30/08/10

Fecha os braços, ó parolo!, por Cão

Determinado banco da nossa praça comercial e financeira garante receber-nos de braços abertos. E determinado homenzinho abre os braços no cartaz para ilustrar o chamariz. O homenzinho é o Tony Carreira. A isto chegámos. Caramba, a isto chegámos.

Antigamente, ainda tínhamos o Tony de Matos. Com o descalabro galopante do 25 de Abril de 1974 e com a selvajaria também galopante do capitalismo, a pimbalhada parece ter-se tornado obrigatória.
Digo-vos, e garanto-vo-lo por minha honra, que nada me move contra o tal homenzinho. Até o acho simpático, coitado. Mas é que gosto mais do Tony de Matos, que sabia cantar. Este banco e este Tony não sabem nada. Este País também não sabe nada. Não sabe nem quer saber. Saber faz doer, parece.

Mas ainda não perdi de todo a esperança. Quero dizer, do 25 de Abril espero nada. Desse e dos outros dias todos do ano, todos os anos. Mas pergunto-vos isto: não seria absolutamente encantador que o Tony Carreira, pago à fartazana pelo tal banco, começasse a trovar cançonetas baseadas em poemas de, digamos, Keats, Marcial, Eurípedes, Safo, Tasso, Wordsworth, Petrarca, Catulo, Lorca, Blake, Ronsard, Colonna, Píndaro ou Thomas? Hm?

Que me diríeis?

Penso que ele não irá por aqui. Porquê? Porque nem ele nem o País conhecem Jorge de Sena, nem José Régio, nem Bernardo Santareno, nem o matemático Pedro Nunes, nem a revolução neurocientífica desbravada por Egas Moniz (não é o da corda ao pescoço, é o médico e biógrafo de Júlio Diniz), nem quem foi Ana de Castro Osório, nem Maria Amália Vaz de Carvalho, nem ninguém que valha a pena.
E eu já nem pena tenho. Nem do Tony de agora, nem do País de antigamente, que por acaso era um sítio com futuro antes da selvajaria da ignorância obrigatória. Era, era. Mas já foi.

26/08/10

Campanha Eleitoral, por Mau


O Brasil está em campanha eleitoral. Qualquer vulgo "gringo" repara logo nisso, porque torna-se complicado passar indiferente às pessoas com bandeiras a publicitar os deputados, os cartazes, as bicicletas com bandeiras e os panfletos que nos são dados em cada esquina.

Há uma infinidade de candidatos, desde o Wilson Perna-Torta à Mulher-Pêra, passando pelo nosso bem conhecido Romário ou pelo Bebeto. O que mais fama ganhou acabou por ser o Tiririca, um humorista que se candidatou... mas há muitos outros.

As grandes frases do Tiririca são:
"O que faz um Deputado Federal? Também não sei. Mas vote em mim que eu depois te conto!"
e
"Vote Tiririca. Pior do que está não fica!"

Alguns dizem que é falta de respeito. Que é uma vergonha e que há que levar a sério uma coisa séria como estas. Agora eu pergunto: não será maior falta de respeito candidatarmo-nos como Engenheiros e não dizermos que tirámos o curso a um Domingo e que a Licenciatura lhe calhou na raspadinha?

Não será maior falta de respeito candidatarmo-nos como uma personalidade importante e na verdade sermos o come-tachos, cola-cartazes típico da política portuguesa?

Não será maior falta de respeito mentir às pessoas que votam neles?

É que eu sinceramente acho estes gajos mais sérios do que os que temos em Portugal. Pelo menos são sinceros. E assim como assim as pessoas em Portugal votam nos seus clubes: votam no PS porque são do PS e no PSD porque são do PSD. Se mentirem tanto melhor: mais votos terão...

Mas eu continuo a preferir os Tiriricas...

Adenda ao post do Mau - Atenção ao vídeo que se segue. É um best of de alguns génios candidatos brasileiros e é imperdível. vejam mesmo, carago, IMPERDÍVEL!

