22/05/10

Still Is Coimbra, por Dr. Formidável


Esta semana abriu, ou melhor, reabriu em Coimbra a velha sede da Académica - OAF no mesmo local de sempre, mesmo na esquina da rotunda do Papa, aos arcos do jardim botânico. A velha sede da OAF sempre foi um local de culto. Passei lá muitas noites nos antigos jardins da AAC com grandes conversas sobre tudo, até sobre futebol. Foi uma pena quando fechou. Hoje voltei lá, os tempos são outros e o espaço é outro.

A AAC concedeu a um privado a exploração deste espaço. Chama-se Still Is Coimbra, foi inaugurado com pompa e circunstância, foi destaque jornalístico na imprensa local, na Bola, na TVI e até meteu a presença do Pantera Negra - que por acaso é do Benfica e chama-se Eusébio. Fui lá esta noite e gostei. Não foi por causa da comida que, por acaso, até era sofrível.

No entanto aquele espaço é quase um Museu. Alguém teve a ideia brilhante de decorar as paredes do Still com as páginas ampliadas do livro Académica - História do Futebol, da autoria de João Santana e João Mesquita (entretanto já falecido, uma pessoa que deixa saudades). Gostei da sensação de andar a passear pelas páginas de um livro!

A edição deste livro foi um verdadeiro acontecimento. Trata-se de um documento impressionante, um manancial de informação rigorosa recolhido pelo espírito minucioso de João Santana, cuja elaboração implicou anos e anos de trabalho dedicado. Mas para além disso o livro conta ainda com a pena brilhante de João Mesquita que lhe confere humanidade e lhe acrescenta a pequena história exemplar, tão bem ilustrada na vida contada de tantas personagens academistas.

Não há nenhum clube em Portugal que tenha uma obra de referência com esta qualidade. E não sei se haverá mais alguma coisa parecida em mais algum clube fora de Portugal... Pois bem, quem não conhece o livro, tem agora uma oportunidade de o conhecer. Basta ir ao Still cujas paredes estão decoradas com as suas páginas, com todas as suas fotos- algumas magistrais! - e com os textos do João Mesquita.

Mesmo não sendo, propriamente, um academista convicto - gosto da AAC mas é o meu segundo clube - gostei do Still e acho que é um espaço original na cidade de Coimbra. Trata-se de um espaço vivo porque as paredes estão carregadas de energia... As paredes e as pessoas que percorrem, comovidas, a história da AAC dispersa ao longo de várias salas e não sei quantos pisos. Grande ideia esta de fazer do livro um restaurante, de fazer do livro a sede da AAC, de lhe dar nova forma e de o fazer viver de outra maneira.

Aquando da inauguração do Still, A Bola escrevia que a decoração e concepção do espaço tinha tido a colaboração do «grande historiador e investigador, João Santana». Está errado: João Santana não é historiador profissional nem de formação. No entanto, depois, desta visita de hoje ao Still eu fiquei com a ideia de que isto é uma outra forma de fazer história. Não a História erudita e tradicional. Mas para que é que serve a História senão para nos dar lições de vida e para, assim, nos fazer sentir mais vivos? Quando vejo tantas pessoas que se passeiam pelas muitas salas do Still, que comentam emocionadas as fotografias e os textos que decoram as paredes, eu penso que a História a sério, também é isto. Senão é isto, então o que é? Um pergaminho inútil? E, neste sentido, o erro da Bola acaba por se tornar verdadeiro: João Santana (e acrescento o nome do saudoso João Mesquita) é, sem dúvida, «um grande historiador e investigador».

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