26/05/10

Grandes Vilões do Cinema - Frank Booth (Dennis Hopper) em Blue Velvet, por Mangas

Frank Booth, “O Animal”, de Blue Velvet (David Lynch, 1996). Antes de tudo o resto, Blue Velvet é filme muito, muito bem feito! Fico-me apenas por um singelo pormenor, porque não é sobre a obra em si este texto: David Lynch tem arte e engenho para mudar quatro vezes seguidas de trilha sonora nos primeiros quatro minutos e meio de filme! E resulta sempre bem.

Em cada dessas inflexões consegue uma harmonia perfeita entre os sons e as imagens que funcionam como unidades que se complementam, como sintonias de ambientes que o espectador contempla, cenários e melodias que descrevem a superfície visível e antecipam o mergulho nas trevas. Começa com os inquietantes violinos a lembrar os genéricos dos films-noirs dos anos quarenta, muda para a voz macia como algodão de Bobby Vinton no clássico que dá título ao filme e que serve para ilustrar as cenas do quotidiano pacífico numa pequena cidade do noroeste americano – o slow-motion do carro de bombeiros, as rosas vermelhas contra o céu azul, os miúdos na passadeira a caminho da escola, um velho a regar a relva, e, com o ataque cardíaco deste reformado, a câmara recua à dimensão de uma orelha decapitada, baixos e contrabaixos impõem-se de forma angustiante aos amplificados ruídos dos escaravelhos que a devoram, e tudo termina com uma grande cartaz da cidade madeireira e o jingle da rádio local, a voz de Lumberton. Notável!

Quanto a Frank Booth, bem, esse é um cabrão tortuoso, arrevesado e maligno do piorio que o cinema nos deu! O papel assenta como uma bota a Dennis Hopper, na altura ele próprio em derrapagem acentuada com o uísque e as drogas. Mas Frank, quando mete uns bourbons para dentro e inspira o óxido nítrico da máscara portátil, toca as fronteiras da insanidade, alucina como um cão raivoso, descarrega uma fantasia sexual mista de bondage&incesto sobre a pobre Isabella Rossellini a quem chama carinhosamente “mummy” com a cabeça encostada ao colo antes de lhe pontapear os queixos…! O filho e o marido “à Van Goh”, tem-nos como reféns.

E se tal não bastasse para completar o perfil desta besta tresloucada, como imagens de marca ficam-lhe as lágrimas convulsivas quando na penumbra do bar ouve a sublime Isabella cantar o Blue Velvet com aquela voz enfeitiçada e hipnótica; e o anuncio sonoro antes de mais uma incursão na noite underground que alimenta luz e a alma do filme: "I FUCK ANYTHING THAT MOVES!!" Está tudo dito. O cinema sem Frank Booth era como uma tourada sem ferros.

2 comentários:

Supernova disse...

Um grande vilão sem dúvida. De uma mente como a de Lynch tinha que aparecer alguém assim.
Um filme a rever principalmente para recordar Dennis Hopper num grande papel.. ele que desapareceu hoje.

Supernova disse...

"There was me, that is Alex, and my three droogs, that is Pete, Georgie, and Dim, and we sat in the Korova Milkbar trying to make up our rassoodocks what to do with the evening. The Korova milkbar sold milk-plus, milk plus vellocet or synthemesc or drencrom, which is what we were drinking. This would sharpen you up and make you ready for a bit of the old ultra-violence." Alex de Large

Aqui está um grande vilão do cinema um daqueles que nem uma lavagem cerebral manda abaixo.