23/08/10

A Capital Mundial da Bola, por Zôzimo

Finalmente fiquei a perceber o quadro futebolístico do Brasil. Já tinha estado duas vezes no país irmão, mas no Nordeste o futebol pareceu-me ser uma coisa distante... Só agora, que passei férias no estado do Rio de Janeiro (incluindo a cidade maravilhosa) fiquei inteirado acerca da geo-política futebolística do país irmão. Percebi agora, por exemplo, porque é que o Fluminense é conhecido como o «pó de arroz». O Fluminense é o clube aristocrático do Rio, uma espécie de Zbordem do Brasil com adeptos que têm a mania que são finos e diferentes mas que são tão fanáticos como quaisquer outros. Ora na sua história as elites tricolores não admitiam jogadores negros no clube. Até que em 1914, Carlos Alberto (não o craque dos anos 70), recém contratado, tentou esconder a pele negra passando pó de arroz pelo corpo com medo dos aristocráticos tricolores. Durante a jogo o suor desfez o disfarce e a torcida começou a gritar «pó de arroz». E pó de arroz ficou!

Os grandes clubes cariocas são o Flamengo (o clube brasileiro com mais adeptos), O Fluminense, o Vasco da Gama (como o nome indica, o clube dos Portugueses) e o Botafogo. Entre todos estes clubes há uma rivalidade insana mas o ódio comum a todos é o Flamengo que é detestado em graus iguais pelos adeptos dos outros três.

O Flamengo, clube do povo e da malta da favela teve grandes nomes, como Leónidas, Zagallo, Júnior, Zico, Bebeto, Romário ou, mais recentemente, Adriano. Já o Flu conta na sua história com figuras como Didi, Félix, Rivelino e Edinho. O craque actual é o argentino Conca, mas o Deco acabou de chegar... Quanto ao Vasco conta nos seus ídolos, o imortal Bellini cuja estátua está no Maracanã, Vavá e Tostão. O actual presidente é o mítico Roberto Dinamite, esse mesmo que se lesionou antes do Mundial de Espanha, abrindo a vaga de ponta de lança para o coxo do Sérginho, uma nódoa na melhor equipa brasileira que eu já vi jogar, o escrete de 82. Quanto ao Botafogo conta com nomes como Didi, Jairzinho, Dirceu, Gérson e o fabuloso Mané Garrincha. Garrincha foi o maior futebolista brasileiro depois de Pelé. Embora muita gente o considere melhor que o próprio Pelé. Mané foi uma espécie de forrest gump carioca, ingénuo como o personagem do filme. Conta-se que em pleno Mundial de 62, quando o Brasil bateu, nas eliminatórias, uma poderosa Inglaterra por 3 a 1, com uma grande exibição do Mané foi-lhe perguntado no fim do jogo o que é que ele tinha achado dos ingleses. Ao que ele respondeu que «os caras com a camisola igual ao xpto da Zona Norte eram bem mais fracos que as equipas que disputavam o campeonato local carioca!" E isto não era gozo - o Mané não decorara mesmo os nomes de algumas equipas que defrontara no Mundial. Talvez por causa dele, eu tenho uma especial simpatia pelo Botafogo...

Mas o meu clube de coração no Brasil é mesmo o Santos, do estado de S. Paulo, o time do rei Pelé. O Santos é o clube da molecada, do futebol romântico de que eu tanto gosto, o clube irmão do actual Barcelona, dos galácticos do Real Madrid ou da Holanda de Cruijjf. Foi lá que jogaram Carlos Alberto, Clodoaldo e Zito,além de Pelé... Actualmente o clube vive um grande momento. Tem um ataque do outro mundo, o famoso «quarteto santástico» com Robinho, Neymar, Ganso e André, mais dois médios de alta rotação, o trinco Arouca e Wesley (que o Benfica deixou escapar) e uma boa defesa com um excelente lateral direito, Pará. Destes todos, Robinho, Wesley e André já saíram, mas que não haja dúvidas, o futuro do futebol brasileiro passa por estes «meninos»...

Bem, eu podia ainda falar no S. Paulo, no Corintians, no Palmeiras ou no Cruzeiro (de Belo Horizonte). E ainda há o Atlético Mineiro (de Minas Gerais) e os fortíssimos clubes do Sul, o Internacional e o Grémio ambos de Portalegre... Ficam para a próxima.

18/08/10

Se a educação sai cara, experimentem a ignorância, por Ingenheiro Independente

Um indivíduo como zé socas que tira um pseudo-curso numa universidade esquisita, nas condições em que se sabe, só podia odiar a educação, a formação, as escolas. Quem tira «cursos» como ele está, no mínimo, a gozar com o esforço e a dedicação de quem trabalha e se dedica arduamente durante anos e anos a conseguir uma licenciatura séria. Nunca foi estranho, por isso, o ódio visceral que este enganador dedicou aos professores e à educação de um modo geral. Não se estranha que uma das pedras angulares da «pensamento educativo» do seu governo seja o fecho desmiolado de escolas por esse interior adentro. Confere!

