08/09/10

«E você, o que me aconselha de Portugal?», por Tuga

Diz-me um amigo (bem, ele é um pouco mais que «um amigo») que no momento vive no Brasil que os seus amigos de lá lhe perguntam: «E você, o que me aconselha de Portugal»? O meu «amigo» pede-nos ajuda no seu blog (http://vaipaselva.blogspot.com/) . As minhas sugestões - cada vez mais omissas, sempre que as releio - foram as que se seguem. E gostava de ler as vossas sugestões, também... E vocês, o que lhes aconselham de Portugal?

O Benfica!
Os grandes escritores portugueses: o Eça, o Camilo, o Aquilino, nos mais antigos. O Lobo Antunes, o Fernando Campos, o Pedro Rosa Mendes nos contemporâneos.
Nos poetas: o Camões, o Pessoa, o Mário Cesariny, o Mário Henriques Lisboa...
O Benfica!


A música: os fados da Amália e do Alfredo Marceneiro e os mais recentes da Ana Moura e da Mafalda Arnauth.

O rock em português, os GNR dos bons velhos tempos (não os actuais) e os velhos Xutos (não os vendidos de agora).

Os grandes cantores de intervenção, uma coisa muito nossa, comparável à bossa nova deles: o Sérgio Godinho, o grande Zeca (um marco também no fado de Coimbra, juntamente com o Luís Goes), o Fausto, o Zé Mário Branco, os Trovante antigos, o Carlos Paredes... As recolhas da música popular do Michel Giacometti e a brigada Victor Jara...

Diz-lhes que temos alguma boa música clássica: o barroco de Filipe Pires e a música moderna de Jorge Peixinho... E bons intérpretes como a Maria João Pires, ou o António Rosado.

Excelentes solistas como o Mário Laginha (com ou sem a Maria João), o Bernardo Sassetti, o António Pinho Vargas...

O Benfica!


Fala-lhes dos nossos pintores: Nuno Gonçalves, Vieira da Silva, Almada, Paula Rego...
E do Benfica!

Não vale a pena alongares-te muito sobre o nosso cinema, mas o cinema documental do Jorge Pelicano e Aquele Querido Mês de Agosto do Miguel Gomes (e eu aproveitava e falava do nosso kitch, do Marante, do Emanuel, do Nel Medeiros e do Malhoa, gandas malucos). Este cinema é original, acho que lhes interessaria...
E o Benfica!


A nossa comida que, ou é defeito do meu palato, ou é mesmo do melhor: da lampreia, do leitão, do bacalhau, dos pézinhos de coentrada, do nosso peixe, dos percebes e das ostras, ufff, é só puxar pela memória. Dos nosso grandes restaurantes. E do nosso excelente vinho: o Barca Velha, o Pêra Manca, os Patos, o Vale Meão, o Batuta, etc, etc. Do Porto, do favaios, do madeira.
Do Benfica!


Do Minho, que é verde; de Trás-os-Montes, que é árido e selvagem; do Porto que é a melhor cidade de Portugal e o sítio onde os portugueses são mais brasileiros; da costa de Aveiro; de Coimbra; da Serra da Estrela; de Castelo Branco e do seu Boom Festival; do Oeste, das suas praias e de Óbidos; de Sintra e de Mafra; de Lisboa, que é cosmopolita e tem o Glorioso; de Sesimbra, de Tróia e do Portinho da Arrábida (mas não fales na cimenteira); e de Setúbal; da imensidão do Alentejo, que faz lembrar o ceará deles; das suas praias, que são as melhores de Portugal (que pena as águas tão frias); esquece o Algarve na época de férias, que não é tuga, mas dá-lhe o benefício da dúvida em Junho.
Do Benfica!

