Aqui há uns dias fomos jantar ao «Pátio», no lugar do Cabouco, concelho da Mealhada. O sável com peixinhos da horta estava bom. Vinagre no ponto de desfazer a espinha, bem frito. Comemos ainda raia frita e grelhada, cabrito assado no forno e uns bifes de vaca. Tudo bem regado. Embora não sendo uma prova oficial, concordámos que o melhor vinho foi um Quinta da Dôna 2002. Um excelente Bairrada que não parece Bairrada. Ainda mais este, que eu levei e ao qual o Valdemar da «Dom Vinho» acrescentou um «CC». Explicou que a coisa era oficiosa e servia para identificar um lote que foi submetido a um tratamento especial pelo novo proprietário da marca cujo nome, Carlos Campolargo ou coisa que o valha, ele abreviou no monograma. Recomenda-se o restaurante, o vinho e a loja de vinhos.
Serviu o jantar para que a malta do Benfica - Mangas, JP e Nini - saldasse a dívida contraída à malta portista - Grunfo e eu - e ao Pilas, um academista sem outra preferência mas que não é burro. Estávamos todos felizes e uma das razões era justamente o facto de não haver burros. Mas havia patos. Refiro-me aos confrades que apostaram que o Benfica passaria a eliminatória do Inter de Milão. Foderam-se, claro. Perderam a aposta e pagaram o jantar e, ainda por cima, voltaram a apostar para o final da Taça de Portugal. Lá terá que ser....
Um dos temas discutidos foi o futebol. E aqui, temos que falar do Vaice. O Vaice não é burro. É até brilhante em muitas matérias: filosofia, arte, música, vinho, cinema, literatura. O Vaice fala sobre tudo com cabimento e sabedoria. Quando não sabe ouve. É um regalo lê-lo, ouvi-lo, falar com ele. O Vaice é culto, inteligente, bom conversador, fala bem, escreve bem, enfim, está acima da média. E é excatamente isso que torna as coisas surpreendentes e enigmáticas. Deve ser um sindroma ou qualquer coisa esquisita. Um fenómeno, um enigma, algo de absolutamente intrigante e inexplicável. Eu já pensei se o gajo não terá dado uma queda quando era pequeno. Sei lá, a mãe distraiu-se, o Vaice escorregou da banheira e acertou com a secção inferior do parietal direito na borda da sanita, ficando irremediavelmente afectada a zona cerebral que controla os assuntos futebolísticos. Ou isso ou um mosquito, ou qualquer coisa que comeu. Não sei o quê, mas alguma coisa o gajo tem. Se eu fosse médico de família fazia-lhe um TAC. O caso é o seguinte: como é que um gajo inteligente como o Vaice pode ser tão idiota no que toca às coisas do futebol. É que o gajo não vê um boi de bola. Nada, zero, rien. E o pior é que está convencido que sabe muito. Isto torna-se desesperante. A amizade que nutrimos por ele impede-nos de, simplesmente, o ignorar. Por outro lado, os atributos que lhe reconhecemos não nos consentem que o deixemos sem resposta. Caímos então na pior das experiências: discutir futebol com ele. É que não dá. É como discutir o Orçamento Geral do Estado com a irmã Lúcia, explicar os Direitos Humanos ao Pol Pot ou levar o Santana Lopes a sério.
O Vaice acha que o actual Real Madrid é a melhor equipa de futebol que ele alguma vez viu e que o Figo está a fazer a melhor época de sempre. O leitor estava à espera de um exemplo, não estava? Ora aí está ele. Agora já acredita? Pois é verdade, foi o Vaice que afirmou isto. Nós ouvimos e não resistimos. Eu discordei e o Vaice mandou-me calar com o poderoso argumento:
- Tu 'tá mas é calado porque tu não vês os jogos, tu não tens Sporttv e não podes falar.