Mas mesmo não se estranhando, percebendo-se até o desprezo que socas e sus muchachos têm pela educação, ainda assim, é chocante o volume avassalador das escolas fechadas por este governo. Já nem é a medida em si (ok, pode discutir-se se o decréscimo de população justifica ou não ou fecho de algumas escolas)- é a sua desproporção, é a sua dimensão gigantesca, sideral, mastodôntica... 1056 escolas encerradas por este governo! É um número impressionante. Experimentei fazer um post só com a cópia das listas de escolas fechadas e acabei por desistir porque essa lista desactualizava as últimas páginas do blog! Experimentem dar uma olhada aqui para terem uma noção da imensidão desta aberração:http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/lista-de-todas-as-escolas-que-vao-fechar-concelho-a-concelho. É incrível!

Quantas escolas ainda existem em Portugal? Com quantos alunos por turma? Se todos os alunos, no futuro, tirarem cursos como o zé socas, também, realmente, não precisamos de tantas escolas - passamos uns papéis uns aos outros a dizer que somos ingenheiros e advogados e doutores e prontos! Mas, realmente,não se pode fechar impunemente tanta escola sem que isto constitua uma profunda revolução com impactos notórios na vida das pessoas.E, obviamente, medidas destas não facilitam a vida a ninguém nem contribuem para o combate à desertificação acelerada do país. Triste marca da passagem do ingenheiro do curso saído no Omo: a destruição das nossas escolas! Este país e os papalvos que votam no pê esse como quem vota no Benfica ou no Sporting - porque são do pê esse desde pequeninos- têm o que merecem. Mas os outros, as vítimas dessa turba de fanáticos acéfalos do xuxialismo, esses é que não tinham que gramar isto!

13/08/10

Who the Fuck is Bebé? ou de Como é Árdua a Vida de Olheiro, por Mr. Magoo

Toda a comunicação social pasmou - Bebé, jovem jogador de futebol recentemente transferido do Estrela da Amadora para o Guimarães por 50 000 euros foi agora comprado pelos milionários do Manchester United ao clube do Minho por 9 milhões de euros!

Bebé? Depois de um Nani só faltava agora um Bebé... Mas o Manchester quer fazer uma equipa de futebol ou uma família? Para o puto, oriundo da Casa do gaiato e ex internacional português na categoria de «futebol de rua(!)», foi a realização de um conto de fadas. O Manchester já disse que ele jogará na primeira equipa e isto sem nunca se ter estreado na nosso campeonato maior...

Parece que os olheiros dos clubes portugueses, sempre tão atentos a novos valores sul americanos, estiveram a dormir no caso do Bebé. Parece e é, não há duas interpretações. Acontece que, como quase todo o portuga que gosta de bola, eu tenho uma mania particular que é a de achar que daria um excelente olheiro. Costumo ver jogos de camadas jovens e acho que ganhava um dinheirão a aconselhar jovens jogadores aos nossos clubes. Mas pelos vistos, o ofício de olheiro não é tão fácil como me parecia - eu já tinha visto o Bebé a jogar e não reparei que estava ali um craque. Chumbei! Mas também não tive uma nota assim tão baixa porque, de qualquer modo, já tinha reparado nele.

Vi o Bebé em acção quando ele ainda alinhava pela equipa de juniores do Loures que disputava a segunda divisão do campeonato nacional de juniores em 2007-08, por sinal uma excelente equipa... Dessa equipa marquei na minha agenda mental quatro jogadores: um lateral direito muito bom e rápido que não sei onde pára, um trinco dinamarquês, o Adilson de quem falarei mais adiante e o Bebé.

O Bebé destacava-se, desde logo, pela envergadura - já então tinha cerca de 1.90, era muito rápido e, vendo agora, corresponde ao perfil do avançado-tipo do Manchester que joga nas linhas, pela esquerda ou pela direita, e pelo meio. Rooney, Ronaldo e Tevez têm estas características, tal como, agora, Nani e Valência. No jogo que vi dele, o Bebé demoliu o defesa esquerda da equipa adversária que teve de ser substituído. E ainda marcou um golo... No entanto não me impressionou por aí além. Por duas razões:

Em primeiro lugar porque, com aquela envergadura, eu parti do princípio que ele era júnior de segundo ano ou pior, que teria a idade falsificada; mas vejo agora que não - aquele atleta supersónico de 1.90 tinha, afinal, na altura em que o vi, apenas 17 anos. Ou seja ainda era júnior no ano seguinte! Qualquer olheiro profissional que verificasse a idade dele não podia ter deixado de o assinalar. A minha observação não levou em conta a sua idade...