Da nossa história, que a escola desdenha: da resistência aos Romanos e de Viriato, da geração de Borgonha que nos fundou, da Reconquista; da fabulosa Geração de Aviz, que foi do mestre de Aviz a D. Sebastião (e não deixes de lhes explicar que tivemos, entre outros, um génio no trono que foi D. João II e que, sem ele, talvez eles hoje falassem espanhol), do Infante D. Henrique, que não foi rei mas é como se fosse. Diz-lhes que houve um rei dos nosso que fugiu para aí e foi morar no Rio. Adorou e não queria regressar! Fala-lhes em D. Pedro, que foi o nosso IV e o I deles. Fala-lhes em 1640 e em 1910. E, claro, explica-lhes quem foram os nossos descobridores: Dias, Gama e (para eles é importante), Cabral. Mas não os branqueies. Explica-lhes que corremos com os Mouros do Algarve, estivemos na Guiné, em Angola, em Moçambique, na Índia, no Brasil e assobia para o lado quando te perguntarem como é que depois disso tudo chegámos ao ponto de ter um falsificador de licenciaturas a mandar em nós...
E não te esqueças de lhes falar do Benfica!

Fala-lhes dos nosso monumentos: do nosso Manuelino, estilo único no mundo, e dos Jerónimos; dos Templários e do que cá deixaram (do castelo de Almourol e do de Tomar; do mosteiro de Alcobaça; dos nosso muitos castelos e, sobretudo, do de Guimarães. Diz-lhes que somos o povo que existe há mais tempo, enquanto tal, em toda a Europa. Vão ficar admirados!
E do Benfica!

Da nossa arquitectura, principalmente de Siza Vieira (do Museu de Serralves, da Casa do Chá em Leça, da igreja, do bairro no Alentejo, do Pavilhão do Conhecimento na Expo...) e no Souto Moura que até fez um estádio de bola que é uma obra prima e não, não é o do Benfica é o do Braga...
Diz-lhes que somos um país geralmente seguro, que vives numa cidade onde te podes esquecer de deixar as portas abertas e onde podes andar à vontade durante a noite...
E do Benfica, claro!


Bem, por agora acho que isto chega. Mas acima de tudo, não sei se já te disse, não te esqueças de falar no Benfica que é maior do que este imenso país. Eles sabem que o Benfica é o clube onde joga o David Luiz? Pois é, não podes esquecer-te de lhes falar do Benfica...

7 comentários:

Pratos de Ouro disse...

bom post! e é isto que tenho a dizer: Um dia quando houver um spot publiciário merecedor de novo comentário, sairá o segundo texto desta saga, até lá entretenham-se com um abraço

As aventuras de um empregado gourmet

http://ohpirussas.blogspot.com/

Anónimo disse...

Ok Pirussas. E não aconselhas nada de portugal ao pessoal brasileiro?

Cão disse...

O Benfica, sim. O resto é discutível.

Anónimo disse...

Concordo inteiramente, amigo Cão: em portugal, indiscutível, só o Glorioso!
Tuga

Bossa velha disse...

Está óptimo, Tuga. Pôr os brasileiros a ler Aquilino, ou mesmo o Camilo, é que é como pôr os portugueses a ler tupi guarani, mas pronto. O que eu acho é que não pode ser bom benfiquista um tipo que diz que o Nel é "Medeiros"! Monteiro!

Anónimo disse...

Tem o Bossa inteira razão e faço mea culpa relativamente à confusão havida com o apelido o senhor Nel. Sempre tive dificuldades com a grande cultura.

Já sobre a dificuldade dos brasileiros lerem aquilino ou camilo, discordo. Depende do aquilino, depende do camilo: se o malhadinhas ia leantar alguma dificuldade (superável e incomparável á nossa habilitação em ler tupi guarani) já a Mina de Diamante, por exemplo, é perfeitamente adequada e até se passa, parcialmente, na cidade Maravilhosa; quanto ao camilo ainda menos concordo - então A Queda de um Anjo não é uma lição, também para os nosso irmão? E a dificuldade de estilo não me parece ser excessiva...
Tuga

Anónimo disse...

P.S. Desculpa o português, escrevo à pressa, tou a sair....
Tuga