11/07/11

Crónicas de Madrid 4, por Valderrama

No Thyssen revi como emoção este Cidade Velha de Egon Schiele. Este é um quadro notável. Acho-o profundamente humano e isso não tem só a ver com as suas qualidades intrínsecas. Acontece que o associo a uma cena comovente que uma vez aqui presenciei e que se acrescentou para sempre à minha memória deste quadro.

Foi há uns anos, eu estava sentado a observá-lo e eis que uma jovem e um casal dos seus 60 anos se aproximam. Inicialmente foi a rapariga que ficou a olhar o quadro com uma expressão feliz. Depois fica muito comovida e chama o casal, dizem qualquer coisa numa língua incompreensível e ficam os três durante uns momentos defronte da Cidade Velha de Schiele. Via-se que estavam claramente emocionados. Chegaram a chorar mas foram lágrimas que não me pareceram desesperadas, foi mais uma coisa nostálgica, como quando recordamos alguém, um amigo ou um familiar que perdemos.

Estamos habituados a emocionarmo-nos (até às lágrimas, por vezes) com uma música, um filme ou um romance. Mas não é tão comum que alguém chegue ao pé de um quadro e fique primeiro numa espécie de estado de contentamento que depois se resolve em lágrimas.Ainda hoje não posso ver A Cidade Velha sem me lembrar do poder que esta pintura exerceu sobre aquelas pessoas, quase como se o quadro fosse um reencontro ou uma porta da qual só eles possuíam a chave. É um dos meus preferidos do Thyssen e voltei outra vez a ficar fascinado a olhar para ele e a pensar naquela misteriosa família (os avós e a neta? Porque choravam? Por quem choravam? Porquê diante do quadro de Schiele?).

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