Mas a segunda razão foi a mais importante e chamava-se Adilson. O Adilson era o melhor jogador dessa equipe do Loures. Era o criativo, o número 10, um neguinho com uma técnica apuradíssima com os dois pés e uma velocidade de execução notável. Um craque! Eu costumava ver os jogos com um olheiro amador de uma equipa da primeira divisão que concordou comigo - os outros três eram bons e mereciam ser referenciados, mas o Adilson não enganava. Depois vim a saber que esse meu amigo olheiro tinha indicado o Adilson ao seu clube, mas que este não se tinha interessado porque ele já estava no seu segundo ano de júnior... Mas voltando ao que interessa, o brilho do Adilson ofuscara o do Bebé que, assim, me passou mais ou menos ao lado. Nunca serei um olheiro de jeito, fónix...

Curiosamente, a Bola de hoje, na reportagem que traz sobre o percurso do Bebé, faz uma micro entrevista ao Adilson. Ele diz, exactamente, que era ele o craque da equipa - o que é verdade - mas que não se esforçou o suficiente para chegar longe, ao contrário do Bebé que parece ser um trabalhador humilde e incansável. De qualquer modo, como o Adilson deve ter agora 21 anos apostaria que ainda está muito a tempo de ir longe no futebol. Se eu fosse dirigente de uma equipa a sério não teria dúvida nenhuma em dar-lhe uma oportunidade - com 21 anos não pode ter desaprendido de jogar e se o Bebé está onde está, este miúdo também pode ir, ao menos, até a uma equipa média da nossa primeira liga. E já agora, por onde andarão o trinco dinamarquês e o excelente lateral direito da equipe de Juniores do Loures 2007-08? Parece que os olheiros deste país estão todos de férias no Brasil...

Murãgus dassucar é ké!, por Cão

Quão mais gigantesca a crise social, mais fervilham de in(s)anidade os anões que a encadeiam. Veja-se agora o caso do fim das “repetências” no “Ensino”. A tia Alçada, malogranda sucessora da malograda comadre Milu na desventura de um ministério a que só por macambúzia e cabisbaixa piada podemos designar por “da Educação”, não cede – e as nano-inanidades sucedem-se em catadupa.

A miudagem já podia insultar (e insultava) e bater (e batia) nos professores. Já podia faltar às aulas quanto quisesse. Agora, é proibido que chumbem, mesmo que (ou por causa de) não saibam nada de nadinha de népias de nicles. Quer dizer que a criancinha vai conseguir ser catedrática de uma bolonhice qualquer no máximo aos 25 anos de idade. Isto é tudo os anões a segregar mais anões. As insanidades a babar mais inanidades. A desvergonha a rimar com Bolonha.

Tenho uma proposta para remediar a nossa agrura: que passemos a tratar o tal Ministério (dito) da Educação por Ministério dos Morangos de Açúcar. Julgo que nos tiraríamos todos do sério – e prontos, tàzaver, é-assim.

Entretanto, entrámos já no mês-pimba por excelência. Agosto é quando o cheiro da sardinha assada entra pela igreja adentro, é quando os casamentos ajuntam garrafões a moçoilas vermelhuscas que se ajuntaram, para emprenhar ou por haver emprenhado, a rapazolas atordoados pelo martini com cerveja e pela corrente da motorizada, é quando os autarcas arregaçam as camisas e vão receber as hordas de motards às praias fluviais das parvónias, é quando as avós morrem do flato e os avôs de melancolia, é quando eu suspiro pela dour’outonalidade de Setembro, mês que não é já, porém, o do regresso à Escola, mas à TVI em que o desventurado Ensino se tornou.

10/08/10

Crítica de Mirantes, por Astronauta

Ainda se lembram da Expo 98? Foi um ano eufórico e não houve português que por lá não tivesse passado. Eu também, claro. Houve vários pavilhões que foram para mim inesquecíveis - o da Croácia que propunha uma viagem panorâmica sobre Dubrovnik, o da Turquia com uma barca antiga belíssima e mais uns quantos. Mas de todos os pavilhões que vi na Expo houve um que me marcou para sempre - o pavilhão do Brasil.

