05/07/11

Crónica de Madrid 1, por Galo

Este fim de semana fomos a Madrid. Lá chegados, ainda de carro, vimos um indivíduo que vestia umas cuecas e uns suspensórios e calçava umas botas. Mais nada. Comentámos que a fauna nas grandes cidades era uma coisa do caraças. Mais à frente vimos grupos de mulheres bonitas com vestidos vaporosos. Depois vimos um diabo. Mais à frente dois anjinhos de mãos dadas. Comentámos que Madrid estava muito à frente desde a última vez em que qualquer um de nós ali tinha estado. Depois demos com a primeira rua cortada pela polícia. Depois com a segunda. Terceira, quarta. Começámos a desesperar (entretanto víamos agora bandos de drag queens. E um cow boy de collants). Mas só quando avistámos, ao longe, a plaza del sol completamente inundada por uma multidão impressionante e por bandeiras do arco íris é que percebemos o que estava a acontecer. Madrid estava literalmente sitiada por uma parada gay que contou, segundo li depois, com cerca de um a dois milhões de pessoas na rua! Todas as ruas estavam cortadas e demorámos duas horas a chegar ao hotel.


O que mais chama a atenção na multidão de pessoas que, literalmente, atulhou as avenidas, as praças e as ruas madrilenas, não é a sua identidade homossexual. É verdade que se vêm grupos de indivíduos depilados e musculados de t shirts apertadinhas a fazerem peitaça e pares incontáveis de barbudos a beijarem-se na boca. Mas, se observarmos bem, o traço identitário mais marcante daquela gente não é a sua homossexualidade mas a sua promiscuidade. Não uso esta palavra em sentido pejorativo: ela traduz um facto, o da mistura, o vale tudo, independentemente do seu sexo, do seu número, do que quer que seja. Porque não vemos só gays e lésbicas, vemos muitos heterossexuais, travestis, bissexuais e outras faunas. E, sobretudo, vemos grupos que estão claramente envolvidos, três mulheres meio nuas de mãos dadas, multidões venezianas que caminham para o mesmo baile de máscaras, grupos de homens e de mulheres autenticamente engalfinhados nos passeios. Talvez fosse mais correcto mudarem o nome: parada do vale tudo em vez de parada gay.

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