E pronto! Ou melhor, quase pronto, estou quase a acabar uma das maiores aventuras literárias da minha vida, a leitura do excelente 2666 do escritor chileno Roberto Bolaño. Foi uma grande aventura literária porque, para além da sua indiscutível qualidade literária, trata-se de um dos maiores senão do maior livro que alguma vez li: nada menos que 1030 páginas de literatura a sério!
O livro, editado postumamente, foi saudado como o acontecimento literário do século. O Washington Post considerou Bolaño um «imortal», o the Observer «o fora de série da literatura latino americana» e o Time referiu-se a 2666 como «uma obra prima». Não tenho jeito para tais qualificativos, mas acho que estamos, de facto, perante um livro excelente. Melhor, 2666 não é um, mas cinco livros diferentes que o autor pretendia editar separadamente. Foi a editora que resolveu publicar os cinco num só, uma vez que há aqui uma indiscutível unidade de conjunto.
Não gostei dos cinco livros por igual, mas adorei o primeiro, o terceiro e, particularmente o quinto. Acho notável a remissão que o último livro faz para o primeiro, esta noção que subsiste da íntima ligação entre todas as coisas e todas as vidas. Fica a sensação de que esta enorme narrativa poderia começar em qualquer ponto e que, mesmo assim, continua a existir uma unidade que liga todas aquelas histórias. Faz lembrar um jogo de matrioscas literário, cada história, cada personagem encaixando na vida de uma outra num ciclo que é ao mesmo tempo infinito e fechado.
Não vou alongar-me sobre 2666. Quero deixar aqui, apenas, uma colecção curiosa de alguns erros cometidos por eminentes e distintos escritores. Não se trata de asneiras retiradas de uma qualquer História dos Disparates Ditos Pelos Alunos de História de Portugal, ou algo parecido, mas, supostamente, de verdadeiras gaffes debitadas por grandes nomes da literatura.Um Museu de Erros curiosos que Bolaño se deu ao trabalho de compilar e comentar. Ficam alguns, retirados da página 967 do livro:
«Vamos embora!, disse Peter procurando o seu chapéu para enxugar as lágrimas», Lourdes, Zola.
«O Duque apareceu seguido do seu séquito que ia à frente», As Cartas do Meu Moinho, Alphonse Daudet.
«Com as mãos cruzadas atrás das costas Henrique passeava-se pelo jardim lendo o romance do seu amigo», O Dia Fatal, Rosny.
«Depois de lhe cortarem a cabeça, enterraram-no vivo», A Morte de Mongomer, H. Zvedan.
«Com um olho lia, com o outro escrevia», Nas Margens do Reno, Auback.
e, finalmente, a minha preferida:
«Começo a ver mal, disse a pobre cega», Beatriz, Balzac.
Mas serão mesmo gaffes a que, afinal, nem os grandes escritores escapam? Ou, pelo contrário, são apenas exemplos prodigiosos de linguagem metafórica e poética? Terão estas frases algum sentido plausível que nos escapa à primeira vista? A última e minha preferida, por exemplo, de Balzac, parece-me bastante interessante do ponto de vista literário e não creio que seja, simplesmente, uma gaffe cometida pelo escritor francês. E a vocês? O que é que vos parece?
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