06/01/08

Vivemos Num Mundo São ou é Só o Meu que Pirou de Vez?, por Setanão

Às vezes pergunto-me em que espécie de mundo é que vivo e se não serei eu que estou a ficar maluco. È que já nada me espanta nem mesmo a frequência dos acontecimentos absolutamente insólitos que são o meu dia a dia. Dou um exemplo: as últimas vinte e quatro horas da minha vida. Faço uma lista singela e despretensiosa de algumas das coisas vividas por mim neste curto período de tempo. Não foram mais nem menos excêntricas do que qualquer outro dia da minha vida. Julgue quem quiser se isto é normal:

Jantei com um grupo de amigos do meu grupo de amigos mais chegado. O jantar, disseram os primeiros, ia decorrer num sítio reservado e secreto pelo que o grupo de amigos do meu grupo de amigos mais chegado entendeu que não podíamos reconhecer o caminho. «Obrigaram-nos» a vendar os olhos com panos de cozinha (!!!) e levaram-nos até lá nos próprios carros. Espero que ninguém me tenha visto a entrar para um carro com um pano de cozinha atado à cabeça…

Durante o jantar o Acúrcio contou uma história arrepiante de um seu conhecido que tinha acabado de recusar um bom emprego para Director Comercial de uma empresa com o estapafúrdio argumento de que «não pode passar recibos verdes porque assim perde o direito ao subsídio de desemprego».

De manhã fui ver um jogo de futebol de infantis, isto é, de crianças com idades compreendidas entre os 10 e os 11 anos. O jogo devia realizar-se num excelente recinto desportivo com um óptimo piso de relva sintética novinho em folha. Mas a equipa visitante que treina e joga num lamaçal dito «pelado», recusou-se a alinhar invocando que não eram visíveis as linhas de marcação apagadas pela chuva! O jogo não se realizou, a equipa da casa perdeu por falta de comparência e as crianças voltaram para casa. Segunda feira há treino no tal lamaçal e os miúdos da equipa visitante lá estarão, possivelmente com um ou outro joelho esfarrapado graças ao pelado, mas pelo menos os directores da equipa estarão contentes com as marcações impecáveis do seu campo…

Entretanto o treinador da equipa visitada chorou porque perdeu o jogo injustamente...

Depois tocou o telefone. Era o Asdrúbal a dizer que a malta estava à minha espera para irmos jogar golfe ao campo mais próximo que fica a cerca de 70 klm de minha casa. Estava um tempo do piorio, não se via um palmo à frente do nariz com tanta chuva mas o Asdrúbal insistiu que o Américo e o Abelardo tinham consultado um satélite na net que garantia «abertas» passado o tal raio de 70 klm. Fui jogar golfe. Arrancámos debaixo de uma chuva demencial. É claro que, 70 klm depois, continuava a chover copiosamente. Não podemos jogar, almoçámos e regressámos a casa 140 klm depois e mais umas pragas aos satélites da net…

E ainda o dia não acabou. Pelo meio penso que o primeiro ministro é um gajo tão medíocre como o pinto de sousa; no governo da nação que tem como pedra angular da sua política de saúde o fecho de urgências e maternidades no interior do país; nas prioridades do ministério da educação que agora resolveu embirrar com os nomes de santos das escolas públicas (valha-nos Brás de Alportel e Tiago de Compostela )… Pergunto-me a mim próprio se a minha vida é normal, se a vida de toda a gente é vagamente parecida com isto ou se eu e todas as pessoas que me rodeiam seremos inteiramente sãos da cabeça aos pés. Pensando bem, receio que não mas fico na dúvida se é só a minha vida que é assim ou se a vossa se assemelha um pouco que seja a isto…

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