02/10/09

Bolonha: Andam-nos a Roubar as Habilitações, por Espoliado

Um dos efeitos mais perversos dos acordos de Bolonha é a forma miserável como as antigas licenciaturas de quatro e cinco anos foram desvalorizadas. Como é sabido, as licenciaturas actuais passaram a ter a duração de três anos. Mais dois anos e o licenciado é Mestre.
Ora, antes de Bolonha, uma licenciatura durava quatro anos e nalguns cursos cinco, como por exemplo, nos cursos de letras que incluíam um ano terminal de formação psico-pedagógica, findo o qual se entrava em estágio. Seis ao todo, portanto.

É pois evidente que há uma desvalorização destas formações. Não creio que o caminho seja o de negar a licenciatura aos actuais estudantes que frequentam os actuais currículos de apenas três anos. Mas parece-me de meridiano bom senso equiparar as licenciaturas anteriores a Bolonha ao grau de Mestre. Não se trata de passar à frente dos actuais estudantes: ao fim e ao cabo, eles acabam por fazer os mesmos cinco, seis anos que os outros, só que, nesse caso, já saem com o título de Mestre. É só uma questão de repôr para os outros a mesma habilitação.

Parece-me, pois, pelas mesmas razões, que os mestrados tirados no regime anterior a Bolonha deviam ser, imediatamente, equiparados ao grau de Doutor. Esses mestrados - pelo menos os que conheço, tirados no fim dos anos 80 - eram feitos depois de cursos de 4 anos (licenciatura), mais um de psico-pedagógicas e outro de estágio. Ou seja, depois de 6 anos de trabalho, fazia-se então o mestrado que ocupava ainda mais dois anos - a componente curricular com aulas efectivas. Só após o aproveitamento na parte curricular de mestrado ( e havia muito quem chumbasse) é que se podia começar a preparar a tese final, sob orientação de um especialista. Havia então um prazo de três anos para preparar a tese, embora se pudesse apresentar apenas em mais um ano. Três era o limite.

Resumindo: para se sair com o grau de Mestre era necessário, dependendo dos cursos:
- quatro anos de licenciatura;
- um de formação psico-pedagógica;
- um de estágio profissional;
- dois anos de aulas de mestrado (parte curricular);
- um mínimo de um e um máximo de três para apresentar e defender a tese final.
Total: 9 anos no mínimo e 11 no máximo!

Só então se obtinha o título de Mestre. Hoje nem os doutoramente exigem um percurso tão duro, conheço mesmo casos em que se passa da licenciatura para o doutoramento sem passar pelo mestrado...

É, portanto, de elementar justiça que as correspondências sejam efectuadas: um Licenciado no regime que descrevo no post, deve ser equiparado a Mestre; e um Mestre a Doutor. Não se trata de tirar a quem estuda hoje aquilo a que tem direito, mas de conferir aos outros a equivalência das suas habilitações na actual era bolonhesa.

Num país em que o exemplo da «licenciatura» do primeiro ministro é um escândalo que dá do esforço de vidas inteiras dedicadas ao estudo e ao trabalho académico uma imagem pífia, creio que esta luta ganha ainda mais sentido. Devíam, todos os que são lesados com esta aberração, organizarem-se e exigirem aquilo a que têm direito: o reconhecimento académico devido! Para quem não foi bafejado com a sorte de lhe sair uma licenciatura no Omo, isto é muito importante!

P.S. - O pic refere-se a uma das famigeradas queimas de livros dos nazis. Embora os responsáveis pela situação de que falo no post não sejam nazis, bem se pode dizer que o não reconhecimento das habilitações é uma verdadeira queima de todos os muitos livros, saberes e competências que foram adquiridos mas que não são, presentemente, reconhecidos.

4 comentários:

Anónimo disse...

ó meu amigo não tens que te queixar. queres ser engenheiro?

Anónimo disse...

tu deves ser advogado, espécie esquisita

ornitorrinco

Anónimo disse...

antes isso que professor de ginástica, ou enfermeiro, ou pior, engenheiro

Anónimo disse...

Para se ser Mestre era preciso:
- quatro anos de licenciatura;
- dois anos de aulas de mestrado (parte curricular);
- um mínimo de um e um máximo de três para apresentar e defender a tese final.
O que se diz no post são condições particulares. A essência do Mestrado (que é o que trata o post) é esta formulação e não a outra. O que não invalida que concorde com o post: estamos a ser roubados

Oráculo de Delfos