01/07/04

Pele curta, por Cão Maniche: Caniche

Um homem ficou sem gasolina num pinhal muito ermo. Era noite alta. Não havia telemóveis. Entre as árvores, o perdido viu uma luz eléctrica. Dirigiu-se lá. Era uma casa. Bateu à porta. Um homem veio abrir. Vivia ali sozinho. Não tinha telefone. Disse o homem da casa: “O melhor é você dormir aí no sofá da sala, que de manhã logo se vê.” O visitante agradeceu a hospitalidade, mas avisou: “Mas olhe que tenho a doença da pele curta...” O da casa disse: “Homem, isso não me interessa. Você no sofá e eu na minha cama!” E pronto, lá se foram deitar.
O resto da noite foi horrível para o dono da casa. Um cheiro insuportável tornou-lhe o sono impossível. De manhãzinha, irritado e olheirento, ralhou com a visita: “Um gajo oferece a casa e você faz dela uma suinicultura ilegal, gaita!”. O hóspede respondeu: “Mas eu disse-lhe que sofria da doença da pele curta...” E o da casa: “Mas que porra de doença é essa?” E o outro: “Sabe, é que tenho a pele tão curta, que, quando fecho os olhos para dormir, abre-se-me o olho do cu...”
O leitor desculpe. Mas esta anedota, que me foi contada pelo meu máximo amigo Fernando Nabais, é o que me ocorre quando vejo uma das milhares de bandeiras nacionais ao eurovento. Por mais bandeiras que estiquem, não é possível tapar o défice, nem o esgoto a céu aberto, nem o tribunal degradado, nem a escola fechada, nem a impostura dos impostos, nem a Ribeira dos Milagres, nem o futuro.
Nem é pela bandeira ser curta. É por fecharmos os olhos.

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