Se bem se recordam, o pavilhão do Brasil não tinha nada de especial do ponto de vista técnico. Havia na Expo muitos pavilhões muito melhores pensados e executados. Mas o pavilhão do Brasil tinha um tesouro que nenhum outro tinha - uma vista panorâmica dos vários pontos do Rio de Janeiro que se podem avistar do alto do Pão de Açucar. De facto, com uma beleza tão deslumbrante nem era necessário ser criativo. As paisagens do Rio visto do Pão de Açúcar -apenas isso e, em consequência, o pavilhão do Brasil foi, para mim, o mais inesquecível que vi na Expo 98. Lembro-me de ter pensado, na altura, que não podia morrer sem ir ao Rio, sem viver aqueles cenários fantásticos ao vivo. Pois bem, na semana passada eu concretizei esse sonho e vi o Rio de Janeiro do alto do morro do Pão de Açúcar.

Só se sobe ao Pão de Açúcar de bondinho que é aquela cabine envridaçada sustentada e movida por uns cabos que parecem rídiculos vistos de cá de baixo. Parece que aqueilo se vai desatar e que os Bondi se vão espatifar cá em baixo. Mas a promessa daquelas paisagens obriga-nos a arriscar e é verdade que mal o bondinho começa a subir o deslumbramento que nos envolve não nos deixa sentir medo.

Antes de chegar ao Pão de Açúcar, propriamente dito, faz-se escala num outro morro (o da Urca). As vistas da cidade a descer os os montes como se fosse uma onda viva a procurar o mar, a praia de Botafogo com os barcos lá em baixo num mar brilhante batido pelo sol, Niterói no outro lado da Baía de Guanabara já são deslumbrantes na Urca e eu pensei que nunca tinha visto nada assim. Mas estava enganado! Aquilo era só metade do que eu tinha para ver.

Quando se passa da Urca para o Pão de Açúcar a sensação de deslumbramento é total. Chegado aqui eu não tenho palavras para descrever o que senti - aquilo é Sublime. Sublime à maneira Kantiana - Kant falava do Sublime como uma categoria que envolvia a Grandeza ( e nesse sentido uma flor pode ser bela mas não Sublime ao passo que o Pão de Açúcar é Sublime e não apenas Belo) e do efeito que essa grandeza faz no homem. O sublime é paradoxal porque ao mesmo tempo que implica a grandeza essa grandeza é sintoma da nossa finitude. Ele é a marca da limitação da nossa capacidade sensorial - é um sintoma da nossa pequenez e da nossa limitação, mas ao mesmo tempo de algo grandioso que podemos, indelevelmente, pressentir. Portanto, ao viver o sentimento do Sublime, eu experiencio simultaneamente a minha pequenez e a imensidão do Mundo. Kant nunca saiu da sua cidade natal de Heidelberg, mas mais parece, que esteve no Rio, quando desenvolveu estas ideias.

Do Pão de Açúcar vê-se Copacabana, Ipanema e Leblon, tanto mar!, o forte de S. João, de novo Niterói, pequenino, a floresta da Tijuca, a imensa Baía de Guanabara, o céu azul, radioso, as praias de Botafogo e de Flamengo, agora mais pequenas, as aves, os aviões, a cidade viva espreguiçando-se ao longo dos morros, as favelas que até parecem belas, o Corcovado e o Cristo Rei escondido nas nuvens baixas, do Pão de Açúcar vê-se o Sublime...

Aquilo que senti no alto daquela morro fez-me lembrar uma passagem do filme do Robert Zemeckis, Contacto. Precisamente, a parte em que a Jodie Foster viaja na máquina extra terrestre e em que lhe é mostrado o universo. Apenas um vislumbre. Ela vê mundos deslumbrantes com vários sóis, túneis espaciais que dão para outros universos, as luzes de civilizações muito mais avançadas que a nossa, estrelas e planetas e uma pequena imensa parte da vastidão do Cosmos. Ela fica sem palavras e diz que deviam ter mandado um poeta porque não consegue descrever toda aquela beleza. E, finalmente, chora.

Pois bem, correndo o risco de ser gozado durante toda a vida pelos durões daqui do Tapor, o melhor que eu consigo dizer da experiência que vivi do alto do Pão de Açúcar é confessar que, como a Jodie Foster n´O Contacto, eu fiquei de tal maneira comovido que, também eu, chorei ao ver o Rio do alto do morro do Pão de Açúcar.

08/08/10


Será mais triste uma despedida triste, ou uma despedida sem tristeza?

Eu prefiro a primeira.

Definitivamente...