Há dois tipos de espécimes na fauna chuchialista: a espécie grunha ou feroz e a espécie afável ou mansa. A espécie grunha do partido inclui, entre outras, personalidades como o próprio ingenheiro, o silva pereira, o santos silva, o lello, o vitalino canhas, a dupla pedreira & valter (uma associação ao melhor nível da dupla Bucha e estica, aqui numa versão parola), o vara e mais uns quantos.... Ultimamente, em nome do tal lifting que, segundo o ingenheiro dos projectos da covilhã, era necessário fazer no partido, surgiu uma nova fauna chucha: a espécime «mansa». Tal é o caso do patético assis que até nome de santo tem ou da actual ministra da educação ou dos bonacheirões da família soares e barroso..
Veio agora a lume mais um caso escabroso com um membro da primeira espécie, o deputado o açoreano ricardo rodrigues, figura com cargos oficiais na área socialista da ética e da justiça, o que é,reconheça-se, inteiramente revelador acerca do partido. O caso resume-se assim, cito:
«Confrontado com perguntas sobre as suas ligações a um antigo processo de burla nos Açores e a casos de pedofilia, o deputado levantou-se, enfiou os dois gravadores dos jornalistas nos bolsos das calças e saiu da sala , mas esqueceu-se que a entrevista estava a ser filmada, contou à Lusa um dos jornalistas, Fernando Esteves.»
Acho espantoso que o sr. deputado só venha falar nisto depois do Sábado publicar o filme na net. Se não houvesse youtube, o sr. deputado não faria comunicado nenhum, guardaria a indignação para os seus botões?
Acho fantástico o trabalho de efabulação linguística do sr. rodrigues: segundo o mesmo, as perguntas legítimas feitas pelos jornailstas que, no seu direito, querem saber quem é este alto responsável chucha para ética e a justiça, são qualificadas de «pressão intolerável»; usa o termo, cujo significado deve desconhecer por absoluto, «inquisitorial» a propósito das questões que lhe colocaram; fala em “violência psicológica insuportável».
E como é que se designa o acto que praticou de se apropriar indevidamente de gravadores que não lhe pertencem? Pergunta difícil. Eu não sei. Mas o sr. rodrigues sabe e refere-se a isso assim:“não vislumbrei outra alternativa para preservar o meu nome, exerci acção directa e, irrefletidamente, tomei posse de dois equipamentos de gravação digital”.
«Exerceu acção directa?» «Irreflectidamente tomou posse»? Estas expressões encerram, sem dúvida, uma nova fenomenologia. De agora em diante quando me chatearem com questões incómodas eu passo a exercer acção directa e prontos. Tomo, irreflectidamente, posse de coisas que não me pertencem e mai nada. E a expressão «acção directa» é impecável porque possui ainda uma ressonância justiceira esquerdista, faz lembrar aqueles grupos anarquistas e extremistas que advogavam a acção directa como forma de realização da ditadura do proletariado. Lindo, este homem sabe o que diz!
Este «irreflectidamente» é genial. Dá a impressão que o sr. ricardo pegou nos gravadores inconscientemente, sem dar por isso, e os meteu ao bolso. É verdade - e quem ver o vídeo pode confirmá-lo - que ele revela grande destreza e habilidade manual ao meter os gravadores dos jornalistas no bolso(na terminologia dele: exercício de acção directa). Será isso que quer dizer «irreflectidamente»? Como aqueles actos que nós fazemos diariamente sem darmos conta, pela força do hábito, como, por exemplo, poisar a chave de casa em cima do mesmo móvel, apanhar a escova de dentes de manhã sem sequer , sem olhar para ela, etc, etc? Pode ser...
Em suma: o sr. ricardo exagera. Dramatiza as perguntas que os jornalistas lhe fazem: pressão, inquisitoriais, violência, intolerável,só faltou que falasse em mais uma campanha negra... Já o acto de levar ao bolso gravadores que não lhe pertencem e não os devolver é menorizado e classificado como «acção directa» ou «tomada de posse irreflectida». O ps anda enganado ao dar a este senhor um cargo na área da ética - a sua área devia ser outra, como é bom de ver. Tivesse o ps um departamento de filosofia da linguagem e já tinha aqui o seu Wittgenstein...
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