Posso não ter Sporttv mas isso não me retira autoridade para comentar o que se passa no Real Madrid. E o que se passa é o que toda a gente pode ver, desde que queira ver: o Real Madrid não é uma equipa de futebol, é antes um conjunto de superstars galácticas, mimadas e com dinheiro a mais. A «Marca», que não a Sporttv, escrevia que no dia em que foram derrotados pelo Mónaco e afastados da Champions League, as estrelas do Real partiram de avião privado para destinos exóticos. Outros, incluindo Figo, ficaram em Monte Carlo por certo a afogar a tristeza da eliminação em taças de champanhe, caviar, roleta e iates. Alguns dias após, levam três secos do Osasuna no Santiago Bernabéu. Eu não vejo a Sporttv, mas vi os resumos e li os jornais: Casillas frangou, Ronaldo, felizmente para ele, lesionou-se sozinho, Raul não jogou um caralho, Figo andou aos papéis e, coisa rara, teve um comportamento incorrecto, e Beckham não jogou um caralho. Aliás, o que por estes dias se discute são as amantes de Beckham. Se é uma, se são duas, se são mais, se a Posh sabe ou se não sabe e até o pai de uma das pretensas amantes veio falar ao Mundo. E vieram os advogados anunciar que vão processar os jornais. É curioso esta merda: por mais voltas que isto dê vai sempre ter aos advogados. Toda a gente se fode, o Beckham, a mulher encornada, as amantes, o pai da amante, os tablóides, o Real Madrid, o Queiroz, tudo! Tudo menos os advogados, claro. Esses facturam!
Voltando à vaca fria para dizer que a situação vivida no Real Madrid mostra bem que o Real não é uma equipa. Pode o Vaice dizer que o Real é a melhor equipa que já viu. Vale-nos de pouco isso, e, de tamanho disparate, só se pode retirar uma de duas: ou viu pouco, ou gosta simplesmente do que vê, seja bom ou seja mau, gosta sempre. Eu por mim fico imensamente satisfeito pelo colapso do Real. Nada me move contra o Real, apenas que o colapso prova que uma equipa não se faz coleccionando superstars. Se assim fosse, fazia-se um campeonato com o Abramovich, o Florentino e os outros capitalistas dos grandes clubes, sentavam-se todos à roda de uma mesa e via-se quem passava o cheque com mais zeros. Tal significaria a aquisição dos melhores jogadores e, automaticamente, a conquista dos títulos. Felizmente não é assim, e é por isso que o futebol é um jogo bonito. Nas meias-finais da Champions temos três equipas modestas, de bairro: os parolos do cabo da morte da Coruña, até há poucos anos desconhecidos e desprezados na Europa e sobretudo na própria Espanha, os do Mónaco e os do Porto. Não há cá Milan, nem Real, nem Arsenal, Marselha, Juventus, Bayern, Manchester, etc. É por isso que eu gosto muito de futebol. E não me venham dizer que esta é uma das melhores épocas de sempre do Figo. Não é, claro que não é. E não é só porque agora foram afastados de todas as competições. Já não era antes. Os adeptos e a imprensa, há já muito que, respeitando embora o Figo e tendo-o em altíssima consideração, faziam notar o seu cansaço, apatia, desinteresse, saturação. Coisa própria de quem já atingiu o cume, não tem mais motivação e espera apenas o momento para sair. Só não percebeu isto quem se agarra à Sporttv e aos comentários dos analistas lusos. Quem percebe de futebol já notara que os anos de ouro do Figo foram em Barcelona e quem, para além de perceber, gosta de futebol, acha bem que o futebol seja um jogo. Pois se o não fosse, seria necessária a intervenção divina para que o David fodesse o Golias. Como é um jogo, substitui-se a intervenção da Divina Providência pela casualidade e, principalmente, acredita-se na vitória dos pequenos pelo uso da determinação contra o ócio e apatia dos poderosos. Um Benfiquista jamais entenderá isto, pois a mentalidade benfiquista é hegemónica e totalitária. Em tese, consumar-se-á plenamente no dia em que não tiver oposição. Tal se supõe na estratégia galáctica do Real Madrid também: dominar imperialmente sobre tudo e sobre todos. Ser do Porto, rejubilar com o colapso do Real, não idolatrar nem Figos nem Beckhams são diferentes facetas daqueles que se realizam não na hegemonia mas na negação da tirania do domínio absoluto.
