08/05/09

Bananas, por Plátano

As Bananas quando chegaram à Europa vindas dos trópicos, constituíam à mesa dos europeus o máximo de requinte e exotismo, um símbolo absoluto de riqueza. E ao contrário do que muita gente pensa, a banana não é originária da América, mas sim da Ásia. Só que devido à grande facilidade de cultivo da planta herbácea que a dá, a coisa expandiu-se por mais de 130 países, sendo que a América é por natureza o expoente máximo da produção bananeira. Foram os portugueses que levaram a banana da Ásia para o Brasil, de onde se americanizou.

Aí na América Central e Caraíbas reinam os grandes impérios multinacionais americanos da Chiquita, Dole, Fyffes e da Del Monte que produzem e exportam o bananame em quantidade tal, que a coisa desde há décadas que se vende por aqui ao preço da uva mijona.

Gabriel Garcia Marquez revoltou-se com as bananas e berrou bem alto a miséria da exploração bananeira. O Cem Anos de Solidão bebe muito da escravidão amarela. E o Pablo Neruda nunca perdoou também aos impérios bananeiros. Embora não deixe de ser esquisito que ao ler o Canto Geral se tropece num poema intitulado United Fruits Corporation. Garcia-Marquez, Neruda, Angel Astúrias, Fuentes e outros deram-lhes com força tal, que algumas multinacionais tiveram vergonha na cara e foram obrigadas a mudar de nome. Assim onde lerem em Neruda ou Garcia-Marquez, a referência à ignóbil United Fruits, saibam que é a mesma das bananas Chiquita que vocês comem hoje.

A Banana, entre os muitos símbolos iconográficos de que se foi imbuindo ao longo dos anos, teve um que foi esquisito, que é o de estar associada à queda do muro de Berlim. Por incrível que possa parecer, a banana foi um dos factores dessa mesma queda. Os alemães de leste que à sorrelfa e com perigo de vida, viam a televisão da Alemanha Ocidental estranhavam a abundância de bananas na sociedade capitalista. Na RDA e no Leste em geral não havia bananas, a não ser à mesa do “aparelho”, da casta superior (há sempre uns porcos que são mais iguais que outros). Apesar de esclarecidos pela propaganda de leste que aquilo era pura propaganda do oeste, certo é que a malta perdia por completo o norte com a abundância de bananas vindas do sul.

Quando caiu o vergonhoso muro, a Alemanha Ocidental resolveu dar uma oferta de boas-vindas a todos os irmãos da RDA na forma de um pequeno valor em capital da ordem dos 100 a 150€ pessoa. E foi ver as gentes do leste a correrem às frutarias e supermercados e a afogarem-se em bananas. Para eles, era a ascensão ao Olimpo, ao néctar dos deuses que lhes estava a ser negado à décadas. Haja bananas, haja fartura.

E termino com uma coisa verdadeira. E digo verdadeira, porque de tão esquisita que é, vocês podem pensar que é galga. Não é. É verdade, verdadinha e quem não acreditar que diga, que eu vendo bilhetes. É que eu tenho um amigo que tira o caroço às bananas! Já era mau e vinham as empregadas todas ver, quando ele armado em cirurgião tirava as espinhas aos peixinhos do rio torrados, pior ainda quando insistia e insiste em descascar os morangos com faca e garfo, mas o cúmulo do requinte circense é com as bananas. Quando vem o caroço bananeiro para a mesa, o verdadeiro artista pega de faca e garfo e longitudinalmente corta o bicho em quatro partes, e em cruz, com o centro virado para cima. Depois segurando com o garfo o talo tenrinho, o cirurgião corta com a faca e retira para o lado a película de 2 ou três milímetros que a banana tem no centro. Aquela coisinha mais escura com grainhas microscópicas. É um espectáculo digno de reis. E eu tenho bilhetes.

3 comentários:

britannicus disse...

Ora muito bem, mais uma posta de postada sobre a vária fruta! Desta feita sobre a banana e a pedir uma banda sonora a preceito.E que tal El Cid e o seu atemporal cometimento musical "como o macaco gosta de banana"?! Uma incompreendida canção sobre macacos e bananas que, apesar de reproches vários e do enjeitamento do próprio cometedor, não deixa de ter a densidade primatológica de um paper sobre a etologia da rapaziada. Ora vede. Nem o Konrad Lorenz! Nem a Dian Fossey!

JOSE CID COMO O MACACO GOSTA DE BANANA [NOVA VERSãO] LYRICS

A minha palmeira é muito porreira, eu sei.
Mas no meu deserto você foi o oásis que achei.
Você fica louquinha quando eu descasco a banana.
Ficas tão tontinha que a tua cauda abana.

Como o macaco gosta de banana eu gosto de você.
Botei a penca debaixo da cama pra depois comer.
Minha macaca Xita que bacana,
o teu focinho é que não me engana.
Pois se a macaca gosta de banana você gosta de mim.
(de banana!)
Como o macaco gosta de banana eu gosto de ti.

Minha macaquinha vem dançar comigo um twist.
Bem agarradinha, desse jeito ninguém resisti.
Um orangotango transformou um Tango num Rock.
É a nova moda que aqui na selva colou.

Como o macaco gosta de banana eu gosto de você.
Botei a penca debaixo da cama pra depois comer.
Minha macaca Xita que bacana,
o teu focinho é que não me engana.
Pois se a macaca gosta de banana você gosta de mim.
(de banana!)
Como o macaco gosta de banana eu gosto de ti.

Como o macaco gosta de banana eu gosto de você.
Botei a penca debaixo da cama pra depois comer.
Minha macaca Xita que bacana,
o teu focinho é que não me engana.
Pois se a macaca gosta de banana você gosta de mim.
(de banana!)
Como o macaco gosta de banana,
Como o macaco gosta de banana,
Como o macaco gosta de banana eu gosto de ti.

britannicus disse...

Tal como para o teu amigo,também para mim fruta sem caraço é como gaja despeitada: ela não tem mas a gente procura sempre.

britannicus disse...

É pázinho, já me esquecia!
O teu amigo tem que ler o testemunho dado pelo escritor brasileiro Moacyr Scliar no Corrente D`Escritas sobre a aventura migrante do pai no Brasil.

Aqui vai!

« E Moacyr continua, revelando detalhes: "É uma viagem longa, como vocês sabem, levava cinco semanas saindo de um porto na Alemanha", continuou o escritor para entrar no tema que lhe coube em sorte - O Medo ou o Fascínio do Desconhecido. "Eles foram no porão de um navio de carga. Uma viagem terrível que aguentavam com essa esperança de chegar ao paraíso que seria o Brasil. O meu pai devia ter dez anos quando deixou a Rússia. Era um menino magrinho quando embarcou, mas no barco passou fome, ficou pele e osso, um esqueleto."

Então o navio atracou na cidade e eles desembarcaram. Nessa época a população de Porto Alegre ia assistir à chegada dos europeus e um gaúcho percebeu que o pai de Moacyr tinha fome e ofereceu-lhe uma banana. "Ele imaginou que era uma coisa para comer. Mas não tinha sido treinado para comer banana e, como não falava português, ficou com perplexidade a mexer na banana. Até descobrir que dava para descascar a banana."

"É que ele sabia que a laranja se descascava, porque na Rússia nos dias de aniversário costumava haver uma laranja para distribuir pela família inteira, um gomo para cada um, e ele sabia que, na laranja, havia a casca e os caroços. E ao descascar a banana apareceu uma coisa que ele pensou que era o caroço da banana. E jogou fora o caroço. Comeu a casca de banana até ao fim para surpresa do gaúcho." »