16/12/09

A Tartaruga Supersónica, por J. Coelho

Hoje foi um dia especial! Porque foi a primeira vez, desde a última legislatura do ingenheiro, que um xuxialista, no caso o lopes da mota, se demitiu depois de um escândalo evidente. O ingenheiro não o fez depois do caso da licenciatura, nem das casinhas, nem da casa de luxo a metade do preço, nem da cova da beira, nem do fripó, nem da face oculta (uff, não há fôlego para tanta «campanha negra»); o armando não o fez depois do salto à vara (limitou-se a pedir uma «supensão» ou coisa parecida, mantendo os seus generosos vencimentos; o penedos não o fez, etc, etc, etc... Prontos, para abreviar, os xuxas inauguraram um desgraçado hábito político e ético que consiste em não assumirem as suas responsabilidades, mesmo quando as evidências são tão fortes que até fedem... Ora o lopes da mota, depois de muitos e muitos meses de vagarosa reflexão, conseguiu, enfim, chegar à conclusão óbvia: a de que não tinha o mínimo de condições para ocupar o cargo que ocupava, depois do que fez!

É claro que, para chegar a esta brilhante conclusão, precisou da ajuda inestimável da condenação que considerou provado que ele fez pressões intencionalmente sobre os magistrados do MP que investigam o caso fripó. Mas mesmo assim é de enaltecer a sua atitude. É que, comparado com a agilidade dos seus colegas xuxas, a sua velocidade - de tartaruga - é verdadeiramente supersónica.

No entanto, ainda me sobram algumas singelas questões acerca deste caso, como, por exemplo:
1. A moldura penal. 30 dias de suspensão por uma pressão num caso com esta relevância, importância social, ética e económica, parece-me uma paródia. Isto mais parece o conselho disciplinar de turma D que pune o menino zequinha com uns dias de suspensão. Se está provado que o homem fez o que fez, a punição não deveria ser muito, mas muuuito, maior?

2. Como é que um indivíduo que se presta a um papel tão infame como este foi indigitado por um partido político - o dos xuxas - para um cargo tão importante? Engaram-se? Querem ver que os nosso altos magistrados são nomeados pelo governo não pela sua competência mas por outros critérios mais sombrios? Não quero acreditar...

3. Afinal quem é que mandou o mota fazer tais pressões? Foi iniciativa pessoal dele? Ou cumpriu ordens de alguém? Se foi mandado quem éque, afinal, o mandou? E com que objectivo?

4. Se foi iniciativa pessoal dele, como é que se compreende que os xuxas, o governo e o ingenheiro nunca tenham vindo pedir-lhe satisfações, antes pelo contrário, ainda o defendam e enalteçam?

5. Apesar da punição, como é que, cito, «O Governo Português manifesta o seu reconhecimento pelos relevantes serviços prestados ao país no desempenho do cargo que agora cessa»? Então o homem faz uma coisa dessas e ainda é gabado? Note-se que esta é a postura xuxa padrão relativamente a outros casos, como o Face Oculta: nem uma palavra de condenação sobre eventuais actos de corrupção, antes a defesa dos arguidos, pretensamente inocentes e vitímas de sinuosas cabalas. Críticas, só aos magistrados...

6. E, finalmente, o que é que vai ser de Lopes da Mota, tadinho? Vai voltar para a santa terrinha e abrir uma mercearia de bairro? Ou vai ser recompensado com um alto cargo, como se nada disto se tivesse passado? Espero para ver e aceitam-se apostas...

2 comentários:

britannicus disse...

Quem são estas criaturinhas togadas que vivem em conúbio com a parentela política, tu cá, tu lá, tá lá, tá lá? Antigamente, havia uns magistrados que biscatavam o seu magistério pelos Conselhos Disciplinares da Liga e pelas Assembleias dos Clubes a judiciar as trampolinices risíveis dos futeboys, e sempre me pareceram criaturas parodiais (ainda há?). Quando via algum em entrevista pós-prandial - veemente no verbo, enxundioso e fremente na papada - a arengar, judicioso, sobre as minúcias inextricáveis do arbítrio dos futeboys, levava a mão dextra à fronte, benzia-me, e num comenos lembrava-me dos corregedores e juízes de fora do Camilo, que se deixavam peitar por uns peitos de perdiz estufados ou por algum capão assado, comidos à sombra de uma pérgola ou caramanchão.
Estamos na mesma coma lesma!

Anónimo disse...

Pior Brit, acho que estamos pior. a promiscuidade bolística, mesmo assim, não me parece tão grave como a promiscuidade politica...