Serviu o jantar para que a malta do Benfica - Mangas, JP e Nini - saldasse a dívida contraída à malta portista - Grunfo e eu - e ao Pilas, um academista sem outra preferência mas que não é burro. Estávamos todos felizes e uma das razões era justamente o facto de não haver burros. Mas havia patos. Refiro-me aos confrades que apostaram que o Benfica passaria a eliminatória do Inter de Milão. Foderam-se, claro. Perderam a aposta e pagaram o jantar e, ainda por cima, voltaram a apostar para o final da Taça de Portugal. Lá terá que ser....
Um dos temas discutidos foi o futebol. E aqui, temos que falar do Vaice. O Vaice não é burro. É até brilhante em muitas matérias: filosofia, arte, música, vinho, cinema, literatura. O Vaice fala sobre tudo com cabimento e sabedoria. Quando não sabe ouve. É um regalo lê-lo, ouvi-lo, falar com ele. O Vaice é culto, inteligente, bom conversador, fala bem, escreve bem, enfim, está acima da média. E é excatamente isso que torna as coisas surpreendentes e enigmáticas. Deve ser um sindroma ou qualquer coisa esquisita. Um fenómeno, um enigma, algo de absolutamente intrigante e inexplicável. Eu já pensei se o gajo não terá dado uma queda quando era pequeno. Sei lá, a mãe distraiu-se, o Vaice escorregou da banheira e acertou com a secção inferior do parietal direito na borda da sanita, ficando irremediavelmente afectada a zona cerebral que controla os assuntos futebolísticos. Ou isso ou um mosquito, ou qualquer coisa que comeu. Não sei o quê, mas alguma coisa o gajo tem. Se eu fosse médico de família fazia-lhe um TAC. O caso é o seguinte: como é que um gajo inteligente como o Vaice pode ser tão idiota no que toca às coisas do futebol. É que o gajo não vê um boi de bola. Nada, zero, rien. E o pior é que está convencido que sabe muito. Isto torna-se desesperante. A amizade que nutrimos por ele impede-nos de, simplesmente, o ignorar. Por outro lado, os atributos que lhe reconhecemos não nos consentem que o deixemos sem resposta. Caímos então na pior das experiências: discutir futebol com ele. É que não dá. É como discutir o Orçamento Geral do Estado com a irmã Lúcia, explicar os Direitos Humanos ao Pol Pot ou levar o Santana Lopes a sério.
O Vaice acha que o actual Real Madrid é a melhor equipa de futebol que ele alguma vez viu e que o Figo está a fazer a melhor época de sempre. O leitor estava à espera de um exemplo, não estava? Ora aí está ele. Agora já acredita? Pois é verdade, foi o Vaice que afirmou isto. Nós ouvimos e não resistimos. Eu discordei e o Vaice mandou-me calar com o poderoso argumento:
- Tu 'tá mas é calado porque tu não vês os jogos, tu não tens Sporttv e não podes falar.
