11/08/11

Cinema de Verão 1 - Ladrões de Bicicletas, por Pirlo

Fiz uma descoberta sensacional! Descobri um segundo Grunfo mas especializado em clássicos do cinema. O Grunfo é uma espécie de mediateca aqui da malta porcina, uma Fnac à borla que ainda por cima tem gosto em emprestar o material que lá tem, especilamente os livros que são muitos e bons. Agora descobri que o L., vamos chamar assim ao segundo grunfo,também tem um impulso coleccionista mas a este deu-lhe prás obras primas do cinema. Bem haja! E, portanto, estas férias fui-lhe lá a casa e saquei-lhe sacadas de filmes geniais. Vou deixando por aqui umas notazitas sobre os que vi até hoje, obrigado L. por me fazeres um gajo ainda mais feliz do que já sou. Começo por este:

Vittorio de Sica, Ladrões de bicicletas (1948). Vittorio de Sica e este seu Ladrões de Bicicletas é um bom exemplo de como os rótulos são tramados. Este filme levou com o malfadado rótulo de filme neo-realista e uma pessoa fica logo de pé atrás. «Vittorio de Sica? Ná, não gosto de neo realismo». Mas esqueçamos os rótulos e tentemos apreciar o filme apenas pelo que ele é. É excelente!

Foi num magistral documentário de Scorsese sobre o cinema italiano que LB me chamou a atenção. Scorsese adorou-o e eu também! Acho notável a simplicidade sofisticada do argumento: a forma como uma bicicleta é, para um desempregado miserável, a coisa mais valiosa do mundo comove-nos. Uma bicicleta não é nada mas para ele é condição de uma vida digna. Há aqui uma referência ao tema do fetichismo (Marcuse) próprio da sociedade capitalista e à forma como esta impõe o culto perverso dos objectos, um tópico que pode ser levado muito longe...

Mas é o lado humano do filme o que mais enternece. A relação entre o pai e o filho e o exagero sentimental que decorre da sua condição miserável, entre o ridículo e o dramático… A dupla faz lembrar um outro par adulto/criança do cinema - Chaplin e a criança. De Sica dá neste filme uma lição de como é possível andar na fronteira entre a lamúria ideológica e a pieguice sentimental sem nunca para lá resvalar. É um território muito instável e difícil, como caminhar num trapézio sem rede, mas ele consegue-o de uma forma brilhante. Outros mais recentes bem o tentaram, mas, claro, deu asneira e precipitaram-se no abismo da lamechice – falo dos insuportáveis Bellini e Tornatore, incomparavelmente ligeiros ao lado da magnitude de de Sica e deste Ladrões de Bicicletas. Sem dúvida, tarde mas a tempo, este tornou-se num dos meus filmes preferidos (obrigado mais uma vez, L., mafrende!).

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