22/03/11

Haja memória..., por Bad


Hoje resolvi fazer um exercício. Ao ler, no Jornal de Negócios, que a Espanha está a recuperar da crise (ao mesmo tempo que Portugal caminha para a insolvência) muito graças às seguintes medidas:

1) Governantes viram salários reduzidos em 15%.
2) Reestruturação do sistema financeira.
3) Redução dos investimentos públicos.
4) Corte de 5% nos salários da função pública em Maio (ao passo que, em Portugal a medida só foi anunciada em Outubro).

Ora estes dois últimos pontos criaram-me a necessidade de fazer um exercício de memória: ir rever o debate entre José Sócrates (JS) e Manuela Ferreira Leite (MFL).

Por um lado, eu tinha ideia de uns investimentos públicos defendidos por JS e combatidos por MFL. Por outro, achava MFL dizia que Portugal estava numa situação política bastante grave e que, por isso, era necessário mudar os caminhos que JS estava a seguir. E mais, lembrava-me de ouvir JS a dizer que MFL apostava no pessimismo e o que interessava ao país era o optimismo e a confiança no futuro para se sair da crise (um argumento tão incrível que nunca mais me saiu da cabeça). Resolvi ir confirmar se tudo isto era verdade...

Frases a reter:
MFL:

“Modelo económico tem de ser alterado, porque se não o for os resultados vão ser os que têm sido com o modelo que tem sido seguido”

“Fico sempre muito preocupada quando ouço o Eng. José Sócrates dizer que não vai mudar de politica, que não vai mudar de rumo…”

“Em primeiro lugar combateu-a [a crise] tarde. Se tivesse combatido quando eu anunciei que isso ia acontecer, se tivesse seguido os nossos conselhos e as sugestões, provavelmente o país hoje não estaria da mesma forma.


JS:
Sócrates:

“Respondemos com mais investimento público: e é disso que o país precisa.”

“O que o país precisa é de uma atitude de confiança no futuro.”


Realço um diálogo interessante:
JS: Porque é que no governo defendeu a questão da alta velocidade e agora não a defende?

MFL: Exactamente o ponto em que o Eng. Sócrates falha na sua análise é considerar e não admitir que política é exactamente isso que o senhor não está a fazer. É que não pode passar de uma situação A para uma situação B completamente diferente e achar que as medidas são as mesmas e que as hipóteses são as mesmas. (…)

JS: Mas porque é que em 2003 concordava e agora não?

MFL: Porque em 2003 a situação do país não era a de hoje. O Sr. Eng. não está a ver qual é a situação de endividamento do país?

JS: Por amor de Deus… por amor de Deus…

MFL: A situação de endividamento do país HOJE é insustentável para isso. (…) O motivo pelo qual a Espanha tem tanto interesse em fazer esta linha para Portugal tem a ver com o facto de que precisa que o comboio passe a fronteira para ter a categoria de transporte transfronteiriço e aí ter mais fundos comunitários do que os que terá se ele não passar a fronteira. Eu não estou aqui para defender os interesses espanhóis. Estou aqui para defender os interesses portugueses.


E depois destes esclarecimentos (quanto a mim, lógicos - em conjunturas diferentes há que adoptar posturas diferentes), eis que JS conclui o óbvio...
JS: (…) O que eu naõ aceito é que no governo tenha afirmado em nome do meu país com outro país uma prioridade [o TGV] e que agora, apenas porque foi para a oposição, diga o contrário do que disse no governo. Isso desculpe, mas eu não posso aceitar.

Digo eu: perante a explicação de MFL concluir isto... se não é má fé vou ali e já venho.


Mas há mais:
JS:

Houve uma altura em que nós precisámos de pedir um esforço aos portugueses para por as contas públicas em ordem, mas os portugueses também sabem que nós conseguimos atingir o nosso objectivo, que tivemos o défice menor da democracia portuguesa e que estamos agora preparados para responder aos desafios da crise internacional.

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