVILEGIASSE raciocínios isentos de discriminação gratuita...
é que eu, a partir de agora, terei muita curiosidade em saber se os assaltos são perpretados por carecas! Quero saber os factos todos...

André Correia disse...

não é uma questão de ser ou não politicamente correcto;Gibs está a ver mal;porque se frisará "cigano", "africano", "chinês", mas não "branco", "ariano", "caucasóide", por exemplo? Desde quando acrescentar "cigano" é clarificar uma notícia, mas omitir que um traficante é português - de resto como o são a maioria dos ciganos - branco, etc não é obscurecer outra notícia?

porquê? disse...

A questão para mim é tão só a do próprio elemento "racial" no discurso (e sobretudo no discurso jornalístico), sendo certo e sabido de ciência segura que as raças humanas são um mito. Quanto muito concedo o factor cultural, mas influem em grande medida factores sociais e económicos, quando falamos de realidades criminais ou outras. Persistir em abordagens raciais parece-me não só descabido como contraproducente, porque dá azo à criação de estereotipos perigosos e a tendências ideológicas não menos daninhas. Continua a parecer-me, como tal, muito mais responsável o comportamento do Sol.

porquê? disse...

E qual é o problema, já agora, com as posições politicamente correctas?

Anónimo disse...

Obrigado a todos os comentadores que se deram ao trabalho de comentar o post. O Tapor estava a precisar disto, anda tudo muito pacaato por aqui.

Dito isto, tanta pseudo ingenuidade que por aqui vai... Para mim a questão é muto simples:
Se um jornal escreve: «4 mortos a tiro num casamento» a notícia é o «quê» e omite-se o «quem» como se isso não tivesse importância informativa nenhuma. Pois para mim tem.
Mas se se escreve «4 mortos a tiro num casamento, envolvidos são de etnia cigana», a notícia não é só o «quê» mas também o «quem».
A questão está em sabermos se a indicação da etnia dos intervenientes é ou não relevante.

E para mim é, neste caso pelo menos. Porquê? Porque as pessoas que vivem em Coimbra sabem perfeitamente que a comunidade cigana está ligada a muitos casos de violência. Eu próprio podia contar vários casos que conheço, coisa que não vou fazer. Portanto há aqui uma imputação de um curriculo de responsabilidades que é relevante. Entendamo-nos: pelo menos no caso de Coimbra os ciganos estão frequentemente ligados a este tipo de notícia. Logo é, OBJECTIVAMENTE, relevante saber se este caso se passa mais uma vez com eles ( e era o caso, como digo nem era preciso escreverem).

Por isso é que elogio a notícia das Beiras - este jornal local soube captar o essencial da informação relevante para os leitores de Coimbra e foi capaz de não censurar essa objectividade em nome do pensamento de estufa. Não são estas notícias que levam à má imagem da comunidade cigana - são certos actos que ela objectivamente pratica.
Convém que não se mate o mensageiro por dar a notícia, a responsabilidade não é de quem diz mas de quem fez...

E só mais um ponto: há um anónimo que diz que também vai querer saber se crime X ou Y é cometido por carecas ou por gordos, etc. Isso não é relevante porque não há nenhum nexo objectivo que ligue os carecas ou os gordos a este tipo de violência. É fortuito. Mas se houvesse, concerteza que eu faria questão de saber se foram ou não os carecas ou os gordos a praticar esses actos. Se numa cidade os gordos e os carecas começarem, de repente aos tiros, e a tornarem regulares certos actos de violência, aí eu vou querer saber se são eles ou não. Os ciganos não são diferentes dos gordos e dos carecas,nem dos pretos nem dos amarelos nem dos caucasianos. então porque é merecem este estatuto que a pseudo-ingenuidade de alguns teima em lhes atribuir?

Anónimo disse...

