18/09/06

Somos Todos Católicos?, por Constantino

Há uns meses atrás, um jornal nacionalista dinamarquês, num exercício livre de xenofobia dissimulada e (bem) consentida pelas leis ocidentais de liberdade de expressão e imprensa, publicava uma série de caricaturas que desafiava o maior tabu religioso e cultural das centenas de milhões de crentes islâmicos espalhados por todo o Mundo: dava rosto a Maomé! Todos se recordam do escândalo e das reacções dos fanáticos muçulmanos. Todos se recordam dos excessos e das pressões inimagináveis exercidas sobre o director do jornal e sobre a diplomacia dinamarquesa que se recusou (bem) a pedir desculpa, argumentando que o poder político é separado da imprensa e que a liberdade de expressão é sagrada no Ocidente. Todos se lembram das manipulações das multidões e da guerra de informação. Na altura, nos jornais e na blogosfera houve muitos que se solidarizaram com a diplomacia dinamarquesa e, retomando Kennedy, gritaram inflamados: «Somos todos dinamarqueses!»
Agora, há uns dias atrás, o papa Bento XVI proferiu uma lição numa universidade alemã onde (bem) citou um imperador bizantino para demonstrar, a propósito da recusa deste em se converter ao Islão a pretexto da violência da Jihad, como a guerra é contrária ao sentimento religioso. O papa, não tão inflexível quanto a diplomacia dinamarquesa, até porque o seu múnus assim o determina, esclareceu e pediu desculpas por eventuais ofensas. A verdade é que, apesar disso, as reacções dos fanáticos aí estão. O primeiro-ministro turco reagiu solidarizando-se com o Islão ofendido, contrariamente ao governo dinamarquês que se demarcara de tomar uma posição sobre assunto religioso, na Somália mataram uma freira italiana, na Índia queimam efígies de Bento XVI, apedrejam igrejas e manifestam-se na praça pública. «Somos todos católicos?» - pergunto eu.

foto: http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/4495835.stm

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