A ex-senhora Borges ficou, desta forma, esmagada entre dois monstros sagrados, um aparentemente morto e outro aparentemente vivo.
E de que forma sobrou o grandioso génio de Saramago para a extasiada plateia e a deslumbrada jornalista do Público? Sobretudo com perguntas como: “Como é que Borges dizia que te queria? Explica-nos, explica-nos!”... A convidada, aparentemente, divertiu-se muito com o interesse de Saramago acerca da vida íntima do casal. E a jornalista achou que as perguntas de Saramago eram o supra-sumo da genialidade.
É óbvio que a senhora ex-Borges, além da cortesia do riso, replicou com um labirinto, à moda do defunto marido. Mas é de reter a curiosidade lúbrica do velho escritor. De facto, não deixa de ser uma dúvida inquietante: Como é que um Borges daquela envergadura pedia à esposa para lhe fazer um broche, por exemplo? Escrevia uma quadra? Improvisava uma frase enigmática a rimar com chupa-chupa? Não dizia nada e abria a braguilha, como os bebés que abrem a boca a pedir papa? Labirinto…
Ficamos, elás, sem saber como se comporta um génio literário nestas circunstâncias domésticas, porque a ex-esposa deve achar (com razão) que mais ninguém tem nada a ver com esse assunto. Mas Portugal ganhou um comunicador. Daqueles que chegam ao receptor com simplicidade e que fazem as perguntas que os simples querem ver respondidas.
2 comentários:
Tou a ver. Se fosse o Tó Pê do dário de coimbra a ousar fazer esse tipo de perguntas era um besta. Como é o saramago é um «génio». Mais vale cair em graça que ser engraçado, é lá bem verdade...
José Luiís Broche
ó pás, desculpem lá. Os louros não devem ir para o Prémio Nobel. Num País em que se dá nome de rua à mulher de um escritor, tudo é possível. Se isso aconteceu com a Pilar do saramago, porque raio o homem não haveria de perguntar à mulher de outro escritor (francamente, é só o Borges)sobre a intimidade do casal?. A jornalista é que é uma grande comunicadora. E tem noção de que somos um povo simples. O que interessa a obra do Borges? Quem quer saber mais sobre o processo criativo de um dos maiores escritores do século XX? Ninguém. Eu mesma quero é saber como eram as quecas entre o Borges e a María Kodama, mulher que o escritor conheceu já cego e que era mais nova 45 anos. Isso é que é importante. Ganda jornalista. É quase tão boa como a do jornalista que perguntou ao Camané sobre o ombro do cão, numa excelente tradução da letra do Jacques Brel. Isto é lindo. E simples.
Uma gaja simplesmente simples.
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