Posso não ter Sporttv mas isso não me retira autoridade para comentar o que se passa no Real Madrid. E o que se passa é o que toda a gente pode ver, desde que queira ver: o Real Madrid não é uma equipa de futebol, é antes um conjunto de superstars galácticas, mimadas e com dinheiro a mais. A «Marca», que não a Sporttv, escrevia que no dia em que foram derrotados pelo Mónaco e afastados da Champions League, as estrelas do Real partiram de avião privado para destinos exóticos. Outros, incluindo Figo, ficaram em Monte Carlo por certo a afogar a tristeza da eliminação em taças de champanhe, caviar, roleta e iates. Alguns dias após, levam três secos do Osasuna no Santiago Bernabéu. Eu não vejo a Sporttv, mas vi os resumos e li os jornais: Casillas frangou, Ronaldo, felizmente para ele, lesionou-se sozinho, Raul não jogou um caralho, Figo andou aos papéis e, coisa rara, teve um comportamento incorrecto, e Beckham não jogou um caralho. Aliás, o que por estes dias se discute são as amantes de Beckham. Se é uma, se são duas, se são mais, se a Posh sabe ou se não sabe e até o pai de uma das pretensas amantes veio falar ao Mundo. E vieram os advogados anunciar que vão processar os jornais. É curioso esta merda: por mais voltas que isto dê vai sempre ter aos advogados. Toda a gente se fode, o Beckham, a mulher encornada, as amantes, o pai da amante, os tablóides, o Real Madrid, o Queiroz, tudo! Tudo menos os advogados, claro. Esses facturam!
Voltando à vaca fria para dizer que a situação vivida no Real Madrid mostra bem que o Real não é uma equipa. Pode o Vaice dizer que o Real é a melhor equipa que já viu. Vale-nos de pouco isso, e, de tamanho disparate, só se pode retirar uma de duas: ou viu pouco, ou gosta simplesmente do que vê, seja bom ou seja mau, gosta sempre. Eu por mim fico imensamente satisfeito pelo colapso do Real. Nada me move contra o Real, apenas que o colapso prova que uma equipa não se faz coleccionando superstars. Se assim fosse, fazia-se um campeonato com o Abramovich, o Florentino e os outros capitalistas dos grandes clubes, sentavam-se todos à roda de uma mesa e via-se quem passava o cheque com mais zeros. Tal significaria a aquisição dos melhores jogadores e, automaticamente, a conquista dos títulos. Felizmente não é assim, e é por isso que o futebol é um jogo bonito. Nas meias-finais da Champions temos três equipas modestas, de bairro: os parolos do cabo da morte da Coruña, até há poucos anos desconhecidos e desprezados na Europa e sobretudo na própria Espanha, os do Mónaco e os do Porto. Não há cá Milan, nem Real, nem Arsenal, Marselha, Juventus, Bayern, Manchester, etc. É por isso que eu gosto muito de futebol. E não me venham dizer que esta é uma das melhores épocas de sempre do Figo. Não é, claro que não é. E não é só porque agora foram afastados de todas as competições. Já não era antes. Os adeptos e a imprensa, há já muito que, respeitando embora o Figo e tendo-o em altíssima consideração, faziam notar o seu cansaço, apatia, desinteresse, saturação. Coisa própria de quem já atingiu o cume, não tem mais motivação e espera apenas o momento para sair. Só não percebeu isto quem se agarra à Sporttv e aos comentários dos analistas lusos. Quem percebe de futebol já notara que os anos de ouro do Figo foram em Barcelona e quem, para além de perceber, gosta de futebol, acha bem que o futebol seja um jogo. Pois se o não fosse, seria necessária a intervenção divina para que o David fodesse o Golias. Como é um jogo, substitui-se a intervenção da Divina Providência pela casualidade e, principalmente, acredita-se na vitória dos pequenos pelo uso da determinação contra o ócio e apatia dos poderosos. Um Benfiquista jamais entenderá isto, pois a mentalidade benfiquista é hegemónica e totalitária. Em tese, consumar-se-á plenamente no dia em que não tiver oposição. Tal se supõe na estratégia galáctica do Real Madrid também: dominar imperialmente sobre tudo e sobre todos. Ser do Porto, rejubilar com o colapso do Real, não idolatrar nem Figos nem Beckhams são diferentes facetas daqueles que se realizam não na hegemonia mas na negação da tirania do domínio absoluto.
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