O detalhe importante de se tratar de ciganada não era assim tão importante... 99,9% dos leitores, telespectadores ou ouvintes da notícia jurariam, antes de o saber que se tratava de ciganos. Sabemos bem com que se pode contar...

Anapurna

Anónimo disse...

Ora bem Anapurna, foi exactamente o que também pensaram os nossos amigos politicamente correctos que aqui vieram protestar...

André Correia disse...

Hoje vem uma notícia no Correio da Manhã (ed. papel) que contraria o espírito ciganófobo que vem sendo aqui apregoado por alguns arautos da adivinhação. Uns putos dedicavam-se, há vários anos, a raptar putos de 15 anos e levavam-nos para Ourense (Espanha) onde os obrigavam a trabalhar, escravizados portanto.
Quando li a notícia pensei que se tratava da rede de ciganos, ainda não se sabe se proveniente de países do leste da Europa ou luso-espanhola que se dedica a este tipo de prática. Porquê? Precisamente porque os jornais, tv, net apenas têm difundido os casos relacionados com esta rede, totalmente ou parcialmente composta por ciganos.
A notícia de hoje diz-nos precisamente que é um risco enorme (e cada um corre os riscos que entende) adivinhar, como algumas pessoas neste blogue, demasiadas vezes, tentam fazer.
Estávamos todos muito bem se pudessemos associar este tipo de crime (bem como o das armas, de tráfico, etc) unica e exclusivamente aos portugueses ciganos, afinal de contas são uma minoria. Mas isso parece ingenuidade a mais, não vos parece?
André MCC

Anónimo disse...

André: Já não sei quem é ciganófobo e quem não é... Então tu dizes que, cito, «Quando li a notícia pensei que se tratava da rede de ciganos»? Ah, mas a culpa não é da tua mas dos media, então tá bem...

Eu, pelo contrário, não penso que qualquer notícia do género implique ciganos. Como explico no post, no caso da notícia do Sol eu pensei em ciganos porque sou de coimbra e conheço as façanhas desta comunidade conimbricense.

Mas faz-me a justiça de não dizeres que sempre que cheira a crime eu pensar em ciganos. Nada disso. Pelos vistos tu é que fizeste essa associação a propósito da notícia que citas.

André Correia disse...

Anónimo[custa-me falar com alguém sem nome, mas vai assim]: é fácil essa manobra: uns são comunidade (os que tu dizes conhecer); acontece que eu conheço bem vários ciganos de coimbra, que nada têm a ver com as coisas de que aqui se fala, talvez não sejam é da comunidade cigana; talvez isso nem exista;então do que estamos a falar? de famílias, tal como nós, não ciganos? o problema do racismo ciganófobo começa logo aqui, não na notícia;talvez seja melhor falarmos claro para não haver equívocos. Depois: ao dizer que associei a notícia à rede de ciganos que se dedica a este tipo de crime é precisamente porque desde há dois anos, pelo menos, recolho notícias e artigos e comunicações sobre o assunto e, tanto quanto sei, pouco ou nada há (havia) sobre não-ciganos dedicados a crimes como este. O que não me habilita a dizer - nem foi isso que eu disse no post anterior, não é o que está lá, é só leres - que são os ciganos, ou a comunidade cigana que o pratica, nem a tipificar como crime cigano. Digo precisamente que é um erro.
O que me parece estar em discussão desde o início, o que é mais importante, é se faz sentido associar o zé e o joão, que andaram aos tiros, assaltaram, bateram, mataram, etc. à sua origem étnica. Fará? Onde é que se quer chegar com essa associação?
Se no lugar onde vivo, o antónio e o manel assaltaram o supermercado, fará sentido dizerem que eles são ciganos? E se forem como eu, branco? Diz-se o quê? Alguém irá falar da comunidade branca da mesma maneira? Nem penses? Se forem brancos, particularizamos; se forem ciganos, generalizamos, é uma certa comunidade cigana de coimbra! E estou a esmiuçar muito quando digo "certa comunidade"...