23/06/04

Entrevista ao Nosso Primeiro (exclusivo mundial do Porco)

O Grande Chefe confessa: «Eu acho que sim»

Por Jocta Silva das Neves i Mendez Arrazabal Supino i Joselito Antunes (com ajudantes)

Numa altura de conjuntura internacional, o Nosso Primeiro Ministro de Portugal acedeu a conversar connosco, três anos depois de solicitada a entrevista. Tivemos sorte com o timing porque calha em cima do Campeonato Europeu da Bola que, como todos alegadamente sabemos, se realiza no nosso País. Sem papas na língua, cárie nos dentes ou escorbuto nos lábios, o governante falou connosco e para o gravador no seu gabinete de trabalho, com cortinas beje debruadas a folhos azul celeste. E foi assim que aconteceu:

Pergunta: Bem, estamos aqui com o Nosso Primeiro numa entrevista exclusiva, em termos mundiais, para o Tapornumporco. Bom dia, Senhor Primeiro, o que é que acha?
Resposta: Eu acho que sim. Estou perfeitamente convicto que sim.
P: Sim senhor, estamos a gostar da sua frontalidade. Então e sobre o Europeu da Bola? O que é que pensa?
R: Bem, sobre essa matéria, já pedi aos meus assessores que estudassem aprofundadamente o dossier e estou à espera das conclusões. Sabe que estas coisas são muito demoradas.
P: Pois muito bem. E qual é a sua opinião pessoal?
R: Sobre essa matéria penso que temos possibilidades de lá chegar, e a minha mulher concorda comigo. Mas, lá está, também há possibilidades de não termos, por isso há que ser cauteloso nos prognósticos. E é como digo, quando tiver nas mãos o estudo aprofundado poderei responder com outra profundidade. Sabe que estas coisas requerem muito estudo, mas há que ser optimista, temos de ter fé, não é? Pois, eu também acho que sim. De resto, fui ontem à pastelaria ali ao lado do Governo tomar a bica e um pastelinho, e sai de lá convencidíssimo que sim, reforcei esta convicção.
P: Porquê?
R: Fundamentalmente porque o senhor do balcão, cidadão anónimo e como tal insuspeito, concordou comigo. É o pulsar do povo.
P: Concordou consigo em quê, sôtor Primeiro?
R: Nisso, precisamente, que temos todas as possibilidades de lá chegar se tivermos fé.
P: E força na verga?
R: Sim claro, isso também é fundamental.
P: Sim senhor, muito bem. Então e o que é que achou da eliminação da Bulgária?
R: Pois, lá está, são coisas da vida dos búlgaros. Mas estou a gostar muito, está a ser uma festa bonita e estou convicto que podemos lá chegar.
P: Chegar onde?
R: Lá está, é a esse tipo de questões que o estudo deve responder, mas espere aí um bocadinho… Ó Isabel, mande chamar o Chico, se faz favor…
P: Quem é o Chico?
R: É um dos meus assessores… Ó Chico, desculpe lá, vocês já chegaram à parte do Para Onde Vamos?
Chico (assessor): Já senhor Primeiro, por acaso foi logo das primeiras coisas que analisámos, a seguir ao primeiro capítulo, que tratava do De Onde Viemos. E chegámos a conclusão que devíamos ir até onde pudéssemos.
R: Está a ver? Está tudo previsto. Vamos até onde for possível. Não acha que é um bom objectivo?
P: Quem faz as perguntas sou eu. Então e quanto ao país? O que é que acha?
R: O mesmo. Que sim.
P: Que sim o quê?
R: Então, o que é que havia de ser? O mesmo, fé, força na verga e havemos de lá chegar. Não é assim Chico?
Chico (assessor): Exactamente, é precisamente isso que os nossos estudos indicam.
P: E o défice público?
R: Também há-de lá chegar, também há-de lá chegar, temos de ser pacientes. Como dizia o Custer, um bom défice é um défice morto.
P: Isso não é um bocado radical?
R: Talvez, mas eu também não sou o Custer. Seja como for, gosto mais de pastéis.
P: Ah, isso é interessante. E quais prefere?
R: Os de bacalhau.
P: Isso é bom, sim senhor. Então e filmes? Tem ido ao cinema?
R: Epá, não tenho tido tempo nenhum para essas coisas. Pergunte-me outra coisa.
P: Está bem. Já foi infiel à sua mulher? Já alguma secretária lhe fez um broche no seu gabinete?
R: Sabia que a infidelidade é um estado de espírito? Li anteontem numa revista. Quanto aos broches, não, nem pensar nisso, nego tudo, as minhas secretárias não são pagas para isso. Para tratar dessas matérias tenho assessores extremamente competentes. E quando eles estão muito ocupados com os estudos, a minha mulher faz o favor de vir cá ao gabinete de vez em quando, quando é preciso.
P: Sim senhor. E quanto ao aquecimento global?
R: Isso já acho muito mal.
P: Mas o Governo tem feito alguma coisa?
R: Então não tem?!... Muita coisa… Ó Chico, responda aqui ao senhor jornalista.
Chico (assessor): A última medida nesse sentido foi lançar um concurso público internacional para modernizar os aparelhos de ar condicionado nos gabinetes do Governo.
P: Há quem diga, no entanto, que os ares condicionados ainda estragam mais a camada de ozono. O que é que tem a responder aos críticos?
R: Quem é que diz isso? É uma calúnia infame! Ó Chico, tem de ver quem é que anda a dizer essas coisas, devem ser os sindicatos, de certeza. É só fumaça. Aliás, a prova é que ainda há pouco tempo demos um subsídio, substancial, devo sublinhar, à camada de ozono. Basta ver o PIDDAC, vem lá tudo, tim-tim por tim-tim.
P: Desvaloriza, então, as críticas.
R: Eu acho que sim.
P: Gosta de enchidos?
R: Boa pergunta. Olhe, gosto de alheiras.
P: Só?
R: De momento sim. Mas em solteiro gostava muito de chouriço de sangue.
P: E de azeitonas, gosta?
R: Claro, daquelas amargas, muito curadas, sabem?
P: Sabemos. E o que acha das dez mil visitas ao porco?
R: Ah, uma maravilha! Ainda ontem à noite comentei isso com a minha mulher e ela até comentou: "Ó Zé, mas isso é maravilhoso!". Nós concordamos em muita coisa. Eu acho que sim, definitivamente.
P: Obrigado, senhor Nosso Primeiro pela entrevista que nos concedeu. E parabéns pelas cortinas.
R: Obrigado eu.
P: De nada.
R: Ora essa.
P: Por quem sois.
R: Ó Chico, acompanhe estes senhores à porta.
P: Está então optimista?
R: Então mas isto já não acabou?
P: Sim, mas está-se aqui tão bem que pensámos que podíamos ficar mais um bocadinho a conversar consigo. Assim tipo off the record, conversa fiada e tal.
R: Ah, está bem. Ó Chico traga uns tintos aqui para estes senhores, se faz favor, daquele maduro que trouxemos do congresso.
P: Um leitãozito também marchava, se não fosse pedir muito.
R: Ora essa.
P: Por quem sois… A sua secretária é que é boa como o milho. Trata-se bem, o Nosso Primeiro! AhAhAh!
R: Foi a minha mulher que escolheu, se quiserem sirvam-se. Só não faz é broches, que a minha mulher é ciumenta.
P: Vidaço!
R: Tem que ser, é assim a vida. Então mas essa merda ainda está a gravar?
P: Não!!!
P: Então que luzinha é essa?
R: É das pilhas.
P: Ah, é que eu queria contar umas anedotas e com isso ligado não posso, não é? Ficava mal. O que é que tu achas ó Chico?
Chico (assessor): Eu acho que sim Nosso Senhor Primeiro.

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